domingo, 23 de junho de 2013

TPC




Por ESTES próximos dias, trabalhar por casa não será mau de todo. Será ecológico.


No metro


Entrou uma estação depois da minha. Rasta loura pelos ombros, pernas atléticas pronunciadas pelos calções azuis, t-shirt branca, barba à moda dos Óscares – que é como quem diz na medida sexy da coisa –, cores de quem acaba de suar as estopinhas, e tudo isto na minha visão frontal de fim de tarde de domingo. Fixo o olhar, não consigo deixar de fixar o olhar, ele repara, devolve a fixação e, a partir do andar dele, fixamente aproximamo-nos.

Ele senta-se num dos quatro lugares da esquerda, eu estou sentada num dos quatro lugares da direita, e, na mesma fila, ficamos os dois com os olhares perfeitamente alinhados.

Mira daqui, gala dali, vergonha de cá, pressão de lá, P.Diddy no iPod e...caramba... mia-miau que o gajo é mesmo gato. Sinto-me despedida com a intensidade visual, mexo na mala, remexo as mãos, brinco com o anel, olho para o lado, mentalmente assobio para cima e...quando estou a um passo de explodir de tanta adrenalina, ele levanta-se, os nossos olhares colam-se perturbadoramente, e...lá vai ele. Saiu uma estação antes da minha.

O questionário

Foi bom? Óptimo. Foi mau? Acontece. Não foi? Nem sempre tem de ser. Mesmo que o assunto seja a fonte de todos os vossos problemas, vão por mim: continuo a não querer saber muito mais do que isso. Podem falar-me do drama, entenda-se, mas não se empolguem com a infinitude da sua extensão. Dispenso saber e, aparentemente, isso faz de mim a negação das despedidas de solteiras.

No ano passado, às páginas tantas, saiu-me: “Eh, pá, isso é tão intrusivo”. Claro que num estalar de dedos fiquei com a cabeça a prémio. “Estás a ser conservadora, temos de ter a mente mais aberta” e o diabo a quatro...a oito, a doze.

Não me lixem. Uma coisa é ser liberal e ter a mente aberta com a minha vida e de mais ninguém. Outra bem diferente é andar por aí a expor intimidades vividas no plural. Não num plural abstracto, como acharia aceitável, mas num plural muito concreto de duas pessoas que não quero imaginar a fazer isto, aquilo e aqueloutro.

“Qual é o problema?”, perguntam-me, “somos todas adultas”, insistem. E, como se estivéssemos a discutir uma vulgar classificação de um qualquer filme em vias de exibição, este ano, tal como no ano passado, a obsessão em conhecer em detalhe a vida dos noivos converte-se no grande sucesso de bilheteiras. Menos para mim, claro, a estranha pessoa que não precisa dos filmes porno dos outros para se entreter. Chegam-me os meus.

Por isso por muito que evoquem a sagrada e longa tradição de sexualização de questionários nas despedidas de solteira, continuo sem ver interesse algum na coisa. Ainda percebo a curiosidade de se saber quando foi a primeira vez – no primeiro encontro, depois de um mês? –, também consigo entender as perguntas do sítio mais romântico e tal, mas enough is enough.

Não quero saber o que as minhas amigas fazem imediatamente depois do acto com o tal, não estou interessada em conhecer a situação mais hard core que viveram antes do até que a morte nos separe, estou-me nas tintas para as fantasias sexuais mais bizarras que encenaram a caminho do altar, e não preciso de ser apresentada aos múltiplos cenários de actividade. Porque somos adultas sim, somos amigas, claro, mas para mim a sexualidade vive-se na intimidade e é aí que se deve conservar. A dois ou a mais do que dois não me importa. Tratem é de gozar o plural na relação.

Porque é disso que se trata, minha gente adulta. Uma relação não é uma exposição. A menos que, a dois ou mais do que dois, queiram converter a intimidade num daqueles shows de vocação voyeurista. Nesse caso, minhas amigas, dou-vos toda a minha força e, já que falamos nisso, toda a permissão para rifarem o meu bilhete.

sábado, 22 de junho de 2013

Do palco de ontem

“Como disse um filósofo português: 'Quem tem medo de cagar não come'”.

Facto

Se o blogger tivesse bloqueador de acessos ao fim de algumas tentativas de log in falhadas, as escritas daqui ainda andariam perdidas por aí.

