sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Se quiseres eu imploro!



Por favor pára. Estou farta. Não aguento mais. A culpa pode não ser toda tua, admito. Mas não há como negar a tua imensa responsabilidade. Quem te mandou habituares-me assim tão mal? Tão mal que nem me lembro da última grande desilusão que me deste. Juro que não me recordo. Talvez por isso tudo isto me esteja a custar tanto.


E pensar que ainda há um ano te mantinhas discreto, agradavelmente desviado das turbulências que sempre vi associadas à tua presença. Agora ter de aceitar isto! Acredita que já ninguém te atura com tantos rigores. Sei que não fazes por mal e até percebo que esteja na tua natureza. Ainda assim, estou disposta a implorar pela tua mudança: ó Inverno, por misericórdia, toma o rumo da querida Prima Vera e pára de chover!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O que fazes?


Assim isolada, qual ilha sem arquipélago num oceano nocturno de estreantes conversas, a pergunta corta-me o fluxo das palavras. Então calo-me ou desconverso, mas não respondo. Não por achar que faço coisa pouca, e menos ainda por achar que faço grande coisa. Simplesmente custa-me manter o interesse em conversas de ocasião recalcadas de questionários entediantes.

Nome? Idade? Profissão?
Chamem-me esquisita ou exigente, mas eu continuo a achar que há uma grande diferença entre conversar e prestar depoimentos, entre interpretar gestos e palavras ou apenas fixá-los. Confesso que também me custa perceber tanta obsessão em escrutinar profissões em tempos tão férteis em desemprego e desespecialização. Chamem-me excêntrica, mas eu cá prefiro dar-me ao trabalho de encaixar determinadas personalidades em certas áreas, em vez de tentar precipitar para certas áreas determinadas caras.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O vício tornou-se oficial


Sei-o por adicção própria e repito-o há anos: esta bebida vicia. Vicia tanto que na fase mais aguda da minha adicção (aquela em que a celulite me fez repensar tudo), vi-me obrigada a executar um penoso plano de redução de consumos. Coca-cola agora só às refeições de fim-de-semana e nas controladas idas e vindas do Macdonalds (apenas porque se trata de um ingrediente claramente essencial na minha digestão fast-food).
Como prova do meu bom empenho, deixei para trás as avarias do pequeno-almoço - hábito enraizado na adolescência -, excepção feita para as manhãs seguintes às noites alcoolicamente bem servidas. Igualmente esquecidas ficaram as aquisições de garrafas extra fim-de-semana, que nunca consegui conservar no frigorífico até ao final de semana seguinte. Tudo isto sem o apoio do Governo, porque o meu vício nunca conheceu a compreensão dos suecos. Se assim não fosse, em vez de um tratamento para financiar a minha reabilitação - direito recentemente reconhecido a uma sueca - pedia um subsídio para pagar os meus acessos de adicção.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

The big picture


Por que será que algumas pessoas, daquelas que até aparentam integrar a minha humanidade, fazem questão de perspectivar tudo pelo lado negro? Bem sei que sou da espécie festeira, mas o meu estranhar da opção não vem daí. Vem antes da minha qualidade de pessoa experimentada em indesejados momentos de contrição. Pessoa que insiste em colorir o negro, e pessoa que se esgueira sempre para ver a big picture, em vez de andar a marrar nos menores dos pixéis.

Conselho de amiga bem informada

Ponto prévio: isto não é uma parangona de marketing. Poderia ser, mas não me pagam para isso. Ponto de ordem: isto é tão somente a sugestão de uma atenciosa atenta que gosta de gente bem informada. Escrito isto, cá vai: não deixem para depois o que podem comprar já amanhã (até porque, a avaliar pela imprensa, já estamos mortos, morridos e matados).


Eu sobrevivente garanto que a aquisição que vos sugiro vai valer muito do vosso riso. Comprem e comprovem com os vossos lindos olhos como se pode encher uma entrevista de cócegas. Tantas que me vi em sérias dificuldades para agarrar o teclado, libertando-me do rebolado de riso colectivo cá da sala. Realmente...há tios e tios.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Coisas da tarde, da noite, do dia... e da semana?



