quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

12 passos a caminho do melhor 2010 de sempre*



Está quase! Depois de vos ter embrulhado NaTal época que já passou, ofereço-vos agora 12 meses de linhas para viverem o melhor 2010 de todos os milénios. Se não ficarem satisfeitos, podem desembolsar o vosso tempo na espera da edição do próximo ano. Até lá amadureçam, não envelheçam.

Janeiro
O calendário insiste em marcar a viragem do ano para dia 1. Rebela-te contra esta ditadura de todo o sempre e elege o teu primeiro bom dia de 2010 como o primeiríssimo do ano. Mas lembra-te de lutar pelo teu melhor para não parares no tempo. Move on.

Fevereiro
Alguém, algures, um dia lembrou-se de fantasiar sobre a imagem de um tal de Valentim que era tão santo, tão milagreiro, que curou a sua amada Julinha (diminutivo de Júlia e não jolinha mal concebida) da cegueira. Resumidamente: o amor disparou cego, pouco depois ela começou a enxergar, e, por fim, o pobrezinho acabou morto, num dia 14 de um qualquer ano. Confio em ti para inventares um dia de inspiração personalizada e mais feliz. Yes you can!

Março
E vão três mesinhos de 2010 e lá vem ela. Abre todas as tuas portas e janelas e deixa que a nossa Prima em comum (Vera, claro) floresça coloridamente. A família humana do hemisfério não tropical do Globo agradece, o termómetro dos bons augúrios rejuvenesce e nem encontro palavras para expressar tudo o que as borboletas podem fazer pelo teu ser e estar. Adianto apenas que soube de fonte segura e formosa que os mais emocionalmente dotados sentem-nas sobrevoar as hormonas abdominais. Let it flow


Abril
Qual stresse de fim de primeiro trimestre, qual carapuça! Um mês que começa com mentiras, não deve ser levado a sério. Por isso brinca, brincando (lembram-se disto, crianças pré-PSP?), goza, gozando, desfruta, desfrutando e, por mais penas que te possam rodear, não as deixes chocar, ganhar asas e esvoaçar. Vais ver que, com este Carnaval fora de época, não haverá águas mil capazes de afundar a tua contagiante boa disposição. Play around (na definição não exclusivamente libidinosa)!

Maio
Como prenunciava o meu arcanjo dos cabelos cacheados, na edição pré-natalícia da Bíblia, o presente da Sagrada Família está a ser desembrulhado para este mês (hope so, hope so). Por isso, nada melhor do que uma aclamação de fé entre os melhores na Catedral. E, como a minha religião prega a tolerância, cumpre-me deixar uma palavrinha de alento para os descrentes, pobres almas que pelos futebóis vagueiam perdidas: ide festejar o dia da Europa, ide… Keep the faith (and, just in case, also the fight)!

Junho
Meio do ano e pontapé de saída para o show de bola made in África. Mesmo que a tua selecção não tenha sido para aqui chamada, considera-te por mim convocado(a). Mas fica desde já sabendo que, nos exigentes regulamentos da minha federação, vale tudo menos ‘tirar o time de campo’. Assim como assim, quero ver-te jogar segundo a tradição do continente: de braços abertos (vá, toca a violar as contenções europeias), sorriso rasgado (abre mais um pouco, abre) e muito optimismo (afinal, o que seria do tudo sem o nada?). Become your number one player.

Julho
A todos os que pela primeira vez beneficiam desta rica publicação, afixem bem isto: a minha vida exige comemoração. Dia 7, estejam onde estiverem, sozinhos(as) ou acompanhados(as) façam-se à festa. Com um bocadinho de sorte, porque engenho é coisa que não falta ao meu adorado escrete, a party estica-se até dia 11, sonorizada por vivas de HEXACAMPEÃO. You are the champion!

Agosto
Nos próximos dias, todos os caminhos metem água e areia, por isso o melhor é levares o teu camião à revisão para o poderes extravasar de excessos antes de te fazeres à estrada. Não estás a ver como? Então abre bem os olhos porque eu vejo tão mal à distância que, nestes acertos de pormenor, também não te consigo ajudar. Posso apenas garantir que sem aventuras não há gosto. Test yourself!