Uma questão de pele

Poderia ter dado meia volta, poderia ter largado ali as peças, poderia ter ignorado o ‘ignorável’. Mas não. Por iniciativa própria saí dos provadores, chamei a funcionária e mostrei os alarmes. Acho que eram dois, lembro-me de os ter encontrado nos bolsos de umas calças, experimentadas naquela vida em que ainda usava calças, e de, sabe-se lá como, me ter enfiado num interrogatório de condenação. Repeti a história uma vez, repeti duas, expliquei que não fazia sentido denunciar-me a mim própria, lembrei que poderia pura e simplesmente não ter dito nada, fiz 30 por uma linha. Mas, quanto mais me esforçava para argumentar, mais claro se tornava para mim que nem a lógica nem o bom senso eram para ali chamados. A minha cor era o suficiente para uma rotunda assunção de culpa.

Hoje, uns bons 10 anos depois de amargar esta história, sinto na mesma pele de sempre uma mudança de pele. E qual gold pass para um mundo de cortesias e hipocrisias é outra vez ela, a cor, que me condena a um interrogatório de futilidades. “Quando é que vai viajar? Só leva isso? Volte com mais tempo. Lá em baixo temos spa, cabeleireiro, depilação. Tem a certeza de que não quer ver mais nada?”. Assim mesmo, de chofre, sem espaço para respirar, nem tempo para contra-argumentar, vejo que aos olhos de quem me vê a cor que tenho define de que forma sou. Ladra antes, compradora agora, amanhã talvez...apenas eu. Alguém sem o preço de mais ninguém.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O que foi e o que vem


Assim como quem não quer a coisa, o cosmos revela-me o presente de um ele que já foi passado e com quem em tempos não muito idos ainda tive feelings de futuro. Agora, depois de uma paixão e de umas quantas trepidações cardíacas, sinto-o nos braços de outro alguém e isso perturba-me o ego. É cármico. É cármico.

Eu vejo cenas

Enquanto os ataques se viravam para o alvo principal do comentário (este), entretanto retirado com escritos de um mea culpa embrulhado numa infeliz coincidência, a minha leitura não parou de piscar para uma melindrosa combinação de palavras, apontada com todas as letras para uma actriz cá do burgo, que, passo a citar, «é uma bimbalhona do pior». Indeed. Agora diz que há processo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A propósito do Restelo

Eu ainda sou do tempo em que as miúdas se vestiam para sair. Agora, pela amostra do que encontro nos cruzamentos de rua e de transportes públicos, a moda está no despir para sair. Quem tiver menos pano ganha.

Já faltou mais

Vi desaparecer o cartão jovem, vejo o outrora plantel de homens do Glorioso transformado em plantel de putos, vi o Porta 65 que já foi IGAPHE fugir-me das opções, vejo o ar colegial deles e delas nas minhas aventuras por noites nunca antes desbravadas, e, não fosse a coisa já de si reveladora, agora basta apanhar o metro às portas do fecho para perceber o quanto estou adiantada nas estações. Mais uma carruagem em modo botellón, ritmo Harlem Shake e miúdas em jeito ‘agora o que está a dar é despirmo-nos para sair’, e já me vejo ali a mofar para os lados do Restelo.

Falhou-me esta


Barba, entenda-se.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

De tia para sobrinha (eu) por email

Ele tinha dois bilhetes no melhor camarote do Estádio da Luz, para o último jogo do campeonato, aquele que viria a consagrar o Benfica como campeão nacional. Quando estava sentado, aguardando o início do jogo, um outro adepto notou que o lugar ao lado dele estava vago, por isso perguntou-lhe se estaria ocupado.

- Não, não está ocupado – responde o homem.

Assombrado, o adepto diz:
- É incrível! Quem, em seu perfeito juízo, tem um lugar destes, para o jogo mais importante da época, e não o usa?

O homem fixa o olhar nos olhos do cidadão e responde:
- Bom, na realidade, o lugar é meu. Eu comprei este lugar há muito tempo.

A minha querida esposa deveria estar aqui comigo mas, infelizmente, entretanto faleceu. Este é o primeiro grande jogo do nosso Benfica a que não assistimos juntos, desde que nos casamos, há mais de vinte anos.

Surpreso, o outro diz:
- Mas o amigo não encontrou outra pessoa que pudesse vir no lugar da sua esposa? Um filho, um amigo, um vizinho, um parente ou outra pessoa chegada?

O homem nega com a cabeça e responde:
-Não... Estão todos no velório.

Manual de instruções, outra vez

Sinto-me um ás das novas tecnologias. Depois de ter conseguido aplicar um template extra-blogger - ainda que ao fim de uma eternidade em busca de um look que me enchesse as medidas - pus-me a activar códigos html para incorporar assinatura e comentários ao final de cada post. E não é que a casa não foi abaixo?

Eu vou de barba


Eu, fervorosa adepta do clube dos vestidos, confesso a minha total incapacidade de perceber a histeria global que em noite de Óscares se apodera do mulherio. Tanto sururu cibernético por causa de uns modelitos nada terrenos que atravessam a passadeira vermelha? Eu sou mais a barba do George, do Ben e do Bradley.

