sexta-feira, 30 de outubro de 2009

É penalty

Vai acima, roda ao centro e deita abaixo. À penalty, ordenava eu. Penalty? Expliquei o conceito extra-futebolístico da expressão e, em troca, explicaram-me uma outra derivação do termo.

No fim-de-semana madrileno que passou, descobri que entre nuestros hermanos existe um penalty associado a um toque de barriga: assinala-se quando o casamento é marcado por uma grávida no altar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O meu par



Começámos pelas linhas. 12? Já em esforço, fiquei-me pela segunda.

Partimos para o relevo. Onde? Arrisquei nos sombreados, à laia de uma desconcertante hesitação.

Passámos também pelos círculos. Números? Qualquer coisa servia-me, desde que se confirmasse o recheio.

No final, comprovei na apreciação uma velha consciência adquirida nas bancadas do terceiro anel da Catedral.

Abreviando: eu, pitosga, pitosga, tenho vivido num mundo cercado por tantas FNI’s* à distância que preciso mesmo de um par de óculos para me focar.
 
*Figuras Não Identificadas

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sobe, sobe, avião sobe


A licença patronal está oficialmente autorizada e o visto formalmente pedido. Incluem-me na lista de passageiros de aterragem prioritária e sugerem que me vá preparando para voar. Mais dia, menos dia, Novembro espreita-me de cima.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eta, coração burro!


À primeira vista nada. À primeira conversa já qualquer coisa. Agora um convite para jantar, enlaçado com muito mais do que palavras de ocasião. E eu, burra de coração, incapaz de aceitar. Incapaz de arriscar uma nova sorte por não querer tripudiar sobre a sua má sorte de ter despertado para mim.

Foi assim que aconteceu

De repente senti-te num aprisionar de olhares. Ouvi a música silenciar-se nas ondas de um maximizado volume e segui a elevação do teu sorriso. Tu puxaste-me para o nosso primeiro encontro e o tempo congelou-se naquele instante.

Segredei-te necessidades enquanto me cercavas os movimentos e, entre falas ao ouvido, despedi-me com um ‘volto já’ antes de retomar o percurso que me distanciava do teu caminho. Pouco depois regressei e depressa estranhei experimentar aquela instantânea proximidade.

Como não estavas à minha espera onde te encontrei, procurei-te por uns curtos porém largos minutos e, num qualquer instante, lembro-me de ter sofrido a tua ausência. Mas acabei por ignorar os sinais de alerta cardíaco, e logo recuperei a animação do meu espaço de danças.

Confesso que parecia fácil demais apagar-te da minha existência quando tudo se complicou. Foi aí que reapareceste do nada e num nada ‘aconteceste’. Sem os gingados que me aceleram o descontrolo, nem os ‘pecados’ que me desaceleram os entendimentos, desarmaste-me com um tal de je ne sais quoi que me deixaste hipnotizada.

Quis não resistir mais e entregar-me logo ali, mas comecei por recusar quando me pediste um beijo. Convencia-me eu de que apenas queria desfrutar da tua interessante companhia! Como não acreditaste, insistindo, acabei por ceder ao teu toque até me perder numa teia de intensas cumplicidades.

Gravei a música do nosso primeiro beijo, tentei seguir em frente sem olhar para trás, mas vi o destino juntar-nos outras e mais vezes. Apresentaste-me amigos, cheguei a conhecer-te um primo, convidaste-me para um círculo de intimidade e, numa boa ocasião, declamámos juntos o Pessoa da minha literária adoração.

Foste quase perfeito até te revelares demasiado imperfeito, e quase me fizeste completa antes de me deixares dolorosamente incompleta.
 

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Obrigadinha, Pedro!