Setembro
Arma-te em tudo menos em parvo(a). Guerreados nove anos desde o nine-eleven, o mundo precisa de um upgrade na indústria do terror. Mas nada de imitações ‘al-qaedianas’. Espalha o pânico pelos templos dos impérios nocturnos, atacando pistas atrás de pistas e acumulando reféns aos teus passos de dança. Ai, o menino não dança? A menina também não? Não desanimem. Podem sempre levitar copos (ou corpos, it’s up to you) e disputar o título de reféns do mês! Be your best guest!

Outubro
À falta de boas notícias políticas nos primeiros nove meses do ano (raios, que não há cadeira que o derrube) este é o mês perfeito para vingar as mágoas eleitorais do ano passado. Havendo euros para isso, programa uma viagem além-fronteiras e castiga o país com o êxodo, ainda que temporário, do teu cérebro. Não havendo euros para isso, começa a mendigar por outra viagem além-fronteiras, desta vez menos temporária, e castiga o país por não valorizar a riqueza da tua massa encefálica. Caso não tenhas traumas legislativos para sanar, não te amofines. Já estás a pagar pelos teus pecados! Use your brain to fly.

Novembro
Por esta altura o pessoal das vindimas já se esbaldou (consultar o dicionário verde-amarelo). E tu? O que andaste a fazer no Verão passado, para além de ignorares as minhas valiosas palavras (ai, se o arrependimento matasse…)? Seja lá o que tiver sido, é chegado o momento de contribuíres para a riqueza pátria: por mais que te custe (nem imagino o quanto), dedica alguns brindes à descoberta das últimas tendências do mercado vinícola. Trip on it!

Dezembro
Oh, não! Já é Natal outra vez e não sabes como acelerar em 31 dias tudo o que andaste a travar nos meses anteriores? Don’t worry, mais 24 horas, menos 24 horas, mais cobrança, menos promessa, dou-te boleia no meu jacto para 2011. Here we go again

*descompassados de um tal de acordo ortográfico

As minhas almas de 2009

Olho para trás e, entre curvas, apetece-me salvar o ano com uma retrospectiva de inspiração bíblica. Ámen.


O inferno
Em Fevereiro começou aquela que a bem sofrer foi a minha pior descida laboral às trevas. Seria provisório, não duraria mais do que três meses, e chegava com prescrições de doses generosas de paciência. Mas, para mal dos meus pecados, o acéfalo manteve a determinação de assombrar a minha vida pelo tempo de uma gravidez. De tal forma angustiante, que só de pensar naquela viscosidade de gente apodera-se de mim uma indómita vontade de vomitar. Blhac!


O purgatório
Não sendo cristianizada ao jeito do Florentino Pérez, nem nada que se pareça com isso, a oportunidade é, ainda assim, melhor do que qualquer outra que em Lisboa me pudesse surgir (oportunidades em Lisboa?? Onde? Ainda por cima boas? Pois, pois…). Vai daí aceitei, até porque não tinha como recusar o convite de um accionista que salvou mais de 100 empregos, nem como boicotar os esforços diplomáticos de um director. Vai daí passei o Natal sem o meu núcleo-família e preparo-me para virar o ano longe da festa. Por isso, desde Dezembro que me sinto numa espécie de purgatório da minha vida.

O paraíso
O top mais do ano é liderado sem sombra de contestação pelo nascimento da Leonor, a segunda sobrinha, seguido da notícia do nascimento do próximo bebé, o terceiro sobrinho. Também me encheram as medidas a experiência presidencial no Estádio da Luz, a minha alforria do acéfalo, a valorização da minha bolsa de amizades com a aquisição da desordem, e o acelerar inesperado dos meus batimentos cardíacos, por demasiado tempo afrouxados.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Irresistível

Acabo de receber uma recarga de tantos miminhos que tenho de os postar para desinchar um bocado. Sandrinha do meu coração: qual guardar email, qual imprimir, qual simplesmente ler. Sabes bem que aqui a je nunca faz a coisa por menos. Além de ler e reler, gravar e imprimir, não resisto a postar os teus votos de Réveillon para mim.

