quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Felicidade




A cabeça acenava-me de um lado que eu não conseguia localizar. Ainda mais imperceptíveis, as pernas e os braços esgueiravam-se da minha esforçada vista. Completamente perdida, socorri-me de uma legenda materna para decifrar aquela imagem, que o pai, orgulhosamente, ia chamando de foto.




Ainda assim nada! Constatando que as minhas emoções não estavam minimamente sintonizadas com aquele pedaço de papel, dei-lhes ordem de soltura e comovi-me. Não com a ecografia que não consegui interpretar, mas com os sentimentos que fico grata por ser capaz de experimentar.



Admirando o brilho nos olhos dos pais, acompanhando a evolução harmoniosa do seu discurso, e, deslumbrando-me com as boas energias que os ligam, sinto-me cada vez mais agraciada. Pela mãe, que é minha irmã; e pelo pai, que é meu cunhado. Também por mim, que vou ganhar outro sobrinho; por toda a família, que naturalmente se quer alargada, e ainda por esta tamanha felicidade, que tudo valoriza e tudo transcende.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

W(ONDERFUL) Nights





Desgraça-me o sono mas faz-me falta. Faz-me falta aquela frequência que me regenera a segunda metade da semana, e me amortece os trabalhos forçados das quintas-feiras. Saio dali meio torta mas faz-me falta. Faz-me falta aquela batida de Géninho, capaz de agitar para longe da pista qualquer cansaço do corpo e da alma.



De tanta falta que me faz, no final dos primeiros sete dias de abstinência, sinto-me padecer de uma espécie de atrofia muscular-cerebral. Numa fase mais crónica da ressaca, chego mesmo a alucinar numa montanha-russa de solavancos, atordoados entre estados de irritação e de inquietação. É então que me auto-medico e deito o pé ao meu único desporto além-bancada: a abertura e o encerramento de pistas.




Num animado duatlo de dança, exploro nas quartas-feiras a melhor terapêutica alguma vez descoberta. Fiel à energia que alimenta o meu código genético, rendo-me à evidência de que, apesar da crise de bem bafejadas presenças, aquilo me faz muita falta. Tanta, que mesmo depois de duas noites pouco dormidas não resisti a uma proposta de última hora. «Vamos ao W?» Indiferente à entupida agenda laboral, nem hesitei na resposta: «Bora!» E lá fomos. Desta vez duas, a semana passada quatro mais um Hélder. Who's next?


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Gente sem perspectiva




A meio do jantar de terça-feira só me conseguia lembrar de uma das cenas de stand up do Jerry. Recordo-me de o ver (e de o ouvir) questionar o interesse de amizades brotadas em idade adulta. Sempre naquele registo que, reposição após reposição me mantém agarrada à série, o Jerry argumentava que, a partir de certa fase, o melhor a fazer é deixar o ciclo fechar.




Na base da alegação à Seinfeld estava um dispensável trabalho de construção, que automaticamente adaptei à minha leitura das obras da vida. Depois de anos a investir nas estruturas que amparam a nossa existência, através de ‘concursos’ ainda mais embrulhados que os públicos – quanto mais não seja pela assumida incoerência dos critérios de selecção – vale a pena lançar novas empreitadas?



Sem qualquer encolhimento de alma, a meio do jantar de terça-feira só me conseguia lembrar das distâncias planetárias que me afastavam da maioria dos outros lugares da mesa. Bem de propósito, vejo um desabafo espontâneo ser aniquilado por este comentário: «A bolsa agora está uma maravilha». Pausa para digestão.