Nunca estivemos tanto tempo separados, porque estamos destinados a vibrar juntos. Primeiro na idade da pedra, agora na era do estofado de plástico, percorremos tantos e tantos desafios, estivemos em tantas e tantas provas, que não sei como vou sobreviver longe dele. Seis meses? Pelo menos seis meses? Depois, para baralhar ainda mais o meu naipe de emoções, recebo conteúdos destes, de inspiração tão, mas tão lacrimejante, que fico ainda mais convencida de que não conseguirei resistir a essa prolongada abstinência. O que vai ser de mim sem o meu Glorioso Estádio?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A minha ignorância é melhor do que a tua

No outro dia partilharam comigo dois dos nomes ‘especiais’ que uns e outros funcionários da Câmara de Lisboa, portugueses instruídos (no sentido puramente académico do termo, leia-se), usam para se referirem ao reeleito presidente António Costa. O primeiro – chamuça – inspira-se num salgado bem popular na tradição goesa que lhe fundou as origens – enquanto o outro – bolacha torrada – assenta numa dupla atacante: bolacha dirige-se à sua arredondada figura, torrada destaca-lhe o tom não-branco de pele. Entretanto, leio no pasquim mais pasquim da praça que também o fadista João Braga revela um peculiar ‘apreço’ pelas raízes do autarca da capital.

Racismo? Trocadilhos de fraco gosto?

Assim de repente, respondo que ambos, e, assim de repente, lembro-me de tantos e tantos outros ‘mimos’ do género que só me dá vontade de rir quando assisto às reacções do dia. Então vem-me à memória o rescaldo de uma cena de violência que encontrei numa saída recente pelo Bairro Alto: um miúdo com o sangue a escorrer pela cara, polícias no encalço da ocorrência e um grupo de meia dúzia de amigos zelosos.
«Já houve merda», comentávamos no nosso afro-trio, segundos antes de ouvirmos alguém gritar assim o relato do mau acontecimento: «São estes pretos que só vêm para aqui fazer merda». Atenção, pára tudo! Não são as pessoas que fazem merda, são os pretos!

Exemplos como estes sobram-me das experiências destes meus 27 anos de Portugal e 30 de vida. Aliás, já aqui postei uma situação dessas. É por isso com resignada naturalidade que visito os espaços de discussão online sempre que o tema em debate ameaça beliscar ‘honras e sensibilidades nacionais’.

Hoje, dia em que o direito à indignação decidiu possuir os internautas deste Portugal tolerante com a sua ignorância mas implacável com a ignorância alheia, as minhas viagens levaram-me à caixa de comentários do youtube e de alguns sites de informação. Deixo-me aí estar o tempo de umas opiniões e não consigo ficar indiferente ao chorrilho de barbaridades que orgulhosamente se publicam: «preta de pele virada», «vaca como todas as outras que andam por cá», «brazuca de merda» e tantos outros impropérios que, em poucos escritos, o portuguesinho consegue superar a estupidez dos ditos no vídeo.

Com argumentações destas até consigo imaginar os pressupostos que inspiraram a verborreia tacanha da Maitê. Afinal, quantas e quantas vezes tive de ouvir a história dos pretos que, em África, vivem todos em árvores e comem com as mãos, ou do preto e da preta que até são bonitos e inteligentes, como se a beleza e a inteligência fossem exclusivos da ‘raça superior’. E o que dizer então da minha fluência no português, apesar da minha evidente ‘africanidade’? Também nunca me esquecerei de uma definição que, ainda na primária, encontrei num dicionário da Porto Editora. Dizia mais ou menos isto: catinga = mau cheiro proveniente da pele dos negros. Significaria isto que o mau cheiro emanado das peles brancas não é catinga? Ou que as peles brancas são naturalmente bem cheirosas? Incorporassem em muitos uma câmara oculta e não haveria espaço para Maitês de indignação.

Por favor! Olhem para os vossos telhados! Quantos dos que agora vêm posar de ofendidinhos têm legitimidade para falar? Sentem-se humilhados? Ridicularizados? Atacados? Traídos por uma actriz que tanto acarinharam e que até fizeram questão de homenagear nos espectáculos que a dita apresentou cá na «terrinha»? Acham, de facto, que a quantidade de baboseiras gravadas por Maitê Proença merece tamanhos achaques? Ou terão visto neste episódio a oportunidade de aliviar tensões carregadas de verde e amarelo?