Já que não se pode ter tudo, fui às compras

Estava decidida a comprar um antes de voar. Não por achar que precise mesmo de um - continuo a viver em perfeita harmonia com o meu modesto nokia - , mas pelo comprovado potencial das aplicações de ponte para encurtar distâncias. Ah, e tal, dá para fazer as tais chamadas à borlix sem a limitação da ligação ao computador. Ah, e tal, a cena do what’s up é brutal. Ah, e tal, os 70% de desconto são mesmo de aproveitar. Ok, convenceram-me, eu compro, mas…espera lá. A brincar, a brincar, ainda são para cima de uns 170 euros de factura e há meses que não tenho cêntimos a sobrar para ceder a caprichos consumistas. iphone? Ai, montras.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ai, se eu te pego



Ele anda por aí. Eu ando por aqui. O mundo só anda perdido porque nós ainda não nos achámos.

Dominguices

Diz-me ela que já foi ao divã, que a queda para os FDP revela:

  • baixa auto-estima, no sentido nos convencermos algures que é apenas essa a sorte que nos pode calhar na rifa dos afectos. Como se não merecêssemos melhor.
  • síndrome de super-heroína, no sentido de se ter a pretensão de, nem que seja pelo universo de uma pessoa, conseguir mudar o mundo, transformando um traste num cavalheiro.

Digo eu que nunca fui ao divã mas assumo a desorientação de afectos, que as duas opções, por mais antagónicas que sejam, fazem-me todo o sentido.

Aguenta, aguenta

Ele ainda não fez cinco anos mas nas duas últimas semanas anda por uns agonizantes cinco minutos em modo fim de vida. Ora fica trémulo, ora faz um barulho esquisito, ora as duas coisas ao mesmo tempo e eu com o coração acelerado à espera que o pior me passe pelos olhos. Por favor, não. Ainda é cedo para o teu piripaque final. Ouviste, ó LCD? Estou disposta a aturar os teus tremeliques de ligação, mas nada de apagares em definitivo, ok? Tu aguenta-te.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O dia seguinte




Sangria ao jantar, ginjinha à sobremesa, vodka entre esforços de danças e depois de uma despedida a copo, o corpo é que paga. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Coração que parece mas não é

Comecei por perguntar como se fazia, mas à falta de respostas úteis fui fazendo copy paste atrás de copy paste. Segui a minha rotina sem nunca mais pensar no assunto até que, há dois ou três dias, recebo uma mensagem carregada de símbolos de instruções.

Afinal é só isto? Ah! Já entendo por que me tenho cruzado com combinações do género num ou noutro post. E eu a pensar que seriam encriptações maradas para símbolos não linguísticos. Seja como for, o esquema do copy paste nunca me deixou ficar mal, por isso nem sequer dei grande importância à coisa. Limitei-me a achar curioso, até que hoje, num impulso experimentalista, dei comigo a aplicar o código.

Primeiro um símbolo da matemática, logo a seguir, sem espaço, o número três e daqui para a dúvida foi um piscar de ideias: antes do 3 o sinal é de maior ou menor? Se o objectivo é criar um coração, se o coração simboliza amor, se o amor quer-se maior que tudo, então …. digito >3, carrego em enviar e…nada de coração. Será o sinal de menor? Mas como pode ser menor? Pode, diz-me a cábula e…foi aqui que se fez luz.

Para perceber a lógica da coisa basta contrariar a minha natureza de pessoa de conteúdos e olhar para a combinação apenas pela forma. Como se o coração se pudesse reduzir à condição de um qualquer emoticon e parecer sem ser. Antes pudesse. De vez em quando daria jeito rabiscar um sinal, acrescentar um número e, como que por magia, apagar os desamores.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O meu Facebook está possuído