Depois da antecipação dos nossos cortejos fúnebres, apressados por uma Vara instrumentalizada que se deve ler no masculino, eis que avançamos com todas as letras. S-Ó-C-R-A-T-E-S.
E agora? Teremos jornal no Sábado?

Coisas da manhã


A minha primeira ligação ao mundo dos chamados dias úteis chega com a SIC Notícias. Acompanho as previsões meteorológicas, vejo a revista de imprensa, rio-me com algumas pérolas das incansáveis informações de trânsito, ignoro os directos da agência Reuters e ouço as escolhas online da manhã. Faço tudo isto enquanto tapo o buraco do estômago com uma taça de cereais regados com iogurte, despacho o almoço para o tupperware e preparo a roupa que me vai vestir depois do banho.



Numa ordem que não cumpre qualquer ordem, corro 40 minutos nisso, tropeçando por vezes em certas palavras que me fazem aproximar da televisão. Ouvi bem? Obama hesitou no juramento?! Cacete (entender como quem lê o dicionário verde-amarelo)!! Eu que vi o momento em directo e já o revi e revi e revi, como é que deixei escapar a tal da hesitação? Ah! Tranquilizo o afinamento dos meus sentidos: afinal não era hesitação. Era só alguém que, já acordado, ainda dormia para as nuances de significado entre hesitar e engasgar, hesitar e enervar-se, hesitar e gaguejar, ou simplesmente hesitar e tropeçar em palavras.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Desarrumar a prateleira




Uns dias ao final da tarde, noutros depois da meia-noite. Volta e meia o tipo lembra-se. Imagino-o agarrado ao telemóvel, ar de quem acredita fazer a diferença pelo seu toque, et voilà: o meu Nokia chama-me. O número está identificado mas o TMN não o reconhece. Deixo passar o registo até um novo toque. E mais um, e mais outro.


Puxo pela cabeça, revejo noites de maior desinibição…e nada.O tipo continua firme nos toques. Um apenas de cada vez, já os arrasta vai para dois meses. Um toque apenas e desliga. Finalmente mordida pela minha oscilante curiosidade, reservo para um momento mais oportuno - que o dito era de agito - o contacto para a lista telefónica do operador. Sigo as danças, et voilà: o meu Nokia revela-se.


Enquanto vasculho um atalho que me permita aceder ao registo textual das mensagens enviadas, descubro uma caixa atulhada de velhas sms. Abro-as uma a uma, espanto-me por terem sobrevivido a tantas mudanças súbitas de telemóvel, e delicio-me por conseguir recuperar momentos que ou não quis ou não calhou apagar. Nesse inesperado flashback um número martela-me o cérebro: 96.….66. Será?


É mesmo, verifico no registo de chamadas. Há mais de um ano que não vejo o tipo, há mais de um ano que não lhe falo, e constato que preferia conservá-lo nessas minhas memórias de há mais de um ano. Recordações de um tipo que do volante do seu carro me vê na paragem de autocarro, vai dar uma volta para me ver melhor, circula lentamente, diz coisas que o meu Ipod não me deixa ouvir e despede-se com um papel lançado ao asfalto.


Recordações de uma noite fria e armadilhada pelo vento, em que apostei comigo: se nos próximos dois minutos o papel não voar, corro para a estrada a apanhá-lo. Acabei por guardá-lo com o riso armado, embora um pouco frustrado por nem sequer ter visto os olhos de quem me pedia que ligasse. Dias e dias passaram-se antes de estabelecer o meu primeiro contacto, escrito numa espécie de registo pró-ambiental - «Deitar papéis para o chão é muito feio… ». O tipo percebeu.


Percebeu tanto que dali em diante foram mensagens atrás de mensagens e combinações atrás de desmarcações, até consumar-se o muito ansiado encontro. Conversa puxa conversa, a proximidade cobre-nos de intensidade, et voilà: o tipo tem namorada. Livre de quaisquer lamentações, termino o jogo de sedução, arrumo a história na prateleira dos date de uma só volta e sigo para novas arrumações. Perfeito, perfeito, não fosse o recém-descoberto tique do tipo para os toques. Tão insistente que me obriga a desarrumar tudo e a desencantar-lhe um espacinho no enervante arquivo dos date cola-tudo.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Done!