O que desejo para ti em 2010 - 50 desejos (bons motivos) para o celebrar(mos)*

Que seja....


...1 o teu ano
...2 o ano da amizade (da nossa, das tuas e das minhas)
...3 um ano familiar repleto de amor
...4 um ano cheio de saúde
...5 das realizações profissionais
...6 cheio de felicidade
...7 do reencontro (em cada chegada tua)
...8 um ano ideal para encontrar um grande amor
...9 o ano da comunicação (seja pela por sms, telefone, carta, facebook, ou outra qualquer rede social)
...10 um ano cheio de paixões fortes
...11 ....................de loucuras
...12 ....................de generosidade
...13 ....................de ritmo e musicalidade
...14.....................de imaginação
...15.....................de dinheiro
...17.....................de dança
...18.....................de sol e de calor
...19.....................de trabalho
...20.....................de recordações
...21.....................de emoções
...22.....................de histórias espantosas
...23.....................de recordações
...24.....................de beleza
...25.....................de conquistas
...26.....................bom sexo (não estava esquecido)
...27.....................de sorrisos
...28.....................de recompensas
....29....................de festas
...30.....................de esperança
...31................... de vitórias do SLB
...32....................de regressos
...33....................de viagens (entre Angola e Portugal)
...34....................de regressos
...35....................de justiça
...36....................de originalidade
...37....................de experiências
...38 um ano bem Português
...39 .................. ambicioso
...40....................autêntico
...41............cheio de lealdade
...42.....................de confiança
...43.....................de sentido de humor
...44.....................de esperança
...45.....................com muitas idas à praia
...46.....................à tua medida
...47.....................em que vais dar o teu melhor
...48....................cheio de conforto
...49....................com muitas caipirinhas XL
....50...................com muitas vodkas com laranja

Afinal acrescento mais uns quantos desejos

...51 um ano cheio de batalhas ganhas
...52 um ano pacifico
...53 com muita segurança
...54 um ano criativo
...55 um ano com poucas lágrimas
...56 um ano cheio de jogo sujo (à moda de P.C.)
...57 um ano cheio de encanto
...58 um ano cheio de liberdade
...59 um ano cheio de talento
...60 um ano solidário
...61 um ano doce
...62 um ano cheio de contrastes
...63 um ano justo
...64 um ano voluntarioso
...65 um ano com muitas convicções
...66 um ano sem complexos
...67 um ano sedutor
...68 um ano cheio de força de vontade
...69 um ano sem falhas de Internet
...70 um ano cheio de surpresas
...71 um ano cheio de magia e sabor africanos
...72 um ano cheio de sucesso
...73 um ano são 365 dias, em cada um deles recebe um beijo meu
...74 um ano cheio de boas notícias...daí...daqui...de todo o lado
...75 um ano em que vou dizer muitas vezes que gosto de ti
...76 o Ano Mundial da Saudade (vou sondar a ver se já existe)
...77 o ano das bebés e dos homens da vida de Paula e Sandra (quem são eles já agora, lol)

Bora Lá!!!!


*Sponsored by Sandra Pinto

Oh, não!

Acabadinha de sair de casa, ao encontro de menos um dia para a minha reforma, vejo uma porção do meu benzido porta-chaves sucumbir ao meu apressado, porém delicado, rodar de chave. Por via das dúvidas, agarrei no pedacinho de não sei que material é aquele e enfiei-o no primeiro espaço de mala que me apareceu ao deslizar do fecho. Xô olho gordo, xô!

Gira a bola #3

Não cumpri a tradição dos sucessivos jantares. Perdi as sempre animadas trocas de prendas, não vi plantada uma única árvore de levar por casa e, tragédia, das tragédias, não acompanhei o ano de estreia natalícia da Leonor.