Primeiro aparece-me uma foto feminina colada a uma notificação de amizade. Assumo que foi um amigo que se tornou amigo da miúda, mas logo a seguir vejo no meu feed as actualizações das actividades dela, não dele. Como intriga-me não saber quem é ela desato a clicar. Vejo então que temos uma amiga em comum, percebo que ela é de Luanda, leio que vive no Porto e tudo o resto é um grande ponto de interrogação. Se não lhe enviei um pedido de amizade, se não me lembro de ter aceitado um pedido de amizade dela, como é que agora somos amigas virtuais? Ainda pensei num bug qualquer, mais ainda porque nem na minha cronologia nem na dela há sombra do momento da nossa amigação, mas ela não desarma da minha lista. Pior do que isso, diz-me o Facebook que somos amigas desde Janeiro de 2010!!! Como? Já me passou pela cabeça que possa ser um velho utilizador ‘repaginado’ numa nova identidade. Já pensei na hipótese de as fotos serem falsas e de ela afinal não ser ela, mas por mais voltas de especulação que dê, a única certeza que mantenho é a de que nada disto faz sentido. Nem isto nem o que se segue, porque uma patologia nunca vem só. Então não é que ando para ali entretida a enviar mensagens quando de repente topo que o Facebook me põe a gostar de um serviço que não me aquece nem me arrefece e do qual tive de me dar ao trabalho de desgostar? Agora, assim como quem não quer a coisa, só falta mesmo começar a assinar-me os comentários, partilhas e posts. Vai-se a ver e estou aqui estou numa relação com o Javi. Descomplicada, espero.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Manual de instruções


Para comentar aqui é preciso clicar. Título por título.

Operação fronha nova



Estou cansada deste look. O recheio de vinho com fundo às bolinhas está prestes a levar uma volta clean. Das bem redondas.

A minha ditadura é melhor do que a tua

Isto está bonito, está. Firme da vida, volto pela segunda manhã consecutiva à agência da Conde Barão. Encaminham-me para o segundo funcionário da zona além balcão que, minutos depois, se apresenta como o sub-gerente da chafarica. «Bom dia, venho apresentar uma reclamação». Cumprimentos despachados, cortesia qb do dito responsável e automaticamente avançamos para a tradição de todos os livros amarelos. «Mas quer mesmo reclamar?». A pergunta insinua-se a cada contra-argumento ao meu argumento até que, de novo, se dá o impasse. «Já lhe expliquei de todas as formas possíveis, mas pelos vistos não me consigo fazer entender. Se quer reclamar, reclame. Vou buscar o livro». Finalmente, aleluia, viva! Ao fim de uns bons 15 minutos de mais um diálogo inacreditável, consegui exercer o meu direito de cliente e protestei.

Protestei hoje por causa de ontem e amanhã continuarei a protestar por causa de hoje, dia de ficar estupefacta com os ódios que por aí se alimentam por puro ressaibo. Ora então, não é que depois de tentar perceber em que medida um carimbo num extracto bancário se tornou uma questão tão sensível - como se dele dependesse a honra de um Estado - sou novamente massacrada com a história das normas internas? «Não entendo. Que normas são essas que vos obrigam mas deixam de fora a agência da Praça do Comércio?».

Blá-blá-blá para cá, blá-blá-blá para lá e, entre outras lições, o homem explica-me que a agência fica na Rua Comércio e que ao contrário do que eu afirmo não é a sede do banco, essa fica na Avenida da Liberdade. Oops! Quanta ignorância a minha. Pior do que isso só mesmo quando lhe mostro as cópias da papelada carimbada e rubricada pela outra agência: o homem diz-me que aquilo não é um extracto. Ai, não? «Sabe o que um extracto?». Huummmm. «Pelos vistos não sei, mas explique-me porque gosto de aprender». Vamos lá: «O extracto é o documento que o banco envia todos os meses ao cliente, isto que tem aqui é uma consulta de movimentos». AAAAAAAHHHHHHHH! «Mas tem o saldo, não é? Foi apenas isso que pedi e até especifiquei que bastava ter os 10 últimos movimentos». Resumidamente, assim numa versão que até o senhor super intransigente consegue atingir, não é o nome do documento que está em causa, é a recusa da agência em entregar-mo carimbado.

Não, espera! O homem finalmente percebe que não me consegue convencer da lógica do raio da decisão e deixa vir ao de cima complexos evidentes de ex-colonizador que não consegue lidar com a ascensão da velha colónia. «Há clientes que levam a mesma declaração que lhe passámos e não têm problemas. Isso significa que é admissível». Olha, olha, querem ver este? «Não coloco isso em causa. Também sou cliente e não me aceitaram a declaração. Aliás, já tentei apresentar um extracto - ou consulta de movimentos, chame-lhe o que quiser - sem carimbo e foi-me devolvido».

Já com o azedume a espumar-lhe da boca, o tipo confirma o que até aí apenas ia dando a entender. «Isso só prova que ELES não têm regras: para uns pedem umas coisas, para outros outras. Acha que isso faz sentido? Um extracto bancário, seja de que instituição for, tem a sua origem mais do que identificada e por isso deve ser considerado um documento válido». Upa, upa, que agora o caso muda de figura! «Para mim não faz sentido mas não fui eu que criei a regra por isso não tenho de responder por ela». Sendo assim, devolve-me ele: «Então por que não protesta como está a fazer aqui?». Eh, lecas! «Primeiro, quem é que lhe disse que não protestei? Acontece que se trata de uma norma estabelecida por um Estado independente e soberano para o qual eu quero viajar. Se para isso tenho de reunir uns quantos documentos, por mais estranhos que sejam, é exactamente isso que farei. Sujeito-me».

