quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Desarrumar a prateleira




Uns dias ao final da tarde, noutros depois da meia-noite. Volta e meia o tipo lembra-se. Imagino-o agarrado ao telemóvel, ar de quem acredita fazer a diferença pelo seu toque, et voilà: o meu Nokia chama-me. O número está identificado mas o TMN não o reconhece. Deixo passar o registo até um novo toque. E mais um, e mais outro.


Puxo pela cabeça, revejo noites de maior desinibição…e nada.O tipo continua firme nos toques. Um apenas de cada vez, já os arrasta vai para dois meses. Um toque apenas e desliga. Finalmente mordida pela minha oscilante curiosidade, reservo para um momento mais oportuno - que o dito era de agito - o contacto para a lista telefónica do operador. Sigo as danças, et voilà: o meu Nokia revela-se.


Enquanto vasculho um atalho que me permita aceder ao registo textual das mensagens enviadas, descubro uma caixa atulhada de velhas sms. Abro-as uma a uma, espanto-me por terem sobrevivido a tantas mudanças súbitas de telemóvel, e delicio-me por conseguir recuperar momentos que ou não quis ou não calhou apagar. Nesse inesperado flashback um número martela-me o cérebro: 96.….66. Será?


É mesmo, verifico no registo de chamadas. Há mais de um ano que não vejo o tipo, há mais de um ano que não lhe falo, e constato que preferia conservá-lo nessas minhas memórias de há mais de um ano. Recordações de um tipo que do volante do seu carro me vê na paragem de autocarro, vai dar uma volta para me ver melhor, circula lentamente, diz coisas que o meu Ipod não me deixa ouvir e despede-se com um papel lançado ao asfalto.


Recordações de uma noite fria e armadilhada pelo vento, em que apostei comigo: se nos próximos dois minutos o papel não voar, corro para a estrada a apanhá-lo. Acabei por guardá-lo com o riso armado, embora um pouco frustrado por nem sequer ter visto os olhos de quem me pedia que ligasse. Dias e dias passaram-se antes de estabelecer o meu primeiro contacto, escrito numa espécie de registo pró-ambiental - «Deitar papéis para o chão é muito feio… ». O tipo percebeu.


Percebeu tanto que dali em diante foram mensagens atrás de mensagens e combinações atrás de desmarcações, até consumar-se o muito ansiado encontro. Conversa puxa conversa, a proximidade cobre-nos de intensidade, et voilà: o tipo tem namorada. Livre de quaisquer lamentações, termino o jogo de sedução, arrumo a história na prateleira dos date de uma só volta e sigo para novas arrumações. Perfeito, perfeito, não fosse o recém-descoberto tique do tipo para os toques. Tão insistente que me obriga a desarrumar tudo e a desencantar-lhe um espacinho no enervante arquivo dos date cola-tudo.


2 comentários:

  1. Você é só histórias! LOL!
    Beijinhos, amiga, e boas desarrumações! :)
    Ivana

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  2. O que seria da nossa História sem as histórias? Pior mesmo é lidar com a desarrumação ;-)
    Bjs gordos

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