Sim, eu juro. Agora que a época de discursos terminou, juro acompanhar de perto as tuas acções. Yes, I swear!

Está quase!




Depois das mensagens festivas sobre a madrugada de 4 de Novembro, recebidas já na manhã seguinte – «Viva Obama. Vencemos», comemorava o meu pai – chega-me agora a partilha desolada da minha irmã Marlene.


«Nem vou ver a tomada de posse», lamenta ela, inconformada. «Perder um momento histórico destes», penitencia-se, certa de que «devia ter tirado o dia». «Que erro!», termina a recriminação.


Mostro compreensão, mas tento amenizar a perda histórica: «Vai repetir umas 500 vezes». «Pois», devolve-me. «Mas eu queria ver em primeira mão». É então que, apesar de toda a minha compreensão fraternal, deixo fugir uma egoísta satisfação, agradecendo os bons momentos que a minha instável profissão me proporciona.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

‘Atipicamente’ feminina?







De cada vez que começo a ler um texto engatado sob a premissa «todas as mulheres», ou «não há mulher que», deparo-me com enormes dificuldades em reconhecer o meu espaço no universo feminino. Porque ontem foi um desses dias, segue o meu contributo para contrariar algumas das mais irritantes presunções generalistas.


Malas
Grandes, médias ou pequenas, são incapazes de me despertar paixões. Por isso, uso-as com a mesma devoção com que transporto um guarda-chuva: dão-me jeito.


Sapatos
Três pares apenas, comprados à medida de códigos protocolares. Montras atrás de montras, sapatarias atrás de sapatarias…ainda busco o par que me vai deixar de olho cheio.


Saltos altos
Dos três pares, um só me eleva a altura. Andanças de quem sempre se deixou levar por uns cómodos ténis, entretanto substituídos pela tardiamente intensificada produção de botas rés-do-chão.


Revistas femininas
Totalmente dispensáveis, a menos que tragam um brinde que venha mesmo a calhar. Também me convencem se estiverem nas bancas apetrechadas de vouchers que me aliviem o encargo de certos mimos.


Ginásios
Era do tipo de me baldar às aulas de Educação Física até ficar tapada. Hoje sou do tipo de continuar parada (contexto exclusivamente desportivo, sublinhe-se), a menos que o exercício (exclusivamente desportivo, volte a sublinhar-se) se liberte de portas.


Futebol
Gostar a ponto de, há quase três anos, ter ido à maluca para um Mundial. Ou gostar a ponto de, há 15 anos, me ter feito sócia do Glorioso.


Peso
Umas vezes mais pesada, outras menos, mas sempre sem obsessões com os ponteiros da balança. Pelo menos enquanto a genética não começar a cobrar-me os excessos.


Novelas
O par romântico, a bela da trilha sonora. Diálogos reais, cenas bem esgrimidas. Sim. Adoro uma boa novela Global, sobretudo se criadas pelo Maneco e pelo Gilberto Braga (inesquecível Vale Tudo). Mas estou muito longe de papar todas. Aliás, os esboços noveleiros que por cá se fazem nem no zapping me apanham.


Produção
Gosto de maquilhagem (especialmente útil para contornar a minha ausência de sobrancelhas), perco-me por vestidos, mas há dias e sobretudo noites em que dispenso dar uma incrementada no visual. Agora entrar em guerra com o guarda-vestidos por causa disso? Visto o primeiro trapinho que me caiba em cima e lá vou eu.


Chocolate
Ainda me vejo salivar por uma sombrinha Regina de antigamente (as de agora não me convencem)... Afinal, desde que me conheço por mastigadora que tenho no chocolate uma perdição total. Não por obra de um qualquer ataque de carência afectiva, mas por me saber divinalmente bem. E pronto: ponto final parágrafo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Desordem dos trabalhos



Alguém já ouviu falar de neves que não sejam de apelido? Ou de quem tenha reclamado por causa das neves que as autoridades do Portugal lá de cima deixaram de subtrair às estradas?
Não e não, respondem-me. E eu continuo sem perceber a lógica do domínio dos limpa-neves. É certo que os ditos limpam (embora tenham de vir de Espanha), mas é igualmente seguro observar que os últimos tempos foram fartos em queda de neve e não de neves. Talvez por isso a discórdia: diz-me a Constituição da Língua Portuguesa que aprove os limpa-neves, enquanto as minhas incursões wordianas recomendam-me que os troque por uns limpa-neve. Gramatiquices?