Tudo bem que não sou portuguesa, tudo bem que amo o Brasil, mas, pátrias à parte, a única coisa que consegui ver depois de assistir às tão comentadas imagens foi uma idiotice pespegada. Vi uma tipa o tempo todo em tom de deboche e com um ar de transe, ouvi um discurso arrastado e imprecisões grosseiras sobre a História de Portugal, deparei-me com uma caricatura de hábitos que também eu associo ao tuga, e, encontrei tantos, mas tantos excessos e absurdos que pensei: o português que se sinta melindrado com isto precisa mesmo de ‘se achar mais’.

Estou apaixonada!


Dava por mim a ler uns versos com o mesmo interesse de quem lê as cláusulas de um massificado contrato da EDP. Achava eu, naqueles tempos, que só havia poesia se houvesse rima. E como o som metrificado acabava por me enjoar - acredito que por muitas vezes me soar demasiado ensaiado -, cedo fidelizei-me à prosa, meu eterno género de eleição. Estranho, por isso, a novidade de ver-me, há já algum tempo, completamente rendida à melodia de uma estrofe. Não sei se é do passar dos anos, se do maturar das emoções, se de ambos, o que sei é que nunca como hoje estive tão perdidamente apaixonada pelas angústias escritas de Fernando Pessoa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Testamento de Paz

Li e reli aquela convocatória para uma participação democrática: «Alguém explica?». Abstive-me o tempo de um e outro comentário de mais fácil pronúncia, mas acabei por exercer a minha liberdade de expressão, confirmando, num ápice, fundadas suspeitas: aquele apelo tinha tanto de democrático quanto a Coreia do Norte, o Zimbabué ou a Venezuela. Ainda assim, não poderia deixá-lo obstruir a minha veia dissidente. Vai daí manifestei-me, vai daí comprovei uma das minhas leituras dos dias: o fácil acesso à informação desvirtuou as exigências do conhecimento.

Hoje, ao contrário do que acontecia nos tempos pré-google, todos se acham uns especialistas em tudo. Ouvem umas coisas aqui, lêem outras coisas ali, e, à distância de um clique convencem-se de que dominam o domínio das certezas. Eu, mísera mortal que teima em ver na profusão de informação o reconhecimento da necessidade de um permanente e acrescido investimento cognitivo, nada tenho contra a confiança que os titulares do conhecimento automático insistem em exibir. O que me faz espécie é a arrogância que teimam em produzir, a pretexto de uma tal de soberana convicção e reflexão.

Com que então Obama nada fez para ganhar o Nobel da Paz? Percebo que para a maioria ainda não tenha feito o suficiente, mas confesso não entender puto dos argumentos que me têm sido arremessados à passagem de uma já longa parada de contestação. Para começar, o princípio de tudo: Paz. Definam-me Paz, se faz favor. Mas, já agora, tentem fazê-lo sem a inspiração da Caneças. Meaning: poupem-me a definições de construção antónima, porque o conceito de Paz está longe de se esgotar na sua relação directa com a guerra, simplesmente porque há muito que a guerra deixou de se vergar à fórmula minimalista da presença ou ausência de armas, do envio ou retirada de tropas. Se assim não fosse, dificilmente haveria um Al Gore na célebre lista norueguesa, mesmo que em co-estrelato com um Painel da ONU.

Também não percebo o apregoar de injustiças históricas, hasteado em memória de Ghandi e de outros honrados combatentes da Paz mundial. Mas esta não é uma injustiça anterior, mas mesmo muito anterior à votação em Obama? Quantos e quantos eleitos estiveram a eras de contribuir tanto para a história da Paz quanto Ghandi? Serve a interrogação apenas para sublinhar que não ser a melhor escolha, é muito diferente de não ser uma boa escolha. E, já que de escolhas se fala, que tal apontarem-me os vossos favoritos? Huuuum… haaaam… pois! Obama não serve, mas servirá com certeza qualquer um dos mais de 170 nomeados à vitória, cujo currículo a maioria dos mortais desconhece, mas aceita subscrever automaticamente em nome do culto do reconhecimento instantâneo de um currículo mediaticamente divulgado.