Pela primeira vez longe do núcleo familiar e do meu pouso passional, este ano vivi o Natal como quem explora uma viagem de desencontros pelo desconhecido, com passagem especial pelo culto dos cabazes. Ou melhor: dos mega cabazes, pacotes de géneros criteriosamente seleccionados a partir de promoções de catálogos, e tão despropositados na forma que exigem uma bagageira espaçosa para serem transportados. Tudo com tamanho preceito que não há trabalhador que não deite contas à ceia antes de deitar mãos ao cabaz que vai açambarcar.

Nisto de captar o mais possível de tudo, dou meia-volta ocular pelo mais básico dos cabazes da minha temporária cultura laboral e depressa percebo a empolgação: 15 quilos de batatas, 24 latas de refrigerante (gasosa, em terminologia local), 24 latas de cerveja, quatro garrafas de vinho, uma da espumante, conservas, azeitonas, bolinhos secos, bacalhau etc e tal.

Continuo a minha ronda pelo mundo novo dos cabazes e logo entendo a origem de uma e outra reclamação: há categorias deles onde até cabem plasmas de televisão.

Na expedição pelos excessos que tanto caracterizam esta nação, tempo ainda para me surpreender com outra tradição de época: a do amigo oculto. Presente em cada encontro de Natal e até nas comemorações de formalidade profissional, o acontecimento está para o angolano Natal como as filhós, rabanadas e sonhos estão para o luso Natal. Com a diferença de que em vez de engordarem as medidas, as festas daqui servem-se para engordar egos e status (sim, eu sei que na tuga também há destas).

Juntam-se a tantas e outras nataltrivialidades – onde se incluem ‘estendais’ de brinquedos nos passeios de venda ambulante – as novidades dos pés destapados em pleno avançar de Dezembro, da exposição de pernas, dos casacos renunciados e de tantas e tantas pequenas particularidades que é grande de gigante a minha constatação : neste respirar estreante de novos ares, invade-me uma incompatibilidade natalícia a modos que antropológica.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Resolução de fim de ano



Apetece-me uma festa. Uma mega, mega festa. Daquelas a abarrotar de caras que me são desconhecidas e por isso mesmo perfeitas para diluir todos os desconfortos dos novos vindos. Apetece-me tanto, mas tanto uma festa que não me vejo a aceitar a casa de praia, a mini-micro-nano festa e o ambiente familiar. Porque se a ideia é agarrar-me a uma alternativa como tábua de salvação, mais depressa fico em casa a sonhar com o Baleal 2009/10.

Ouvir prendas

Sem embrulhos de papel nem lacinhos para desmanchar, este ano recebi os meus presentes pelos ouvidos. E as vozes souberam-me tão bem que estou a pensar inventar uma linha sonora (a interior já cá canta) para, em caso de desespero, telefonar para mim própria.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Dieta boa



Acredito que com tantas porcarias de comer que tenho ingerido, já terei arredondado as formas que por tantas e tantas vezes nos últimos tempos ouvi dizer estarem demasiado atenuadas. Mas à falta de um par de calças menos folgadas de confirmação (só leggings na bagagem), é sobre outra dieta que me dedico a postar. Está na fechadura da porta de entrada, tem cor azul e diz a minha recém-descoberta tia que serve de protecção contra indesejados olhares. Xô olho gordo, xô!

Foi Natal, foi Natal?

Ouvi a proposta como quem lê algumas das notícias de 1 de Abril. A sério? Cheguei há uma semana e já me querem oferecer um voo ao encontro de um Natal com a minha lovely family? Com o brinde extra de poder ser desembrulhado num Ano Novo entre as minhas pessoas? Sim, aceito. Sim, quero muito.

Mas não. Não havia voos TAAG que concretizassem os meus desejos de reserva, e continuei sem lista de embarque ao cabo das duas últimas ansiosamente vividas semanas.

Foi assim que em vez do clássico reencontro familiar, ganhei um lugar numa c(ad)eia de novos elos familiares. Um tio, uma tia, três primos, duas maritalmente adjudicadas primas, três sobrinhos ( um dos quais ainda no ventre), e todos tão genuinamente família que, mesmo sem o caril de coco, o caril de amendoim, a matapa, o camarão tigre e tantos outros mimos caseiros, por um bocado de 24 que tenha sido, não me faltou o Natal.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Distribuição automática



Amigos, colegas, ex-colegas e pessoas em geral que têm a boa sorte de compor a minha lista de contactos

Podem parar de rezar porque as vossas preces acabam de ser ouvidas. Uma vez mais, fidelíssima à minha tradição de marca, realizo o meu principal sonho de consumo da época e embrulho-vos às minhas Festas.