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Porque ontem foi quarta-feira





Mandei uma sms de estação às gajas single que me completam as festas. Escrevi isto:





Última hora: Instituto Nacional de Meteorologia apela à gente gira do país
para que crie uma corrente de dança contra o frio. Hoje, a partir da 1h30 na
discoteca W ;-) Bjs gordos da mensageira



O que recebi em troca?
Carina: «Lol não há dúvida que o apelo tá criativo eheh, mas a mim só me apanham no W em Fevereiro com mais calor e de férias. Bjs quentinhos ;-)»
Verinha: «Amiga adorei a tua msg, melhor AMEI...quase, quase, mas quase que me convencia a ir ao W eheh Bj grd e diverte-te»
Paulinha I: «O meeting é onde?»
Paulinha II: «LOL depois a bordeleira sou eu!! Não vou miga, estava só a meter-me ctg! Enjoy it
Lara: «Recebi a mesma notícia :) mas foi para o vale dos lencóis! Vou agora lá miga! Sorry mas lá tou na guest list :)»
Borja, Lôraça, Pipa, Sónia: Silêncio de bater o dente...

Distinção calorosa, portanto, reservada às duras da semana: «Cat, Rita e Sandra muito obrigada por não me terem deixado enregelar :)»

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Mal por mal, eu conto com o meu salário




Abrir a caixa do correio. Encontrar uma porrada de dívidas para pagar. Reconhecer que isso não é coisa boa, e lamentar a torrente de contas de início de ano. Tudo isto sem desmanchar um sorriso incompreensivelmente escancarado. Porquê? Porque a sexta-feira criou mais um excêntrico? Não.


Estranha ideia minha, a de buscar sentido no absurdo! Estava-se mesmo a ver que tamanho sorriso só poderia esconder…o pagamento de mais uma factura. Mas atenção! Não se trata de uma factura qualquer. Perceba-se que o motivo de tamanha satisfação sorrida está naquilo que um tal de cartão pode fazer por uma certa factura de supermercado. E o que é isso?, perguntarão intelectos que, como o meu, resistem em captar a mensagem.


Isso é dar 50% de desconto nas compras, esclarece a voz que insiste em promover a disparatada mensagem. Mas atenção! Não se trata de um desconto generosamente desenfreado. Vale apenas para alguns flutuantes produtos de grandes marcas. Sim, porque é óbvio que o desconto nas restantes marcas está incluído na própria designação que encerram: pequenas. Tão certo quanto eu contar com o Continente para me pagar as contas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Faz-te aos golos




Esgotei a paciência para os teus filmes de má acção, que sobranceiramente foste distanciando da 'mísera' existência dos que não têm a inspiração nos pés. Perdi o interesse pelas tuas intermináveis novelas de transferências, transmitidas no calor do Europeu e também por Inglaterra, Espanha e Portugal. Também me saturei da tua ‘saga de curtas’ relações amorosas, exibidas à profusão de flashes rosados. Por fim enervei-me com as ‘sequelas’ de tantos enredos secundários, que vaidosamente começaste a arrastar naquele que deveria ser o teu palco principal.


Dei por mim a rejeitar a tua pessoa só de ouvir ou de ler o teu nome. Para piorar, vi-te escolher a palavra génio numa das inúmeras auto-avaliações em que exageraste o tom. Noutras palavras ainda, terás dito que és o primeiro, o segundo e o terceiro melhor do mundo. Tu negaste, mas de tão farta que estava das tuas exibições extra-rectângulo, não me pareceu descabido acreditar que o tenhas dito. Pelo contrário.