Insisto em repetir: não ser a melhor escolha é muito diferente de não ser uma boa escolha. E aqui voltamos ao grande ponto da desordem: insiste-se que em nove meses de Casa Branca o Presidente dos EUA teve tempo para promover o cão d’ água português e pouco mais, mas exige-se que, nesses mesmos nove meses de Casa Branca, o Presidente dos EUA tenha tido tempo para retirar milhares de soldados que permanecem no Iraque e no Afeganistão.

O que dirão então, quando perceberem que, para ser anunciado vencedor, Obama teve de ser escolhido no início de Fevereiro, menos de um mês depois de tomar posse? Será que vão reclamar mais razão, ou tentarão saber mais sobre «o absurdo», «o escândalo», e «o ultraje» desta indicação? Continuarão a dizer que o prémio abre um precedente – o da sobreposição das intenções sobre as acções –, ou dar-se-ão ao trabalho de conhecer a argumentação de quem atribuiu a distinção? Admito até que possam discordar das razões apresentadas pelo pessoal do Comité de Oslo, mas seria útil à defesa da causa que ergueram demonstrar que conhecem mais do que o genérico da génese.

Chamem-me ingénua, parva, ‘obamamaníaca’ e o que mais quiserem. Mas não fui eu quem se lembrou de ir buscar o vencedor de 1990 como termo de comparação. Foram as próprias gentes da votação que se apressaram a esclarecer que, tal como fizeram em relação à Perestroika de Gorbachev, quiseram reforçar/impulsionar o poder negocial do homem mais poderoso do mundo, líder da nação da guerra e da Paz, pivô de uma série de compromissos de pacificação.

Prematuro? Talvez. O tiro pode sair pela culatra? Pode. Mas, para mim que segui a corrida para Washington desde o primeiro minuto; para mim que vi o ainda candidato presidencial derrubar históricos muros de intolerância racial (ai, que temos um negro na corrida) e religiosa (ai, que este Hussein sugere raízes muçulmanas); para mim que vi Obama restaurar os princípios do diálogo em toda e qualquer relação externa – tanto do propalado eixo do mal como do esotérico eixo do bem – ; para mim que vi um recém-empossado Presidente assinar o fim de Guantánamo – just for the record há mais dois sírios em Portugal –; para mim que o vejo respeitar (em vez de desprezar) os esforços globais no combate às alterações climáticas; para mim que testemunho o regresso da diplomacia aos EUA (olha, olha, houve um statement no Cairo); para mim que, graças a Obama, vi o mundo percorrido por uma onda sem paralelo de esperança e de crença na renovação política (chegaram a chamá-lo Presidente do mundo); para mim, que vejo morrer o legado bushiano, tudo isso já é muito. Mais ainda porque a ‘minha’ Paz se constrói pelo diálogo, pela esperança e pela tolerância – valores que a meu ver Obama já ajudou a restaurar. Por tudo isso e um tanto mais, não consigo ver o Prémio Nobel como mais um engodo panfletário nem como mais uma intrincada promessa.

Diz que é uma espécie de timidez


Aproxima-se meio confiante, meio desconfiado. Um copo numa mão para ele, mais um na outra para mim, o sorriso aberto em jeito de sedução e, entre danças, uma conversa desfiada.

«Sou o quê?», por um instante duvido da depuração dos meus ouvidos. «Tímida», repete-me num sotaque português que me deixa maravilhada. «Ai sou? Então porquê?»

