Escrevia-se assim o amor. Com letras esmagadoras, tons rosa coração e uma imperturbável certeza do acontecer. Categoricamente. Tão certo quanto dois mais dois são quatro, deram-me a construir uma visão do amor que, mais à frente nos anos, deixei ruir entre uma e outra desilusão de afectos.
Depois reergui-me, voltei a enxergar, descobri a necessidade de ajustar o foco e, contra miopias, astigmatismos, hipermetropias e outros achaques de perspectivas, reaprendi a ver o amor. Percebi então que nem todas as histórias têm o desejado final feliz, entendi que os sapos muitas vezes não passam de sapos, e, com maior ou menor consciência, aprendi a viver na incerteza do amor.
Seja porque o amor pode não acontecer. Seja porque o amor até pode acontecer e ainda assim doer até morrer. Por isso comecei a duvidar do que julgava saber. Por isso fui questionando emoções que apenas deveria sentir.
É o tal? Não é o tal? Vale a pena? Não vale a pena? O exercício parece repetir-se quanto maior a bagagem de separações e, por contágio, quanto menor a disponibilidade para novas relações.
Reincido. É o tal? Não é o tal? Vale a pena? Não vale a pena? Aproximo-me, afasto-me, avanço, recuo e, se tiver a energia que faz mudanças, acima de todas as consumições dou-me por feliz por amar pelo sentimento de amar. Assim mesmo. Por inteiro. Sem medo das vírgulas, reticências ou interrogações que tantas vezes me fizeram saltar capítulos para descobrir se valeria a pena continuar até à última página.
Agora já não. No folhear das minhas histórias revejo o quanto aprendi a sentir mais e a pensar menos, ainda que seja pelo tempo de uma frase apenas. Diz-me o coração que é quanto basta para viver um final feliz.
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