Está mais do que visto que o tipo quer saber por que não me sujeito também à política do não-carimbo. Simples: porque prejudica-me e porque não sou obrigada a fazê-lo. Porque até ver não há nenhuma lei que diga que não tenho o direito de obter do ‘meu’ banco um comprovativo de rendimentos devidamente carimbando e rubricado. Mais do que isso: se a oferta de serviços do ‘meu’ banco não vai ao encontro da minha satisfação assumam isso com todas as letras e adeus até nunca mais. Por isso mesmo, porque no que respeita a bancos tenho a opção de escolher - não tenho de sujeitar-me a restrições que me penalizam -, liguei para a sede (e desta vez acertei) numa de projectar a minha sorte.

«Digam logo de uma vez: pode uma agência recusar-se a passar uma declaração a um cliente só porque não concorda com a mesma?». Depois de uns 10 minutos de espera telefónica, ficaram de me ligar com mais informações. A ver vamos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Crónica de uma reclamação anunciada

Há dois anos pedi dois, em Novembro outro e agora mais um. Nada de complicado, coisa para duas ou três frases de conversa e uns cinco minutos de espera. Depois lá vem ele. Rubricado e carimbado conforme manda a praxe consular, aqui orientada para a prova bancária dos meios de subsistência. Que é como quem diz uma pequena fortuna de 200 dólares a multiplicar pelo número de dias de viagem. Matematicando: 30 dias de laréu exigem 6.000 dólares de saldo, conversíveis para 4.500 euros. Pouco importa que o dinheiro seja ‘virtual’ - milagrosamente multiplicado a partir de uma transferência bancária realizada horas antes - e, garante-me quem já voou assim, pelos vistos também não faz diferença não ter um cêntimo de prosperidade na conta. Desde que alguém do outro lado assuma a responsabilidade de bancar um outro alguém que ainda está deste lado, tudo na paz. Assim como assim, não há volta a dar ao pedido. Por isso lá fui eu, uma vez mais, tratar do assunto.

Extracto bancário, carimbo, rubrica…e siga a despachar o registo criminal. Começo a planear a manhã na minha cabeça, saio de casa por volta das 9h30, lembro-me da agência que fica aqui perto e, sem stresses, lá vou eu. Mais Carris, menos Carris, calculava eu, entre a 24 de Julho, o Parque das Nações e Entrecampos, a papelada ficaria toda entregue até às 11h30. Mas, como dizia o outro, «a vida é o que acontece enquanto fazemos outros planos» e aconteceu que os de hoje acordaram para me trocar as voltas.

«Um extracto carimbado por causa do visto? Sim, temos uma declaração-tipo para estas situações». Antes sequer de acabar a frase, já a senhora do atendimento teclava em busca da minha suposta satisfação. «Isto evoluiu desde Novembro», pensei de mim para mim e, por minutos, dei vivas pela eficiência. Mas durou pouco o meu estado de graça. Agarro no papel, começo a ler e…«desculpe, falta aqui uma referência ao meu saldo, o documento destina-se a fazer prova dos meios de subsistência. Não basta declarar que sou titular de uma conta bancária no vosso banco com o número X e o nib Y». Era demasiado simples para levantar discussão. Basta imprimir o extracto bancário com pelo menos 10 movimentos, carimbar, rubricar et voilà, tudo certo. «Não fazemos isso. O banco não carimba extractos». Oi? «Mas não é a primeira vez que o peço e nunca houve problemas, o que é que mudou?». Respiro fundo, embora já indisposta com a cara de mete-nojo da criatura do atendimento, e, digiro a resposta. «As regras mudaram e temos passado várias declarações assim e ninguém reclama».

Ai, ai, ai. Repito em surdina que aquilo não me está a acontecer - caramba, quero apenas um extracto da minha conta carimbado e rubricado -, por instantes admito que o meu português esteja meio adormecido - coisa da primeira conversa do dia - e lá tentei soar mais articulada das ideias. «Tenho a certeza de que esta declaração não vai ao encontro do que me é pedido pelo Consulado. Preciso do extracto ou de qualquer outro documento que faça referência ao meu saldo bancário». Nisto vamos já nuns bons 20 minutos de banco e eu a ver a minha agenda a resvalar.. até que. ..tcharan: «Se faz tanta questão de levar o extracto posso imprimi-lo mas não o posso carimbar».