Estava-se mesmo a ver! «Passei a noite toda atrás de você, a rondar, e você nada». Ok, carioca! Obrigadão por cê me deixar consultar seu dicionário. Hoje aprendi que tímida é aquela que não responde/corresponde às suas investidas. Lêgauuuuu!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ai, a minha visão!


É mais forte do que eu. Assim que os meus olhos descansam sobre um texto, por mais minúsculo e insignificante que seja, disparam-me no cérebro uns sensores. Então, volta não volta, ouço um tinoni-tinoni e não consigo deixar de me inquietar com tantos maus-tratos à língua portuguesa. Pergunto-me por isso onde é que isto vai parar, enquanto arregalo o espanto para a publicação de um «desenrascanso», escancarado numa rubrica que pretende expor, entre outros 'nacionalismos', os atropelamentos ortográficos.

Agora em mantra

Dia após dia, semana atrás de semana, repetem-se e sucedem-se as observações, agora embrulhadas neste género massacrante de mantra: «Estás magra, magra, magra. Engorda, engorda, engorda». Com tanta pressão sobre as minhas medidas, depois não se admirem que continue avariada dos apetites.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Já agora...

... que reflicto nisso, vejo claramente que o meu eu no masculino seria ele, ou alguém muito próximo do que é ele.

Coração ao alto




Um amor maior do que o nosso tempo, uma e outra paixão sem especial importância e cada vez mais cruzamentos de ocasião. Olho para trás e reencontro no meu caminho de acelerados batimentos cardíacos ilusões destroçadas por desilusões, desenganos transformados em mágoas, mas, também perdas convertidas em ganhos. Fui feliz por muitos e bons momentos, infeliz por outros tantos e dolorosos instantes, mas 18 anos depois do meu primeiro e, até ver, maior encantamento, nunca estive tão consciente das minhas fragilidades e potencialidades.

Ponho-me então a desejar não ser tão juíza nas primeiras apreciações, nem tão advogada perante o amanhecer das primeiras interrogações. Ponho-me sobretudo a desejar abrir-me mais às relações, por maiores que possam vir a ser as suas ralações. Mas eu que nunca fui fácil de paixões e menos ainda profusa de amores, esbarro sempre os meus desejos na mesma indefinição: vale a pena procurar mais quando no coração nos invade uma certeza de que ali não há nada mais? Ou há momentos em que devemos silenciar o coração para depois o conseguirmos ouvir bater mais alto? 

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Agita Brasil




Já que a República e a chuva conspiram pela minha reclusão doméstica, aproveito para pôr a escrita em dia (ai, tanto que tem ficado por contar), festejando palavras pela vitória da cidade maravilhosa. Depois da Copa do Mundo em 2014, venha o show das Olimpíadas de 2016.

Viver a vida

Sem qualquer relação com a nova obra do meu adorado Maneco (é hoje que volto a ficar agarrada a um ciclo Global), perguntam-me o que quero fazer da vida. Respondo que muito. Para começar quero aproveitar cada momento como se fosse o último.

Ah, e tal, acham por bem recordar-me que a vida não acaba amanhã. A sério que não? Mas quem é capaz de me garantir isso? Como a minha única certeza está no agora, faço por desembrulhar o meu presente pelo melhor e pelo pior que sinto. Porque o amanhã, ao contrário do que titula aquele charme de agente, pode bem morrer. E hoje eu ‘só’ quero viver.

Pecado original

Reconheço que a ideia é boa. Um promocional elogio à originalidade dos sete milhões de 96 e 92 que andam por aí a comunicar. Mas como não conheço uma boa ideia que tenha resistido a uma má execução, dou por mim a praguejar contra o raio do anúncio.

Percebo perfeitamente que se tenham lembrado de mixar os gato RAP e ZDQ, mas ousarem fundir o meu maestro ao pugilista da bola, é mais do que demais. Um original de pesadelo com pecado, é o que é.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AH, pirata!

