quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

12 passos a caminho do melhor 2010 de sempre*



Está quase! Depois de vos ter embrulhado NaTal época que já passou, ofereço-vos agora 12 meses de linhas para viverem o melhor 2010 de todos os milénios. Se não ficarem satisfeitos, podem desembolsar o vosso tempo na espera da edição do próximo ano. Até lá amadureçam, não envelheçam.

Janeiro
O calendário insiste em marcar a viragem do ano para dia 1. Rebela-te contra esta ditadura de todo o sempre e elege o teu primeiro bom dia de 2010 como o primeiríssimo do ano. Mas lembra-te de lutar pelo teu melhor para não parares no tempo. Move on.

Fevereiro
Alguém, algures, um dia lembrou-se de fantasiar sobre a imagem de um tal de Valentim que era tão santo, tão milagreiro, que curou a sua amada Julinha (diminutivo de Júlia e não jolinha mal concebida) da cegueira. Resumidamente: o amor disparou cego, pouco depois ela começou a enxergar, e, por fim, o pobrezinho acabou morto, num dia 14 de um qualquer ano. Confio em ti para inventares um dia de inspiração personalizada e mais feliz. Yes you can!

Março
E vão três mesinhos de 2010 e lá vem ela. Abre todas as tuas portas e janelas e deixa que a nossa Prima em comum (Vera, claro) floresça coloridamente. A família humana do hemisfério não tropical do Globo agradece, o termómetro dos bons augúrios rejuvenesce e nem encontro palavras para expressar tudo o que as borboletas podem fazer pelo teu ser e estar. Adianto apenas que soube de fonte segura e formosa que os mais emocionalmente dotados sentem-nas sobrevoar as hormonas abdominais. Let it flow


Abril
Qual stresse de fim de primeiro trimestre, qual carapuça! Um mês que começa com mentiras, não deve ser levado a sério. Por isso brinca, brincando (lembram-se disto, crianças pré-PSP?), goza, gozando, desfruta, desfrutando e, por mais penas que te possam rodear, não as deixes chocar, ganhar asas e esvoaçar. Vais ver que, com este Carnaval fora de época, não haverá águas mil capazes de afundar a tua contagiante boa disposição. Play around (na definição não exclusivamente libidinosa)!

Maio
Como prenunciava o meu arcanjo dos cabelos cacheados, na edição pré-natalícia da Bíblia, o presente da Sagrada Família está a ser desembrulhado para este mês (hope so, hope so). Por isso, nada melhor do que uma aclamação de fé entre os melhores na Catedral. E, como a minha religião prega a tolerância, cumpre-me deixar uma palavrinha de alento para os descrentes, pobres almas que pelos futebóis vagueiam perdidas: ide festejar o dia da Europa, ide… Keep the faith (and, just in case, also the fight)!

Junho
Meio do ano e pontapé de saída para o show de bola made in África. Mesmo que a tua selecção não tenha sido para aqui chamada, considera-te por mim convocado(a). Mas fica desde já sabendo que, nos exigentes regulamentos da minha federação, vale tudo menos ‘tirar o time de campo’. Assim como assim, quero ver-te jogar segundo a tradição do continente: de braços abertos (vá, toca a violar as contenções europeias), sorriso rasgado (abre mais um pouco, abre) e muito optimismo (afinal, o que seria do tudo sem o nada?). Become your number one player.

Julho
A todos os que pela primeira vez beneficiam desta rica publicação, afixem bem isto: a minha vida exige comemoração. Dia 7, estejam onde estiverem, sozinhos(as) ou acompanhados(as) façam-se à festa. Com um bocadinho de sorte, porque engenho é coisa que não falta ao meu adorado escrete, a party estica-se até dia 11, sonorizada por vivas de HEXACAMPEÃO. You are the champion!

Agosto
Nos próximos dias, todos os caminhos metem água e areia, por isso o melhor é levares o teu camião à revisão para o poderes extravasar de excessos antes de te fazeres à estrada. Não estás a ver como? Então abre bem os olhos porque eu vejo tão mal à distância que, nestes acertos de pormenor, também não te consigo ajudar. Posso apenas garantir que sem aventuras não há gosto. Test yourself!

Setembro
Arma-te em tudo menos em parvo(a). Guerreados nove anos desde o nine-eleven, o mundo precisa de um upgrade na indústria do terror. Mas nada de imitações ‘al-qaedianas’. Espalha o pânico pelos templos dos impérios nocturnos, atacando pistas atrás de pistas e acumulando reféns aos teus passos de dança. Ai, o menino não dança? A menina também não? Não desanimem. Podem sempre levitar copos (ou corpos, it’s up to you) e disputar o título de reféns do mês! Be your best guest!

