quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Olhos em brasa


Por mais turvas que estejam as minhas vistas, enubladas por lágrimas que teimam em escorregar (a este ritmo voarei completamente desidratada), seria impossível não repararem nas ‘chatisses’ que por aí vão. No mínimo chatices a dobrar!

Pedro, o conquistador

Recebi a notícia ontem, que é como quem diz dois dias depois do grande acontecimento, que é como quem diz no domingo da nossa eliminação, que é como quem diz numa jornada de pura desilusão.

Dormi imenso, entupi-me de porcarias de comer, deitei abaixo 1 litro de coca-cola, enervei-me com a bola, mas em nenhum momento senti aqueles feelings novelísticos que prenunciam mudanças marcantes nas vidas de outras tão nossas pessoas. Lembro-me apenas de pensar na minha mais recente grávida, naquele jeito clássico das contagens decrescentes.

«Será que já foi? Será que é hoje?»
Pois bem que correu bem. Diz a minha recém-mamã que «o Pedro Afonso, o catraio mais jeitoso, nasceu dia 22, com 3,470 quilos e 51 cm». Digo eu que o meu primeiro sobrinho é muito bem-vindo, e desejo eu que nunca lhe faltem reinos para conquistar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quem é amiguinha, quem é?

A conversa vinha não sei de onde. Qual salvadora das alminhas perdidas, personagem que baixa em mim nas boas acções de diversão nocturna, fiz questão de orientar o espírito anónimo que por ali deambulava:

Tens a certeza de que queres mesmo ir para o céu?, perguntei-lhe.

Yada, yada, yada, insistia que sim, e eu, sem mais conversas, resolvi apelar:

Mas sabes que o céu está cheio de anjos, não é?

Ele sabia, mas parecia distraído das más implicações. Vai daí a amiguinha lembrou:

Olha que os anjos não têm sexo!

Depois disto dei meia volta e fui pecar mais um pouco pelo meu lugarzinho no inferno.

Palavra-chave


Olhou, fixou. Cercou, ficou. Falou, conversou, dissertou. E eu ali firme na minha armadura. Eis então que com uma palavrinha apenas tudo se desbloqueou: B-E-N-F-I-C-A! Irresistível.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Anatomia do choro


Cena atrás de cena, ainda estou à espera de um episódio não chorado. Mas, invariavelmente, acabo desarmada pelas minhas emoções. Pode ser ao fim de alguns minutos (desconfio que hoje bati um novo recorde), ou mesmo no final da acção do dia. Certo é que a intensidade de Anatomia de Grey molha-me sempre as reacções.

Agora a sério



O derradeiro questionário chegou-me na data prevista. Por e-mail, fiel à tradição dos precedentes contactos, as minhas respostas seguiram rendidas à criatividade dos quizzes, à variedade das aplicações, à programação das festas, mas, acima de tudo, à dinâmica que consegue imprimir às comunicações. Mal sabia eu que enquanto teclava sobre ele vivas de avaliação, o dito servia de plataforma à organização da minha mais recente surpresa de refeição. Agora, sim, estou nisto de facebookar por minha conta e risco.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Resumo afectuoso

Primeiro o convite vitalício dos 30:

SURPRESA!
Com que então pensavam que ia deixar passar os 30 em branco? Tenho a dizer que estavam enganadas. À minha boa maneira, decidi comemorar a data sobre o próprio acontecimento. Não que entenda este dia como um importante marco de passagem - porque não entendo - mas porque não resisto a rebolar sobre os arredondares da idade.

Afinal são 30! 30 anos que não cabem numa qualquer festa e menos ainda num estereotipado jantar. Assim, em vez da praxe das danças ou da tradição do garfo e faca, achei por bem celebrar mais uma viragem etária da única forma que me enche a vida de sentido: com mais vida.
Por isso convido-vos a não faltarem às minhas comemorações, desafiando-vos a marcarem presença na festa dos próximos 30 anos da minha vida. Afectuosamente renováveis.
Obrigada por completarem a minha história.