Apesar de tudo continuo a admirar o teu percurso ímpar, e não deixei de sentir uma pontinha de felicidade pelo tanto que já alcançaste a partir de pouco ou nada. Agora torço para que o prémio de ontem não te desvie mais dos argumentos que te elegeram o melhor do mundo. Da mesma forma que torço para que, aos 23 anos, não deixes a tua estrelinha concretizadora ofuscar-se por uma ‘qualquer’ constelação de títulos. Por favor, faz o que melhor sabes fazer: retoma o bom caminho dos golos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A moda do concreto



No desfile das tendências jornalísticas que se reproduzem por mimetismo, não entendo a atracção pelas medidas concretas. Percebo que concreto seja sinónimo de claro e que o adjectivo reforce a importância do substantivo. Mas nem assim a moda das medidas concretas me convence.


Tenho para mim que medidas são medidas, que se não forem concretas não passam de ideias e que se não forem concretizáveis não passam de intenções. Apelo por isso aos grandes criadores dos chavões jornalísticos para que abdiquem do concreto introdutório e passem logo à concretização.


Dizer ou escrever que fulano apresentou medidas para legalizar a preguiça (medida à partida não concretizável) não chega? É preciso dizer e escrever que foram medidas concretas? Como bónus pelo acerto na resposta evita-se a adjectivação, dito e maldito pecado de uma escrita que se quer factual.

A primeira do ano



Usando as palavras do tipo do microfone, que aqui o Rui do desporto me diz para chamar de speaker, é com orgulho que escrevo: já está.
Equipada de um bilhete custo zero – como se impõe à descendência de um ‘olheiro’ do clube –, assisti a uma vitória valiosa, porém empobrecida por linhas tortas, à letra do que diz a ‘Bíblia’ do dia. Mais custo menos custo, o recibo da Luz comprova que ao 11.º dia do ano concretizei a primeira realização do meu calendário para 2009.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O mistério dos ratinhos




Andava eu intrigada há uma data de notícias, com a quantidade de textos carregados de ratinhos. Ratinho daqui, ratinho dali, e eu a pensar no que seria feito do velho rato. Ratos me mordam! A notícia fala em ratinhos, e agora? Escrevo ratinhos como quem trata carinhosamente o animal ou deixo-me de modernices e chamo o bicho pelo nome de sempre?


«Por favor, ratinhos é que não. Rato é rato». Ouvi nas palavras da Francisca as minhas próprias palavras e deixei o assunto adormecer. Dormiu até hoje, que já se tornou ontem, mas despertou com a chegada de mais uma notícia com ratinhos. Daquela notícia não podia passar! Determinada em saber se haveria alguma razão para o pessoal da ciência tratar os ratos pelo seu diminutivo, mandei um SOS ao Ricardo.


«Pois é», começava a resposta ao meu pedido de socorro. «Os ratinhos de que se fala, na maior parte dos laboratórios (aqueles que têm selo de garantia e higiene e são de ponta, e normalmente são esses que são notícia, porque fazem um trabalho sério), não existem na natureza». Mais: «Há a higiene e as proibições sucessivas de fazer experiências em animais… daí que, na Europa, haja uma verdadeira rede destes ratinhos, que são transportados de laboratório em laboratório, para que não se vá buscar animais à natureza».


Pacientemente, explicou-me o Ricardo que ainda «há outra razão [para falarmos em ratinhos]», prevenindo-me de que esta até «é mais gira». Cá vai: «Geneticamente falando, estes ratinhos só são diferentes de nós em 1%». As semelhanças entre ratinhos e humanos é tal que «o ADN deles é mais parecido com o nosso do que o dos chimpanzés». Por isso, concluiu o Ricardo, «qualquer medicamento que seja testado com sucesso nos ratinhos tem 99,9% de eficácia nos humanos».

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Telefonema de partida




Tenho bem presente o dia já bem passado em que a boa notícia quase me fez enlouquecer. Vinda por telemóvel, chamava-me de um número que não consegui identificar. Atendi meio esgazeada, enquanto tentava desacelerar o meu já habitual passo de corrida, naquele início de tarde desencaminhado para as confusões da Baixa lisboeta. «Estou?»