Façam-se Felizes :)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Aleluia!

Afinal não era mito. Ele existe mesmo! O tal! Competente de dar nas vistas, e ainda por cima inteligente, informado, com sentido de humor e aquela pinta irresistível de intelectual. Ui, ui, lá terei de refrear os suspiros no nosso próximo trabalho.

Best of

Faço-o por gosto e, ainda assim, canso-me, indiferente ao peso das mais enraizadas tradições populares. Carta após carta, fui contando assim os primeiros dias da minha estreia em Luanda.

Estava à espera do melhor momento para vos escrever estas linhas, mas desconfio que a oportunidade de teclar novidades no sossego de casa pode nunca chegar. Então, à falta de net ao domicílio – ora o problema está numa avaria de sistema, ora a pessoa responsável foi a um casamento, ora isto, ora aquilo, já lá vão duas semanas de insistências – aproveito a redacção para enviar algumas das minhas primeiras impressões.

XXXXXXXXX

Estou a viver em Alvalade, que, já me tinha constado, é uma zona ‘bem’ da cidade. O que não imaginava é que teria o conforto dos pastéis de nata e dos pãezinhos alentejanos. Abençoados tugas que por cá andam… Mas, apesar da boa referência da zona, confesso que assim que estacionei a visão sobre o prédio que me aloja receei pela minha vidinha. O que vale é que, apesar de o edifício preencher todos os requisitos para ilustrar um postalito de guerra, o apartamento é porreiro.

Excluindo a ausência de net, que me tem barrado as ansiadas ligações de fim-de-semana à família, não me falta nada. Tenho ar condicionado, TV cabo com os canais que me enchem as medidas (Globo, AXN, FOX’s para vários gostos e, mais importante ainda, a Sport TV África com acesso aos jogos do Glorioso), empregada doméstica de segunda a sexta-feira (Uau! Pensei que nunca na vida teria tal coisa) e segurança, embora nunca me tenha sentido ameaçada. Em suma, todos os confortos da minha bela cave de Odivelas e mais alguns.

O cubico (vá, toca a interiorizar o vocabulário palanca), também oferece a particularidade de ter uma casa de banho que, de quando em vez, se abre, à passagem do segurança – contratado especialmente para guardar os moradores (eu incluída) dos dois apartamentos da empresa no building. Felizmente, foi a lavar as mãos que dei conta de que o dito usa a zona da lavandaria (para onde dá a janela da minha ‘casinha’) como seu quartel-general. A partir daí passei a barrar o acesso às minhas intimidades com o tapume que esteja mais a jeito, seja uma toalha ou um lençol.

XXXXXXXXX

Comecei a bulir logo no segundo dia (queriam dar-me folga, mas não senti necessidade); já escrevi umas tretas (que espero saiam em português que não me envergonhe, porque não tenho forma de ver os textos em página e acompanhar os cortes); rio-me diariamente com as peripécias made in África ( hoje a empregada cá do jornal deitou o meu almoço para o lixo porque pensou que estava esquecido no frigorífico, imaginem a minha cara de tacho a imaginar o que teria acontecido ao pitéu) e não deixo de me arrepiar com algumas cenas (ainda há pouco passou por mim um ratinho todo abusado, que, já me inteirei, faz parte de uma ‘família’ aqui do sítio).

XXXXXXXXX

Já fui a alguns restaurantes (tudo cá é um absurdo de caro) e ontem estive na Ilha de Luanda (acesso por carro, ao contrário do Mussulo que implica travessia de barco), onde está um dos circuitos mais concorridos da noite. E por falar em night, nem me atrevo a sair sem escolta masculina porque, pelo pouco que se vê nas ruas (pouco porque aqui raramente se anda a pé), o assédio nesta pátria é muito duro.