Paciência, paciência, paciência. Expliquei que um extracto por si só não vale nada -ai, o que pode haver aí de falsificações - e depois lembrei-me do que escreveu um outro: «Nunca discutas com um idiota. Ele rebaixa-te ao nível dele e depois vence-te pela experiência». Pensado isto, despachei a minha saída: «Olhe, deixe estar. Vou a outra agência». Mas antes de me levantar ainda tive tempo de recusar (uma vez mais, arre!) o extracto sem carimbo e de ouvir a mulher repetir: «Não vale a pena ir a outra agência. Agora é assim. É a política do banco».

Voltei para casa em busca da cópia da última declaração carimbada e ala para a sede do banco. Surpresa: ah, afinal não houve revolução nas regras. «Que eu saiba não mudou nada», repete a funcionária. Explico a história tintim por tintim e ela insiste. «Continuamos a fazer o mesmo, aliás lembro-me de já lhe ter feito isso». Aleluia. Eu sentada à espera, à minha volta um zunzum que me faz temer pelo pior, mas uns bons 20 minutos depois ei-lo nas minhas mãos. «Ora, então, por que carga de água a sua colega não quis fazer o que acabou de fazer?». Silêncio, encolher de ombros. «Vocês têm o livro amarelo? Sim, esse, das reclamações».

Ouço a resposta que quero e sigo o meu caminho em passo de corrida porque já são 11 horas e até ao meio-dia ainda tenho de ir ao Parque das Nações e voar para a agência de viagens em Entrecampos. Não ia dar, por isso no derradeiro sprint lá tive de alancar com a tarifa do táxi que, a bem da justiça, deveria ser cobrada à ressabiada da tipa da manhã que amanhã não perde pela reclamação. Ah, pois não!

Gira o estudo e toca ao mesmo


Tudo bem que há lóbis disto e daquilo. Tudo bem que a publicação em revistas da especialidade pesa muito. Tudo bem que nem todos têm arcaboiço para investimentos com impacto de descoberta. Tudo bem que convém mostrar trabalho para financiar a actividade. Tudo bem que tudo isso eu entendo. Mas, entra notícia e sai notícia, continuo sem perceber o raio da obsessão com estudos de escrutínio sexual. De verdade que mobilizaram centenas de mulheres e uma equipa de cientistas para concluir que  «as sexualmente activas apresentam menos sintomas de depressão que as celibatárias»? Já agora, se não for pedir muito, vejam lá se as que têm orgasmos gozam mais do que as que não têm.


Evidências de domingo à noite


O único clube português que rivaliza com o SLB é o anti-SLB. Consegue encher pelo menos um estádio aldrabão e um W.C.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O cu do dia


Anda uma maioria a entoar cânticos e ovações de apreço pelo vernáculo do ex-secretário de Estado da Cultura e eu, aparentemente só, não compreendo como é que o absurdo se combate com mais absurdo. Mandar alguém ir tomar no cu porque se limita a cumprir o seu trabalho por mais questionável que ele nos pareça é tão descabido quanto montar emboscadas a quem não pede factura. Mais ainda quando se reconhece que o «pobre funcionário» a quem se recomenda que vá tomar no cu «não tem culpa nenhuma». Absurdo por absurdo, no meio de tanta idiotice pegada, só falta mesmo ler que tudo não passou de um golpe de marketing para moralizar a canzana.

O exercício do amor pelo humor


O exercício do amor

Cada uma como cada qual e para todas que não as amargas de espírito a mesma boa sorte. Gata Borralheira, Branca de Neve, Julieta, a Bela do monstro, a Dama do vagabundo…e tantas mais histórias houvesse para sonhar mais finais felizes teríamos para contar. Assim, tão simples quanto isso. Ela e ele juntos porque nasceram um para o outro. Ela e ele juntos porque cresceram um com o outro. Ela e eles juntos para sempre por estarem destinados a viver e a morrer como nasceram. Um para o outro.

Escrevia-se assim o amor. Com letras esmagadoras, tons rosa coração e uma imperturbável certeza do acontecer. Categoricamente. Tão certo quanto dois mais dois são quatro, deram-me a construir uma visão do amor que, mais à frente nos anos, deixei ruir entre uma e outra desilusão de afectos.

Depois reergui-me, voltei a enxergar, descobri a necessidade de ajustar o foco e, contra miopias, astigmatismos, hipermetropias e outros achaques de perspectivas, reaprendi a ver o amor. Percebi então que nem todas as histórias têm o desejado final feliz, entendi que os sapos muitas vezes não passam de sapos, e, com maior ou menor consciência, aprendi a viver na incerteza do amor.