Outubro
À falta de boas notícias políticas nos primeiros nove meses do ano (raios, que não há cadeira que o derrube) este é o mês perfeito para vingar as mágoas eleitorais do ano passado. Havendo euros para isso, programa uma viagem além-fronteiras e castiga o país com o êxodo, ainda que temporário, do teu cérebro. Não havendo euros para isso, começa a mendigar por outra viagem além-fronteiras, desta vez menos temporária, e castiga o país por não valorizar a riqueza da tua massa encefálica. Caso não tenhas traumas legislativos para sanar, não te amofines. Já estás a pagar pelos teus pecados! Use your brain to fly.

Novembro
Por esta altura o pessoal das vindimas já se esbaldou (consultar o dicionário verde-amarelo). E tu? O que andaste a fazer no Verão passado, para além de ignorares as minhas valiosas palavras (ai, se o arrependimento matasse…)? Seja lá o que tiver sido, é chegado o momento de contribuíres para a riqueza pátria: por mais que te custe (nem imagino o quanto), dedica alguns brindes à descoberta das últimas tendências do mercado vinícola. Trip on it!

Dezembro
Oh, não! Já é Natal outra vez e não sabes como acelerar em 31 dias tudo o que andaste a travar nos meses anteriores? Don’t worry, mais 24 horas, menos 24 horas, mais cobrança, menos promessa, dou-te boleia no meu jacto para 2011. Here we go again

*descompassados de um tal de acordo ortográfico

As minhas almas de 2009

Olho para trás e, entre curvas, apetece-me salvar o ano com uma retrospectiva de inspiração bíblica. Ámen.


O inferno
Em Fevereiro começou aquela que a bem sofrer foi a minha pior descida laboral às trevas. Seria provisório, não duraria mais do que três meses, e chegava com prescrições de doses generosas de paciência. Mas, para mal dos meus pecados, o acéfalo manteve a determinação de assombrar a minha vida pelo tempo de uma gravidez. De tal forma angustiante, que só de pensar naquela viscosidade de gente apodera-se de mim uma indómita vontade de vomitar. Blhac!


O purgatório
Não sendo cristianizada ao jeito do Florentino Pérez, nem nada que se pareça com isso, a oportunidade é, ainda assim, melhor do que qualquer outra que em Lisboa me pudesse surgir (oportunidades em Lisboa?? Onde? Ainda por cima boas? Pois, pois…). Vai daí aceitei, até porque não tinha como recusar o convite de um accionista que salvou mais de 100 empregos, nem como boicotar os esforços diplomáticos de um director. Vai daí passei o Natal sem o meu núcleo-família e preparo-me para virar o ano longe da festa. Por isso, desde Dezembro que me sinto numa espécie de purgatório da minha vida.

O paraíso
O top mais do ano é liderado sem sombra de contestação pelo nascimento da Leonor, a segunda sobrinha, seguido da notícia do nascimento do próximo bebé, o terceiro sobrinho. Também me encheram as medidas a experiência presidencial no Estádio da Luz, a minha alforria do acéfalo, a valorização da minha bolsa de amizades com a aquisição da desordem, e o acelerar inesperado dos meus batimentos cardíacos, por demasiado tempo afrouxados.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Irresistível

Acabo de receber uma recarga de tantos miminhos que tenho de os postar para desinchar um bocado. Sandrinha do meu coração: qual guardar email, qual imprimir, qual simplesmente ler. Sabes bem que aqui a je nunca faz a coisa por menos. Além de ler e reler, gravar e imprimir, não resisto a postar os teus votos de Réveillon para mim.

O que desejo para ti em 2010 - 50 desejos (bons motivos) para o celebrar(mos)*

Que seja....


...1 o teu ano
...2 o ano da amizade (da nossa, das tuas e das minhas)
...3 um ano familiar repleto de amor
...4 um ano cheio de saúde
...5 das realizações profissionais
...6 cheio de felicidade
...7 do reencontro (em cada chegada tua)
...8 um ano ideal para encontrar um grande amor
...9 o ano da comunicação (seja pela por sms, telefone, carta, facebook, ou outra qualquer rede social)
...10 um ano cheio de paixões fortes
...11 ....................de loucuras
...12 ....................de generosidade
...13 ....................de ritmo e musicalidade
...14.....................de imaginação
...15.....................de dinheiro
...17.....................de dança
...18.....................de sol e de calor
...19.....................de trabalho
...20.....................de recordações
...21.....................de emoções
...22.....................de histórias espantosas
...23.....................de recordações
...24.....................de beleza
...25.....................de conquistas
...26.....................bom sexo (não estava esquecido)
...27.....................de sorrisos
...28.....................de recompensas
....29....................de festas
...30.....................de esperança
...31................... de vitórias do SLB
...32....................de regressos
...33....................de viagens (entre Angola e Portugal)
...34....................de regressos
...35....................de justiça
...36....................de originalidade
...37....................de experiências
...38 um ano bem Português
...39 .................. ambicioso
...40....................autêntico
...41............cheio de lealdade
...42.....................de confiança
...43.....................de sentido de humor
...44.....................de esperança
...45.....................com muitas idas à praia
...46.....................à tua medida
...47.....................em que vais dar o teu melhor
...48....................cheio de conforto
...49....................com muitas caipirinhas XL
....50...................com muitas vodkas com laranja