«A bolsa?», interrogo eu, que, segundos antes, maldizia o inflacionamento – 19 euros – de uma refeição fugazmente saboreada a tapas. «Sim! A bolsa. Ainda hoje comprei umas acções da Sonae». Pausa para indigestão. Encaixo a falta de perspectiva da capitalizada colega e não contenho o remate: «Claro! A bolsa! Depois desta conta é o que mais me afecta». Dito isto, no final do jantar de terça-feira só me conseguia lembrar de manter a accionista a léguas do meu tão bem frequentado ciclo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Incêndio não circunscrito



Foi a frase da noite: «Vocês vieram incendiar o campo!». No andamento da deixa, as incendiárias arrasaram o shot, inventado a partir de uma dose de rum, estranhamente apimentada por uma porção de limão inesperadamente temperado com açúcar e café. Ninguém diria que, alguns passos atrás, estávamos nós a maldizer o frio e a tentar corromper o cansaço, como quem antecipa um desfecho antecipado da programação.



O início da noite justificava os maus agoiros: por força da desistência quase completa da equipa da casa, vimo-nos na contingência de adiar o ansiado frente-a-frente Mouras vs Tripeiras. Dizem as mais sábias línguas que o mote da mão direita (o mentor já teve aqui a sua apresentação) amedrontou de tal forma as anfitriãs, que acharam melhor ‘tirar o time de campo’. Excepção feita para a Rita do Norte (cumpre a distinção o fim de evitar confusões com a Rita do Sul), uma mestre de cerimónias à altura da nossa 'giganteza'.



«Belo casting», dizia eu para a Sónia, reconhecendo o acerto de mais um valioso cruzamento relacional. E para que não restassem dúvidas sobre a qualidade da selecção, alguns considerandos adiante, a nossa ‘conquista’ esclarecia: «Não tenho culpa de ser tão simpática». Nisto, vínhamos de uma Boavista que nos serviu um bom jantar. Nisto, íamos seis num carro de cinco, a caminho do centro do Porto.



Quando finalmente estacionámos, demos de caras com um destino que nos deixava a escassas ruas da nossa bem achada Pensão. Fantástica pelo nome - União - fabulosa pelo preço - 16 euros, duas noites - e ‘fantabulástica’ pela localização - entre esquinas com os Clérigos. Ali, no coração do agito, virámos conversas, cruzámos gentes, e, entre caipirinhas de sabores irresistíveis (ai que saudades daquela mistura com maracujá) quase resvalámos para o ‘ponto morto’. Salvou-nos o Plano B, que, bem mais do que a expressão do conceito de alternativa se revelou a expressão do conceito de ressurreição.



Ao som de um «Vocês vieram incendiar o campo!» - entoado pelo barman-autor da frase da noite - despertámos para a viragem da programação. Electro-house de um lado, rock do outro, moches da Rita pelo meio…e o fogo alastrava… Enquanto isso, outro destino se impunha via sms’s, atempadamente retomadas de uma combinação de véspera, inoportunamente interrompida por um telemóvel extraviado.



Ordenou a mensagem que seguíssemos até à Via Rápida, viagem cumprida à boleia de um taxista que trazia o Benfica e Moçambique na história. Um verdadeiro bálsamo depois da anterior experiência, em que quase me engalfinhei com um artista do volante. Daqueles insuportáveis a ponto de barafustarem contra o simples facto de as estradas existirem. Saneada a má impressão dos taxistas portuenses, chegámos à Via Rápida bem dispostas para receber a boa nova: a night era de ladies. Pouco depois juntamo-nos aos gentlemen, a quem fomos conduzidas via mais sms's. De repente, o lance era fazer romance.



Já em Maré Alta, designação do after-hours lá da terra, há quem tenha explorado o corredor dos prazeres, quem tenha pressentido o pior numa longa espera na casa de banho, e quem se tenha redimido - com generosas rodadas de shots - de falhas graves cometidas no Plano B. O tal plano onde um barman alertava para o perigo de incêndio, com a mesma naturalidade com que um tripeiro reflectia comigo sobre o factor Obama. Entretanto passou uma semana, e se por circunscrito entendermos restrito ou limitado, convém deixar bem claro que o incêndio que deflagrou no Porto continua por circunscrever. Em Lisboa ou no Porto, no Porto e em Lisboa. Seja qual for o lugar, a combustão está lançada.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

A invasão segue dentro de momentos





Fomos cinco. Voltaremos muitas mais. Ainda não sabemos quantas nem quando, mas temos a certeza de que regressaremos com reforços. Ou não tivesse a missão de reconhecimento de território sido um retumbante sucesso! A começar pela viagem, livre dos habituais contorcionismos: bem instaladas no Mégane profissional da nossa mais recente amizade cruzada, fizemo-nos à estrada conforme manda o manual de boas maneiras da gangue.