No sábado fui a um dos spots mais in para danças (Chill Out) e adorei a parada. Espaço catita, música boa, calor, gingado…. Enfim, não me faltou nada. Fui com o meu amigo tuga que está a bulir a 60 km de Luanda e que vai ser o meu grande companheiro de batida por cá.

Mas como não há party que não dê em aventuras, este fim-de-semana manchei completamente a minha reputação: o meu segurança de prédio ficou a olhar para mim com ‘aqueles olhos’, provavelmente por ser ‘perdida’ a ponto de desfilar com um camone e, depravação das depravações, por deixa-lo dormir lá em casa. Uma escandaleira pegada!

Outro pormenor nada interessante cá do sítio: os copinhos de leite como vocês são presa fácil para os polícias. São recorrentes os casos de infracções inexistentes, inventadas à medida dos bolsos dos senhores da farda (ninguém quer arriscar um problema com as autoridades). Como o meu amigo tem a cor do crime, saí de casa prevenida com o número de um colega que, garantem-me, safa tudo e todos à distância de um telefonema.

XXXXXXXXX

Mais choque, menos choque, tenho resistido leve e solta, sorriso no rosto, havaiana no pé e sempre com o pensamento no retorno de tudo isto. Entre outros mimos, dizem-me que em Fevereiro teremos uma formação em Finanças na Católica cá da banda.


Gira a bola #2

São carros atrás de carros. Entopem o estacionamento do precário aeroporto, engolem os passeios e ajeitam-se em qualquer buraco que se vislumbre nos indescritivelmente engarrafados caminhos. Hummers de colocar os Yannick Djalós da estrada no boeiro, bombas que a minha ignorância automobilística não consegue marcar, e peças dignas de figurar dos negócios declarados daquele Godinho que ficou com a cara a descoberto.

Num desfile intenso e diário de bólides, por vias sempre e sempre congestionadas, exibe-se toda a sorte de manobras de transgressão: ai, olha mais um em contramão, ui, que aquele passou o vermelho, xiii, quase que se espetaram.

Pára e arranca, pára, pára e não avança, as viagens arrastam a paciência e esgotam conversas pelas crateras de asfalto e terra batida. Ouve-se uma rádio, muda-se para outra, e da janela avistam-se colecções de venda ambulante, onde aos habituais CD’s e jornais se juntam fatos Armani, máquinas de barbear e aquelas feiuras de calçar afamadas pelo nome de crocs.

Na paisagem do caos da cidade, a construção de empreendimentos de luxo destoa da profusão de edifícios com marcas de guerra, enquanto os táxis da praça, unicamente de nove lugares, ensardinham mais e mais passageiros, aparentemente desligados das mais elementares preocupações de segurança.

Também observo crianças. Sujas, descalças, esfarrapadas, invariavelmente à caça de uns kwanzas de negócio. Poucas são as que se perfilam num caminho de escola e muitas acompanham a batalha diária das mães, guerreiras armadas de alguidares, carregados de frutas e legumes. Pergunto-me pelos maridos e pelos pais e estaciono num destino que dispensa respostas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Acerto de contas


Assim que me passaram o computador para as mãos, convenientemente aldrabado na sua configuração (a avaliar pela porrada de actualizações constantes e janelas de conteúdo suspeito), tratei de confirmar o acerto dos ponteiros. De hora marcada pelo ritmo de Angola, os meus dias seguiram pontualmente cronometrados, até que, sem aviso prévio, o relógio achou por bem se (des)regular segundo a hora portuguesa. E esta, hein?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Caso clínico

E quando eu penso que já comemorei de todas as formas, defeitos e feitios, eis que descubro num candeeiro de pé o calor de uns braços abertos. À falta da minha boa gente, pelo menos tem estatura humana.

Efeitos colaterais

Os postes de iluminação atravessam os dias sempre ligados. O micro-ondas continua a girar até que alguém se lembre de reagir ao apito final. No café, em vez de um, servem-se dois pacotes de açúcar. À imagem do ego nacional, sucedem-se os exemplos de megalomania, que agora vejo transplantados para o meu subconsciente ser.