Afinal acrescento mais uns quantos desejos

...51 um ano cheio de batalhas ganhas
...52 um ano pacifico
...53 com muita segurança
...54 um ano criativo
...55 um ano com poucas lágrimas
...56 um ano cheio de jogo sujo (à moda de P.C.)
...57 um ano cheio de encanto
...58 um ano cheio de liberdade
...59 um ano cheio de talento
...60 um ano solidário
...61 um ano doce
...62 um ano cheio de contrastes
...63 um ano justo
...64 um ano voluntarioso
...65 um ano com muitas convicções
...66 um ano sem complexos
...67 um ano sedutor
...68 um ano cheio de força de vontade
...69 um ano sem falhas de Internet
...70 um ano cheio de surpresas
...71 um ano cheio de magia e sabor africanos
...72 um ano cheio de sucesso
...73 um ano são 365 dias, em cada um deles recebe um beijo meu
...74 um ano cheio de boas notícias...daí...daqui...de todo o lado
...75 um ano em que vou dizer muitas vezes que gosto de ti
...76 o Ano Mundial da Saudade (vou sondar a ver se já existe)
...77 o ano das bebés e dos homens da vida de Paula e Sandra (quem são eles já agora, lol)

Bora Lá!!!!


*Sponsored by Sandra Pinto

Oh, não!

Acabadinha de sair de casa, ao encontro de menos um dia para a minha reforma, vejo uma porção do meu benzido porta-chaves sucumbir ao meu apressado, porém delicado, rodar de chave. Por via das dúvidas, agarrei no pedacinho de não sei que material é aquele e enfiei-o no primeiro espaço de mala que me apareceu ao deslizar do fecho. Xô olho gordo, xô!

Gira a bola #3

Não cumpri a tradição dos sucessivos jantares. Perdi as sempre animadas trocas de prendas, não vi plantada uma única árvore de levar por casa e, tragédia, das tragédias, não acompanhei o ano de estreia natalícia da Leonor.

Pela primeira vez longe do núcleo familiar e do meu pouso passional, este ano vivi o Natal como quem explora uma viagem de desencontros pelo desconhecido, com passagem especial pelo culto dos cabazes. Ou melhor: dos mega cabazes, pacotes de géneros criteriosamente seleccionados a partir de promoções de catálogos, e tão despropositados na forma que exigem uma bagageira espaçosa para serem transportados. Tudo com tamanho preceito que não há trabalhador que não deite contas à ceia antes de deitar mãos ao cabaz que vai açambarcar.

Nisto de captar o mais possível de tudo, dou meia-volta ocular pelo mais básico dos cabazes da minha temporária cultura laboral e depressa percebo a empolgação: 15 quilos de batatas, 24 latas de refrigerante (gasosa, em terminologia local), 24 latas de cerveja, quatro garrafas de vinho, uma da espumante, conservas, azeitonas, bolinhos secos, bacalhau etc e tal.

Continuo a minha ronda pelo mundo novo dos cabazes e logo entendo a origem de uma e outra reclamação: há categorias deles onde até cabem plasmas de televisão.

Na expedição pelos excessos que tanto caracterizam esta nação, tempo ainda para me surpreender com outra tradição de época: a do amigo oculto. Presente em cada encontro de Natal e até nas comemorações de formalidade profissional, o acontecimento está para o angolano Natal como as filhós, rabanadas e sonhos estão para o luso Natal. Com a diferença de que em vez de engordarem as medidas, as festas daqui servem-se para engordar egos e status (sim, eu sei que na tuga também há destas).