A menina que me atendeu ficou tão intrigada com o relato que foi pedir ajuda. Vai daí brindou-me com um compasso telefónico de espera, até voltar com isto para me oferecer: «Não podemos fazer nada. Nem sequer estamos a ver como é que isso é possível. Será que pode passar por uma loja e mostrar as mensagens?».

Poder até podia, mas teria de dormir mais uma noite sobre o assunto. Vai daí lembrei-me de algo de que era a menina que tinha a obrigação de se lembrar! Qualquer SMS está associada a um centro de mensagens, certo?

Volto então à carga, e, desta vez, calha-me um menino. Debito a extensa numeração que o telemóvel exibe e em segundos obtenho uma exclamação de resposta: «Mas esses serviços online já nem são permitidos!».

Como tenho diante dos meus olhos a prova de que nem só de permissões se vive, o menino lá se resigna: «Não vai conseguir nada com isso porque nem a polícia consegue».

Concluo, portanto, que tenho um pirata no meu raio de acção. Penso mesmo, para bem da 'dignidade' do meu argumento, que talvez seja um génio da informática…quiçá alguém tão, mas tão genial que conseguiu rastrear esta minha morada e ler a minha, por ora, eficaz mensagem. Ou terá ele percebido, finalmente, que não era eu a sua destinatária? Assim, como assim, quer-me parecer, pelo silêncio que impera desde ontem, que deste Jorge já me safei. Ufa!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Querido desconhecido que respondes pela assinatura de Jorge Prata,

Dei por ti a entrar na minha caixa móvel de mensagens como quem promete marcar a diferença. Sem número de telemóvel associado, num registo ortograficamente promissor, com palavras de galanteio QB, e toques de escrita reveladores de algum conhecimento do meu ‘estilo de jogo’.

Sim, Jorge. Devo reconhecer que causaste boa impressão à minha leitura. Sim, Jorge. Admito que espicaçar a minha curiosidade é meio caminho andado para despertar o meu interesse. Mas não, Jorge. Não estou a perceber onde é que tu queres chegar. Por acaso já percebeste que não tenho forma de responder às tuas mensagens?

Pois não, Jorge. Ao enviares sms’s de um qualquer site – daqueles que pensava enterrados nos primórdios das minhas comunicações móveis e cibernáuticas – barras-me uma eventual possibilidade de resposta. Por isso não adianta observares que estou «muito calada», nem vale a pena questionares por que razão não digo nada, nem por que raio não faço barulho. O que pensar então de algumas das tuas tiradas? «Depois não digas que não te ligam…eu bem tento??»

Ó querido Jorge, tu só podes estar enganado no 96! Será que ainda não interiorizaste isso? Também já me passeou pela cabeça a ideia de estares tão baralhado dos nervos, que me confundiste com uma qualquer ‘delfim’ da tua vida: pediste-me para ser a melhor da minha turma, feito que «não deve ser difícil?».

Ok! «Não é nada comigo», sossego-me por instantes, para logo de seguida ver-te, de novo, a plantar a confusão em mim. Ligas-me duas vezes de um número confidencial – consta que apenas para ouvir a minha voz –, e, mais uma vez, me pões a reflectir sobre uma das tuas mensagens. Poderás tu saber que decidi partir desta à procura de melhor?

Ou não passam as tuas palavras de uma inquietante coincidência? É que nesta fase das minhas determinações, pedires-me para pensar enquanto é tempo e aconselhares-me a repensar a minha vida, tem muito que me perturbe. Quem raio és tu que ficas transtornado de cada vez que pensas a sério nisto? Nisto o quê? Na minha recente decisão de vida? Por que dizes que para ti é só vantagens, mas para mim não é bem assim?

Dizes que sei que me adoras, despedes-te com um beijão, mas deixas-me pr’aqui completamente perdida num infinito de dúvidas razoáveis. Sim, Jorge, eu sei que é escusado escrever-te porque não tens esta morada, da mesma forma que sei que é escusado escreveres-me sem deixares a tua morada. Mas ele há coisas que não têm explicação e parecem existir apenas para não fazer qualquer sentido.