Agora a reacção às mensagens pela minha partida:

Entre sorrisos e lágrimas, leio-vos em cada letrinha que escreveram. Leio-vos hoje, li-vos ontem e, mais perto ou mais longe, continuarei a ler-vos sempre e a marcar a sorte de vos ter no volume mais importante das minhas colecções de vida. Obrigada por me darem tanto para ler, neste mundo tão cheio de seres em branco.
Adoro-vos.
Beijos torrenciais


Decididamente, 2009 tem sido um ano fértil em declarações de afecto.Por isso,ainda que incompleto da sua metade, o meu coração vai cheio.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Not by the book



Nem vale a pena tentar alcançar o que lhes entope a cabecinha. Mas não consigo evitar o esforço. De cada vez que os meus ouvidos captam a emissão de um piropo not in the book os meus neurónios perdem-se na busca de alguma lógica. Hoje deram-me os parabéns embrulhados num elogio à minha estética de origem. Parabéns?! Ainda se fossem traços cirúrgicos….

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Progressão na carreira

Dali não há ‘pitosguice’ que me comprometa. Vê-se tudo com tamanha nitidez que achei-me algures numa daquelas afamadas transmissões em alta definição, ou HD para os mais amigos. Olhava para a frente e sentia-me capaz de tirar as medidas ao meu arcanjo David. Ai, o quanto eu sou enamorada por aqueles cachos capilares… Olhava para o lado e via o meu querido Presidente ladeado por um dos meus Lobos de eleição. Ai! O quanto eu gosto de remoer escritos de angustiada reflexão.

Virava e revirava a cabeça em busca de outros notáveis, quando inadvertidamente me encontro a lançar a intriga no cérebro da minha abismada chefia (‘como é que conseguiste este lugar?’). Para baralhar ainda mais as hierarquias, meti conversa com gente de Direcção na Saúde, acerquei-me de ministros estrangeiros, troquei impressões de ocasião com empresários ainda sem face oculta, desfilei um pouco da minha vaidade pelo momento, e, revistas as modas, só lamentei o comedimento das reacções.

Nem ***alhos, nem **da-ses, nem **** que o pariu. E eu ali, socialmente correcta, a reprimir as minhas falas praguejadoras e a semi-invejar a sorte dos que lá em baixo cantavam, insultavam e abusavam de um futebolês acirrado por quase hora e meia de insistências. Completamente ‘implodida’ de nervos, só aos 89 minutos tive a minha grande oportunidade de explodir: GOOOOOOOLLLLOOOOO. Entre abraços e cumprimentos, distribuídos pela família benfiquista no meu perímetro, comemorei a queda da muralha naval e, de um rasgo, invadiu-me a pedante certeza de que alcancei um dos pódios da minha carreira de adepta.

E, para completar ainda mais a minha consagração, desta vez, ao contrário do que aconteceu no caso do envelope, não senti olhares de julgamento moral. Desta vez, sentar-me na tribuna presidencial do meu Glorioso Estádio iluminou de tal forma o meu ser que a experiência já se projectou no meu estado laboral. Parece que agora sou uma trabalhadora de invejado gabarito social.

domingo, 8 de novembro de 2009

Má fama


Dá para os dois lados. Ou ficam com a mania de que são irresistíveis, ou revelam as prudências dos que sabem que são mais apetecíveis. Sinto isto de cada vez que os encontro pelos meios que não lhes são exclusivos. Actores, pseudo-profissionais da bola, músicos, modelos…já me cruzei com tantas e tantas caras de méritos meramente mediáticos, que não lhes consigo reconhecer um carácter especial. Mas sei-os diferentes e confirmo a diferença no enxame de olhares e presenças que os cerca a cada aparição. Por isso comecei por ignorar o toque quando ele passou por mim. Por isso deixei-o olhar-me e comentar-me sem lançar-me às negociações. Por isso demorei uma noite inteira numa corte de danças e de fitares. Por isso travei os meus impulsos quando tudo o que mais queria naquele momento era avançar. E, por mais que tudo, desejei desligar o efeito de uma televisão sobre nós.

