quarta-feira, 23 de julho de 2008

A ler o meu mundo



Descobri o conceito a partir de um zapping de domingo, exercitado algures entre os meus habituais protestos contra uma programação enervantemente empobrecida. Boa ideia essa a de vestir a casa de autocolantes! Electrodomésticos; paredes; electrodomésticos; azulejos; electrodomésticos; mobília. Quanto mais eu via, mais me convencia de que era boa, a ideia. Muito boa mesmo! Perfeita para dar nova vida à minha recém-alugada kitchnet. O seu nome? Telas magnéticas na televisão, que uma pesquisa na net me conduziu a stickers, adesivos, vinil ou simplesmente autocolantes decorativos. Pelo caminho, perdi os meus planos de revitalização cozinheira, mas encontrei uma entrada em grande. Fica em minha casa e tem vista para o meu mundo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Do virtual ao real



O combinado preto, à medida de uma kitchen sem net para mais um grande electrodoméstico. A máquina de lavar na mesma cor, ajustada ao buraco à direita do lava-loiças. Igualmente escuro, o micro-ondas encerra a minha encomenda online, apenas frustrada pela inexistência de um fogão no mesmo tom. Cinco minutos depois, um telefonema da loja virtual confirma o negócio, finalizado com uma transferência bancária significativamente real. Dali a dois dias, garantiam-me, a minha tríade electrodoméstica poderia inaugurar o meu novo espaço. Senti-me levitar da realidade tipicamente portuguesa dos imprevistos, dos adiamentos e das desculpas, penosamente experimentada durante uma outra encomenda, extra-world wide web.


Mas durou pouco o meu estado de graça: exactamente os dois dias que me separavam das compras. Primeiro, a marcação da entrega. Seria de manhã por isso madruguei. Afinal seria de tarde, por isso desertei. Em seguida, a nova marcação da entrega. Seria num dos meus dias de férias, por isso confirmei. Só depois de tocarem à campainha percebi que o meu calvário pós-graça estava para durar. «Está sozinha?». Perante a evidência, o mensageiro resolve esclarecer-me: «Se não tem ninguém para colocar a encomenda dentro de casa, não posso fazer nada». 180 quilos de electrodomésticos já pagos, mas parados à porta de casa.



Telefonema após telefonema, tento decifrar a nova tendência de entregas ao domicílio, válidas apenas fora do domicílio. Em linha, alguém da DHL, empresa contratada para a entrega, quer convencer-me de que uma loja de electrodomésticos pressupõe que seja o cliente a carregar o material. Protesto, mas em vão. Resta-me recorrer à loja para pedir o enjeitado apoio, automaticamente obtido. «Entrega ao domicílio implica colocar o material dentro de casa». Finalmente!



Celebro o milagre de alguém perceber o meu português. Mas ainda era cedo. Passam outras 24 horas, dizem-me que o assunto está resolvido e que não tardaria em receber o contacto de alguém da DHL. Tudo indicava que a entrega se despacharia em breve. Engano meu! Desconfiada da falta de notícias, antecipo a ligação e sou informada de que tentaram entregar os electrodomésticos, mas não estava ninguém em casa. «Se não sabia o problema é da loja onde fez a compra!». Gasto mais uns largos euros de saldo e encontro outra versão. «A nós disseram que tentariam entregar a encomenda, e garantiram que antes disso iriam contactá-la». E tudo se deveria resumir em meia dúzia de clicks...


sexta-feira, 4 de julho de 2008

Barómetro relacional




Conhecemo-nos ou apresentam-nos. Soltamos cumprimentos convenientemente ‘clichétizados’ e convertemos empatias em conversas. Avaliamos feitios a olho, rejeitando possíveis atalhos sem grandes demoras e apalpando novos caminhos por intuição. Chegamos a percorrer anos de uma ponte que percebemos mais sólida de calendário em calendário. Basta, contudo, o menor dos deslizes para a estrutura desabar. Pouco importam as intenções e de nada valem as explicações. Por muito que desbrave novas relações, continuo sem perceber por que levamos anos a construir confianças que demoramos alguns segundos a desprezar. Ou será que a momentos de quebra involuntária de confiança se seguem momentos de consagração da confiança? Espero que a resposta seja um dos meus presentes de segunda-feira.