Seja porque o amor pode não acontecer. Seja porque o amor até pode acontecer e ainda assim doer até morrer. Por isso comecei a duvidar do que julgava saber. Por isso fui questionando emoções que apenas deveria sentir.

É o tal? Não é o tal? Vale a pena? Não vale a pena? O exercício parece repetir-se quanto maior a bagagem de separações e, por contágio, quanto menor a disponibilidade para novas relações.

Reincido. É o tal? Não é o tal? Vale a pena? Não vale a pena? Aproximo-me, afasto-me, avanço, recuo e, se tiver a energia que faz mudanças, acima de todas as consumições dou-me por feliz por amar pelo sentimento de amar. Assim mesmo. Por inteiro. Sem medo das vírgulas, reticências ou interrogações que tantas vezes me fizeram saltar capítulos para descobrir se valeria a pena continuar até à última página.

Agora já não. No folhear das minhas histórias revejo o quanto aprendi a sentir mais e a pensar menos, ainda que seja  pelo tempo de uma frase apenas. Diz-me o coração que é quanto basta para viver um final feliz.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A tua cara não me é estranha

Apanhei a cena num de tantos exercícios de zapping por canais de filmes e séries. De um lado o antes soberano Eddie Murphy, do outro a entretanto oscarizada Halle Berry e, na ligação aos dois, uma acção do século passado. De quando? 1992, refrescam-me os registos do IMDB, eficazes também em arregalar-me os olhos para mais uma tradução daquelas. Sem mais demora: o Príncipe das Mulheres afinal é Boomerang. Oi? Mas, vamos ao clímax da cena: descontada a minha resistente capacidade de me surpreender com estas pérolas de titulação cinematográfica, o que me deixou de queixo caído, mesmo-mesmo caído foi a Halle Berry. Olhei uma vez, olhei duas, três e…google. Até tu Gisele?


Já vivi o suficiente...

...para ver um Papa resignar. Sinto-me histórica.

Menos, muito menos


Um post depois do meu pedido de equivalência, eis que recebo uma mensagem privada via Facebook que me conduz a uma página atulhada de propostas de treino personalizado. Fiquemo-nos pelos cereais, ok?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

É ele


À falta de uma expressão que me acerte o português, fico-me por estas duas palavras de estrangeiro: Cover Man. O meu é este.

Por equivalência


Uma taça de cereais fitness todas as manhãs eleva-me ao título de campeã matinal do exercício físico. Certo Relvas? Certo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Foi assim que renasceu

Queria porque queria lambuzar-me com colheradas generosas de baba de camelo. Não daquelas que se mergulham em doses de supermercado vendidas a 1 euro, mas daquelas que sabem à infância. Com ovos, leite condensado, ciência de batedeira à mistura e remate de frigorífico. Mais minuto menos minuto, salivava eu, e, ao fim de uma horinha de esforço, a recompensa estaria pronta a adoçar-me as medidas. Sim, estaria. Estaria mas não chegou a estar porque nos entretantos não resisti aos finalmentes e, sem perceber muito bem como, acabei agarrada a uma lata. E, de colherada em colherada, foi assim que a palavra enlatada renasceu no meu dicionário. Açucarada.

Da série 'Fenómenos do entroikamento'


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Elementar, meu caro


Primeiro foi aquela lengalenga de apregoar que o país «aguenta, aguenta». O quê? Mais austeridade. Depois veio a sequela: «Se eles aguentam por que nós não aguentamos?». E quem são eles? Os sem-abrigo, que, para os que ainda não tinham percebido, tornaram-se uma espécie de bastião da resistência nacional. Ou, por outra, vai-se a ver e a miséria que se combate como um estigma social mais não é do que um teste capaz de fazer inveja à mais aturada criação darwiana. Agora, e porque não há duas sem três, o homem insiste na sua e, sem perceber por que o acusam de insensibilidade social - «como é que alguém se choca» com «afirmações banais»? - coloca-se no papel de vítima. Porquê? «Como não sou de nenhum partido, sou um alvo fácil». Mais do que isso, Ul Rico (cognome retido entre zappings noticiosos) não entende por que a sua remuneração vem à baila quando «um treinador do Benfica ganha não sei quantas vezes mais» do que ele. Elementar, meu caro banqueiro! Ouviu o que o mister disse sobre os tempos que cortam? O país também não.

Conta mais, conta




Pela localização da maioria dos meus contactos, a pergunta deveria ser: «Vives em Lisboa?». Mas não. Há mais de quatro meses, que é como quem diz desde o passado em que ainda andava às voltas com projecções de cortes e desemprego, que o raio da rede me atira para Luanda. Por isso, agora pergunto eu: o que se passa Facebook? Tens alguma coisa para me contar?