Como se não bastasse sonhar com um Presidente Nobelizado, capaz de se expressar num português perfeito, tornei-me tão tu-cá-tu-lá com ele que, depois de lhe sacar uma entrevista exclusiva, passei a frequentar o círculo de intimidade da Casa Branca. Está visto que basta uma gaja deixar-se dormir para acabar contagiada com a tão angolana mania das grandezas.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Special one


Já agora, aproveito a ligação ao canal família para postar a última big happy new. Veio comigo de Lisboa, tem origem em Marselha, mas, à cautela da concepção só agora me consinto partilhá-la: um, dois, três, vou ser titi outra vez.

Vitória, vitória



Pedi um sinalzinho, recebi um sinalzão. Por isso, neste fim-de-semana comemoro o tão ansiado facto de estar ligada a partir de casa. Abençoada sejas internet, que já me colocaste frente-a-frente com o papá e a mamã, as duas manas, as duas sobrinhas e os dois cunhados. O coração agradece!

A mensagem

Conheci-o ainda nas minhas curtas férias de Verão (tão curtas que o soleil ainda me deve três semanitas na boa vai ela). Recém-chegada dos excessos excessivos de Ibiza (jamais trocarei um approach de sedução por manobras explícitas de engate), retomo a tradição das ladies nights, ainda que em companhia inesperada.

Amiga Paulinha de férias, euzinha de volta ao circuito lisboeta, novidades de parte a parte na troca das nossas bagagens, aquela caipirinha de arranque no Bairro dos nossos bons costumes, et voilà. W para começar, Plateau para continuar e, algures na noite, um José para me tentar. Sem disposição para coboiadas, mas sempre animada para uns passos de dança e de conversa, lembro-me de não ter registado quase nada da conversa. Mais do mesmo, mais do mesmo, muito diferente daquele tal que me fez elevar a fasquia e disparar o coração.

Já de saída, nada faço para me desviar de um selinho de momento, mas recuso digitar o meu número no telemóvel dele. Pouco depois via-me a promover os instantes que me deveriam ter distanciado em definitivo dele, mas que acabaram por me fazer guardar o meu cruzamento com ele. O José não desarmou quando o desafiei a decorar o meu 96. Pelo contrário, olhou fundo nos meus olhos e um ou dois dias depois enviava-me a mensagem daquela desconcertante memorização. Respondi sem hesitar e sem esconder o meu espanto, mas como nunca obtive retorno convenci-me de que havia ali mais qualquer coisa. Uma namorada recuperada, uma não-namorada desencantada, um distúrbio comportamental, alguma coisa havia de ser.

Passaram-se os meses, aqui há tempos tropecei no número dele e decidi mandar-lhe uma sms, livre de segundas ou terceiras intenções. Mas, de novo, vi os meus impulsos de comunicação serem travados por um estranho silêncio, ontem por fim quebrado. Através de uma mensagem de um número entretanto extraviado, ele pede desculpas pelo desaparecimento, justifica-se com uma mudança para França, e comunica-me a vontade de estar comigo no regresso a Lisboa. E eu mais e mais convencida de que o José nasceu mesmo para me surpreender.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Direitinho para o Livro Amarelo

Reclamação acumulada nos últimos dias: pedem-me notícias, mando notícias, querem mais pormenores, não enjeito uma prosa. Bem sei que a escrita é uma extensão do meu ser e do meu estar, mas estarei a pedir muito ao desejar uns regalos de novidades em troca? Fofocas, aventuras, futilidades, nadas e afins…é assim tão difícil captar que todos os pretextos são válidos para me entupirem o correio electrónico? Eu, expatriada, reclamo a reparação desta injustiça que tem sido escrever, descrever e discorrer e, ainda assim, permanecer sem respostas decentes aos meus esforços de nada perder.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Gira a bola #1



Informação de última hora: todas as semanas, no dia em que calhar, postarei as minhas aventuras e desventuras de expatriada. A partir de já, e com reflexos retroactivos.


O peso das primeiras impressões sobrecarrega-me desde Lisboa. Tinha três reservas em meu nome, repetiam-me que de Luanda ninguém se lembrara de regularizar a situação, e, sem mais opções, vi-me obrigada a pagar uma tal de taxa de penalização. África, pensei!