Uma garrafinha de Martini rosso do lado da Pipa, outra de whisky do lado da Paulinha, copos subtraídos à conveniência de uma Galp, a Sónia no comando das direcções, a Lara como mestre da banda sonora e, no meio, a Paula a sonhar com uma pista daquelas bem grandes.
Entre risos e cantorias, deixámos os movimentos de dança fluírem sobre rodas. Pelo caminho, ainda houve tempo para provocações e desafios de circunstância, criteriosamente dirigidos às tropas da Amadora. Gole daqui, música dali, chegámos já quentes à Póvoa de Varzim. O destino da primeira paragem, oportunamente traçado para uma ladies night - ou noite das mulheres na versão Norte - era o Buddha local.


Alegremente preenchidas por uma Gata especialmente aterrada de Londres, e por uma Joana deliciosamente cumpridora da tradição desbocada do Norte, brindámos entusiasticamente. Cruzámos apresentações devidamente celebradas, ouvimos confissões surpreendentes e engendrámos conselhos bem intencionados. Permanentemente animadas, esgotámos os cartões-oferta de bebidas, reforçados por bandejas de álcool automaticamente servidas com o aval de um bem casado gerente. Houve comida, não faltaram danças, fechou-se negócio com o DJ, perdeu-se um telemóvel e até rolou um improvável 'enrolanço'. De saída, já a manhã estava posta, os excessos da noite acabaram num pneu rasgado, em má hora arrasado por um passeio inadvertidamente escalado.


Sem os cavalheiros de narrativas que nesses momentos soam mais fictícias que nunca, abro os olhos pesados de sono e vodka e vejo a Sónia esbracejar por ajuda. As gentes do Norte - naquela manhã mal representadas por transeuntes debochados - estavam a falhar o nosso socorro. Mas quando parecíamos condenadas a tiritar, num apeadeiro algures na Póvoa, acabámos salvas por pessoal do Eco ambiente, aparentemente um serviço municipal. Quais fazedores de milagres, gastaram pouco mais de cinco minutos a safar a situação.


Mas ainda era o começo: já no centro do Porto, vimo-nos encurraladas num labirinto de tantos sentidos proibidos que bloqueámos em mais de uma hora a nossa chegada à pensão. Com o carro a algumas centenas de metros, que as bagagens converteram em quilómetros, encontrámos dormida pouco depois de satisfazermos a necessidade de comida. Quatro horas de sono cumpridas desde as 11h e picos, levantámo-nos ainda sem acordar. Mas isso é conversa para um novo post. Fica apenas o aviso de que haverá incêndio...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Programa de festas




«EU GOSTO É DISTO!» Escrevo a frase assumindo os encargos de uma eventual cobrança de direitos de autor. Mas não resisto a usurpar aquela que me parece ser a melhor expressão dos sentimentos que, bordello após bordello, acompanham a chegada do fim-de-semana.
Começamos nos emails, continuamos com as sms e, vai não vai, acabamos sempre em alta. Não importa onde. «Sugestões?»



O Bairro revela-se invariavelmente mais democrático, mas a programação está sempre apta para surpreendentes reciclagens. Na semana passada foi a festa pós-gala da TVI. Entrámos de pulseirinha VIP numa mão, circulámos de copos-baldes de álcool na outra, e saímos com mais do que boas vistas para nos alegrar.



Impossível não repetir: «EU GOSTO É DISTO».
Aliás, gostamos! Tanto, que daqui a poucas horas vamos gostar para o Porto. A ver se a cidade aguenta Invicta a nossa pressão...