Atentado ao poder (de compra)













Há vestidos que nos assediam ao virar de cada clique. Mas tantos e tanto que chega a ser pornográfico.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Para onde é o caminho?


Baralha e volta a dar


É como se não tivesse acontecido. Ou como se, a ter acontecido, não passasse de um daqueles acontecimentos que de tão incompreensíveis automaticamente emprateleiramos na categoria dos não acontecidos. Depois tentamos levar a vida como se nada fosse, até que um dia nos invade a certeza daquele dia e, de chofre, o que já lá foi cai-nos da prateleira para desarrumar, ou talvez arrumar, o que ainda lá vem.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quanto amor o tempo tem?

«We may only be together five minutes every two months, but hey, when we do, we will savor every second. Because we both know how valuable those five minutes are»*.

*@Grey's Anatomy

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sorriso Zovirax


Cinco dias depois da minha última erupção labial, tenho a declarar que o alho faz milagres…mas deixa crosta.

O ganho em vez da perda


Habituamo-nos ao rosário. Metemos na cabeça que chorar faz parte de sofrer, convencemo-nos que sem lágrimas o drama não conta e, assim, de pranto em pranto, assumimos que toda a grande perda deve ser abundantemente molhada. Seja porque liberta, seja porque alivia, seja porque sei lá mais o quê…Tudo como se as emoções fossem variáveis perdidas numa fórmula matemática.

Por isso estranhei-me na minha contenção emocional. Por isso questionei-me na consciência da minha sensibilidade. Mas agora, à passagem de quase um mês da notícia que me entristeceu até às lágrimas, sei que foi a certeza da vida, tão bem descrita por ele, que me enxugou o pranto. «Toda uma vida bem comida, bem vivida e bem curtida».

Ir buscar inspiração ao Fonte





Reforço? Se não for dos pés, é seguramente da pinta. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Xó pra lá!


Já gastei para cima de  uma carrada de pensos pretensamente discretos. Passei-lhe gelo, espetei-lhe alho, e nada. Quase 24 horas depois da sua monstra aparição, ele continua dono e senhor dos meus lábios. Oh, má raça de herpes!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Luxo é...

...poder assistir a jogos de futebol às 15h30...e em canal aberto.

Yes, I CAN.

Assim, de repente

Só porque sim, também porque não custa nada, e, já agora, porque nunca se sabe o que nos espera ao virar do próximo minuto, lá dei comigo, depois de pelo menos dois meses de distância, a consultar os classificados de emprego especializados no meu deserto de área.

Clique daqui, clique dali, nada de novo, e entre acessos de mais do mesmo, sem qualquer aviso prévio, deparo-me com a pressão da minha própria validade. Como? 35 anos? Assim, de repente, repetem-me os critérios de admissão para não estagiários, tenho um prazo médio de dois anos para me fazer a novos empregos. Dois anos e nem uma ruga a mais. Depois disso, calculo eu na antevisão da minha precoce velhice, são só mais 30 anos de nada até à idade da múmia....perdão, reforma.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De calendário virado





Este é um bom ano para desafiar a própria sorte. Ou não fosse 13 um número tão peculiar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Em português nos desentendemos

Na outra noite, numa sempre bem sonorizada pista Luxiana, o cruzamento da vez perguntava-me, entre enrolares de uma já alcoolicamente destravada língua, se me sentia inconfortável. Como? Inconfortável. Isso existe? É bem verdade que in é prefixo de negação, mas…

Na…não me soa nada bem. Pois, consente a figura. Se calhar não existe, explica-me, talvez seja criação linguística de quem viveu muitos anos no Canadá. Ah! Tudo bem.

Mas não é que agora me deu para vasculhar a teima e, vai-se a ver, o português dá para os dois lados? Desconfortável e inconfortável?! Não me soa nada bem.

Estavam presas....

Estavam. Passado. Agora está reposta a liberdade dos relatos.


O Sol de tantos dias






Diz-me uma daquelas ferramentas online de precisão contabilística que passaram 2.347 dias. Acrescenta-me o programa de escrita cá do sítio que foram 332 edições em banca, interrompidas por seis meses de um passado – quase futuro – voo intercontinental. Fico na mesma, atarantada neste exercício de retorno ao antes, lançado agora no embalo do caminho para o depois. Nada a fazer. Sou de letras não sou de números, automaticamente troco datas por experiências, e, sobretudo por isso, custa-me horrores embarcar em balanços. Então apanho-me assim em voltas e mais voltas. Recuo a 2006, avanço até 2013, perco-me entre calendários e, muito além dos milhões de caracteres, milhares de palavras e centenas de páginas – com e sem assinatura – o que encontro são amizades. Por elas voltaria a escrever tudo de novo. Ponto final.