Sozinha, mas bem acompanhada

Fui com as expectativas diminuídas pelo antecipar do encerramento, mas, logo à chegada, animaram-se-me as perspectivas. Vi o descampado de carros composto, observei grupos em alinhamento para a entrada e revivi um cheirinho dos meus primeiros tempos naquela plateia. Apesar da chuva de irritação miudinha, dos sérios riscos de palpitares involuntários e das contingências dos planos de trabalho, a noite punha-se deliciosamente perfeita para a festa. E eu ali, sem outras combinações de resposta que não uma companhia de curto prazo. Então insisti nas comunicações.

SMS para lá, nada de confirmações para cá…e, às 2 e picos constatei que todos me falharam até acabar ali sozinha. Rodeada de desconhecidos, à conversa com um e outro candidato a meu não sei o quê, e parada em cruzamentos com mãos cheias de conhecidos, alegrei o mais que pude a minha despedida daquele acontecimento. Vai fazer-me falta a festa, pá!
 

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Festa privada

Sempre privilegiei o emocional ao físico porque sou um ser de espécie sentimental. Do tipo de me agarrar às pessoas de modo irreversível, e também de me afastar de forma irreconciliável. Mas se por um lado não sinto qualquer dificuldade de enlaçar-me a novas amizades, por outro reconheço que nunca consegui ligar-me facilmente às minhas pessoas-metade.

Então carrego, por pequenas eternidades, vazios passionais que vou preenchendo com estímulos ocasionais de prazer. Isto sem que tenha de prescindir da humanização, ainda que superficial dos contactos. E, como nunca senti a ausência física desses contactos, nunca senti a necessidade, e nem sequer a curiosidade, de experimentar uma via artificial. Nunca até hoje, dia em que o trabalho me rendeu a oferta de um pequeno brinquedo vibrante.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Uma semana depois de me libertar do acéfalo estou tão em paz, mas tão, tão em paz, que as nuvens parecem estar ao alcance de um genuíno sorriso.

Afluentes e tais*

O meu coração parou naquela mensagem. Com a caixa de entrada escancarada, enfrento a pergunta da inquietação: «Estás sentada?». Como estava deliciosamente aninhada sobre as minhas cada vez mais esporádicas aventuras literárias, assumi o risco cardíaco de continuar a leitura. Toda eu coração em ponto de manteiga, quase me atropelei com as palavras do meu instantâneo sobressalto: «Uma amiga da N. ‘limpou o teu Rio’!»Incrédula com o conhecimento dela sobre o nome que nunca partilhei dele, gelei até às estopinhas antes de, por fim, conseguir recuperar a lucidez: Rio Ferdinand! Sim. Era do Ferdinand de que se falava.

*conto de uma noite de Verão

domingo, 1 de novembro de 2009

Os laços e os nós

Antes ainda de acabar, já me bastou. O drama, que nem a maior sensibilidade do mundo consegue alcançar sem vivenciar, percorre o ecrã da minha LG sem que eu veja nele o principal dos dramas. Não é o facto de as famílias colapsarem e de haver tantas e tantas crianças institucionalizadas que mais me perturba. Ao olhar para as imagens, senti-me incomodada com a falta de limites, com o ‘vale tudo’ que a pretensa necessidade de informar insiste em propagar.

Como é possível entrevistar-se miúdas de oito, 12, 15 ou 16 anos, explorando-se-lhes os mais enegrecidos traumas? Como é possível confrontá-las com os demónios que desde cedo as acompanham, e que a instituição que as acolhe deveria fazer por exorcizar? Tudo isto sem reservas de identidade, sem aparentes preocupações com a sua ‘especialidade’, tornando-se aflitivo vê-las recalcar, de frente para uma câmara de televisão, angústias de uma infância e de esperanças perdidas. Seja nos olhos ‘descaídos’ de uma, nas lágrimas travadas de outra, ou nos sorrisos constrangidos e descontextualizados dos entristecidos discursos…

Tudo na forma como se formatou a presumida grande reportagem levou-me a rejeitá-la aos primeiros planos e a desejar o indesejável: a intervenção de uma entidade esotérica, também conhecida pelo nome de ERC.