Muitas voltas e um dia depois, com as bagagens para trás e para a frente, voo ao encontro do meu destino, quando, logo no avião, bato de frente com o jeito mwangolé de ser. Além do puto que não se calava por nada, insistindo numa cantoria esganiçada de não sei o quê, sob o descaso completo da mãezinha do ano, deparo-me com as interrogações típicas de um enigma.

Bola lida, Visão no saco, alternada por uma revista cor-de-rosa (que ainda nem folheei) e…cadê o Público? Inspecciono à toa tudo quanto é buraco à minha volta e , meio ensonada, estaciono as vistas sobre o passageiro da esquerda. Observo-o em cada gesto de leitura, ouço o sotaque denunciar-lhe a origem angolana e imagino uma idade compatível com a cabeça grisalha. Naaaa! Volto a inspeccionar tudo quanto é buraco à minha volta e, já resignada, direcciono a dúvida. «Por acaso apanhou o jornal no chão?».

Naaaa! Com a maior das descontracções, o senhor explicou-me que sacou o jornal da arrumação de costas do meu banco. De queixo caído, boca aberta e um sem número de sinais de estupefacção, ainda não sei como consegui articular as ideias: «É que o jornal é meu e ainda não o li». Safa de um linchamento que senti iminente na troca de olhares , lá recuperei o jornal e tratei logo de averbar o retrato da situação ao meu álbum de angolanices. Eta, povão abusado!

Durmo mais um pouco, por mais um pouco questiono a minha resistência às personalidades de nacionalidade angolana e, entre sonhos, o tempo de aterrar apanha-me já descansada. Pé em terra firme, passagem obrigatória pelo controlo fronteiriço e, de repente, ultrapassa-me um novo sinal de inquietação: qual beneficiário único de uma via verde improvisada, um grupo de 10 ‘importantes’ segue livre o caminho de desrespeitar a espera dos outros.

P*** que pariu as vipalhadas, grito em silêncio para o meu interior, ainda impregnado de decoros europeus. Encaixado o devido ajuste, avanço em força com o pensamento centrado nas plastificadas bagagens, e, quase uma hora depois – sofrida entre a agonia de perder três meses de vestes e a desconfiança, semeada por um angolano, de que as bagagens estavam a ser devidamente arrombadas – recupero o conforto na leitura de um cartão com o meu nome. Luanda recebia-me no masculino.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Flash-back

Passam-se os dias, consomem-se os meses e, num mastigar demasiado lento do tempo, obrigo-me a digeri-lo. Já (eno)imunizada contra acessos indigestos, esbaldo-me seguindo leve e solta até que uma imagem televisiva me impõe uma paragem abrupta de digestão. É então que me perco em saudades, é então que reincido na vontade de o ver mais uma vez.

Permuta



Troco metade dos mais de 100 canais que tanto me acompanham por um sinal. Pode vir fraquinho, mas o importante é que venha e que, apesar de todas as suas limitações, consiga resgatar as minhas ligações domésticas à rede global. Por um sinalzinho de internet que seja, juro que até sou capaz de renunciar a um trono com vista Fox.

Check-in


Houve muito interrogatório, as manobras de extorsão sucederam-se, e só faltaram mesmo as técnicas de tortura ao jeito de Abu Ghraib para a caça à informação ser completa. Mas, ao contrário do que tanto se especulou, o meu voo estava marcado para segunda-feira, 30 de Novembro. Não para terça-feira, dia 1. E, a confirmar o que por lá me constou, o meu voo não descolou na segunda-feira, 30 de Novembro.

Num episódio revelador do que por cá acontece, fui ao aeroporto, dei umas voltas ao balcão da TAAG, desdobrei-me em telefonemas, e, depois de desembolsar 101 euros (ainda não reembolsados), adiei a partida para o dia seguinte. Aterrei em Luanda perto das 19h de terça-feira, 1 de Dezembro mas, com muita neura minha, o que me tem sobrado em inspiração para escrever, falta-me em condições para o fazer.