Do outro lado, uma voz feminina confirmava a minha identidade segundos antes de revelar a sua própria identidade. «Ah!», reconheci por fim, colando um cordial «Olá, tudo bem?» à interjeição. Num tom menos formal do que aquele que, tempos atrás, eu havia percebido nela, a voz feminina perguntava-me pelo que andava a fazer, e espantava-se pelo nada que eu tinha para conceber.


«Nenhuma proposta?» Repetia eu que nada. Nadica de nada. Num tom que me soava cada vez mais informal, a voz quis saber da minha disponibilidade para maiores conversas. «Amanhã?». Assim foi. Já frente-a-frente, num 'aquário' que à distância nunca me parecera tão intimidante, a voz feminina tentava libertar-me dos nervos que nem a muito custo eu conseguia travar.


Nervosa, porém imensamente feliz, aceitei sem pestanejar aquele que ainda hoje ocupa o pódio das minhas pequenas grandes realizações: o trabalho sobre os primeiros 100 anos do Benfica.
Muitas outras empreitadas seguiram-se e espero que muitas outras ainda estejam para vir. Mas, venha o que vier e haja o que houver, o 7 de Janeiro de 2004 terá sempre uma importância única. Por isso, ao sétimo dia de cada ano faço questão de reviver o que senti com o telefonema e a proposta da Cláudia.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

As minhas sete maravilhas de 2008






Sete lugares, sete significados, um ponto final no meu balanço de 2008 e reticências para a entrada em 2009. Sempre de braços abertos.



W - As melhores batidas no corpo a corpo da dança

Comuna - A melhor conversa preliminar em tantas noites de excessos

Palácio da Ajuda - A melhor inconsciência, um pouco mais do que preliminar, noutras tantas noites de excessos

Plateau - O melhor dos reencontros

Via Rápida - O melhor desafio de olhares

London by night - A melhor aparição do ano

Lapa - O melhor do inesperado



segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

The party must go on





Não bebi champanhe, não estreei lingerie, nem pedi o mais escanzelado dos desejos. Foram tantos os bons momentos de 2008, que não quis exigir demais da frutífera conspiração que o Universo generosamente começou a engendrar a meu favor. Por isso, esperei até hoje que o tsunami dos desejos amainasse para pedir ‘apenas’ que o clima de 2008 (bem ilustrado na imagem) insufle este recém-entrado 2009. Se possível com um príncipe desencantado (ainda haverá destes, depois da extinção dos outros?) no horizonte das festas. Sim, porque isto de beijar sapos pode ser divertido (ah, pois é) mas não me garante uma linhagem condigna.


  • Festa pela notícia da chegada da Leonor

  • Festa pela viagem a Marselha, embrulhada como prenda-surpresa do 9.º aniversário da Luana

  • Festa pelo casamento da Ivana

  • Festa pela descoberta de Londres

  • Festa pela mudança de casa

  • Festa pelas pouco dormidas noites a meio da semana

  • Festa pelas boas noites nas bancadas da Luz

  • Festa pelos momentos de paixão

  • Festa pelos fins-de-semana fora de Lisboa

  • Festa pelos reencontros com amigos

  • Festa pela efectividade profissional

  • Festa pela minha primeira eleição para um Conselho de Redacção

  • Festa pelo lado positivo que insisto em clonar aos menos bons dos momentos


A minha vocação



Na quadra das minhas viagens além Velho Continente (de onde se exclui, por ausência de memória, a minha aterragem na Lisboa dos Eighties), nunca sofri aquele tal de desconforto, internacionalmente mal-afamado por sobrecarregar as bagagens longo curso. Sorte inversa acompanha-me a cada regresso de férias: por menos milhas que percorra e por mais que não desbrave novos fusos horários, o jet-lag insiste em importunar as minhas tão esforçadas tentativas de retomar a rotina. É então que me apanho a suspirar pelas milhentas voltas que ainda quero dar, enquanto me vejo perdida num círculo ao qual não vejo mais voltas a dar. Resta-me por isso assumir a minha vocação: nasci para calcorrear continentes a viajar, e não para dedilhar teclados a trabalhar.