Juntam-se a tantas e outras nataltrivialidades – onde se incluem ‘estendais’ de brinquedos nos passeios de venda ambulante – as novidades dos pés destapados em pleno avançar de Dezembro, da exposição de pernas, dos casacos renunciados e de tantas e tantas pequenas particularidades que é grande de gigante a minha constatação : neste respirar estreante de novos ares, invade-me uma incompatibilidade natalícia a modos que antropológica.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Resolução de fim de ano



Apetece-me uma festa. Uma mega, mega festa. Daquelas a abarrotar de caras que me são desconhecidas e por isso mesmo perfeitas para diluir todos os desconfortos dos novos vindos. Apetece-me tanto, mas tanto uma festa que não me vejo a aceitar a casa de praia, a mini-micro-nano festa e o ambiente familiar. Porque se a ideia é agarrar-me a uma alternativa como tábua de salvação, mais depressa fico em casa a sonhar com o Baleal 2009/10.

Ouvir prendas

Sem embrulhos de papel nem lacinhos para desmanchar, este ano recebi os meus presentes pelos ouvidos. E as vozes souberam-me tão bem que estou a pensar inventar uma linha sonora (a interior já cá canta) para, em caso de desespero, telefonar para mim própria.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Dieta boa



Acredito que com tantas porcarias de comer que tenho ingerido, já terei arredondado as formas que por tantas e tantas vezes nos últimos tempos ouvi dizer estarem demasiado atenuadas. Mas à falta de um par de calças menos folgadas de confirmação (só leggings na bagagem), é sobre outra dieta que me dedico a postar. Está na fechadura da porta de entrada, tem cor azul e diz a minha recém-descoberta tia que serve de protecção contra indesejados olhares. Xô olho gordo, xô!

Foi Natal, foi Natal?

Ouvi a proposta como quem lê algumas das notícias de 1 de Abril. A sério? Cheguei há uma semana e já me querem oferecer um voo ao encontro de um Natal com a minha lovely family? Com o brinde extra de poder ser desembrulhado num Ano Novo entre as minhas pessoas? Sim, aceito. Sim, quero muito.

Mas não. Não havia voos TAAG que concretizassem os meus desejos de reserva, e continuei sem lista de embarque ao cabo das duas últimas ansiosamente vividas semanas.

Foi assim que em vez do clássico reencontro familiar, ganhei um lugar numa c(ad)eia de novos elos familiares. Um tio, uma tia, três primos, duas maritalmente adjudicadas primas, três sobrinhos ( um dos quais ainda no ventre), e todos tão genuinamente família que, mesmo sem o caril de coco, o caril de amendoim, a matapa, o camarão tigre e tantos outros mimos caseiros, por um bocado de 24 que tenha sido, não me faltou o Natal.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Distribuição automática



Amigos, colegas, ex-colegas e pessoas em geral que têm a boa sorte de compor a minha lista de contactos

Podem parar de rezar porque as vossas preces acabam de ser ouvidas. Uma vez mais, fidelíssima à minha tradição de marca, realizo o meu principal sonho de consumo da época e embrulho-vos às minhas Festas.

Façam-se Felizes :)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Aleluia!

Afinal não era mito. Ele existe mesmo! O tal! Competente de dar nas vistas, e ainda por cima inteligente, informado, com sentido de humor e aquela pinta irresistível de intelectual. Ui, ui, lá terei de refrear os suspiros no nosso próximo trabalho.

Best of

Faço-o por gosto e, ainda assim, canso-me, indiferente ao peso das mais enraizadas tradições populares. Carta após carta, fui contando assim os primeiros dias da minha estreia em Luanda.

Estava à espera do melhor momento para vos escrever estas linhas, mas desconfio que a oportunidade de teclar novidades no sossego de casa pode nunca chegar. Então, à falta de net ao domicílio – ora o problema está numa avaria de sistema, ora a pessoa responsável foi a um casamento, ora isto, ora aquilo, já lá vão duas semanas de insistências – aproveito a redacção para enviar algumas das minhas primeiras impressões.

XXXXXXXXX

Estou a viver em Alvalade, que, já me tinha constado, é uma zona ‘bem’ da cidade. O que não imaginava é que teria o conforto dos pastéis de nata e dos pãezinhos alentejanos. Abençoados tugas que por cá andam… Mas, apesar da boa referência da zona, confesso que assim que estacionei a visão sobre o prédio que me aloja receei pela minha vidinha. O que vale é que, apesar de o edifício preencher todos os requisitos para ilustrar um postalito de guerra, o apartamento é porreiro.

Excluindo a ausência de net, que me tem barrado as ansiadas ligações de fim-de-semana à família, não me falta nada. Tenho ar condicionado, TV cabo com os canais que me enchem as medidas (Globo, AXN, FOX’s para vários gostos e, mais importante ainda, a Sport TV África com acesso aos jogos do Glorioso), empregada doméstica de segunda a sexta-feira (Uau! Pensei que nunca na vida teria tal coisa) e segurança, embora nunca me tenha sentido ameaçada. Em suma, todos os confortos da minha bela cave de Odivelas e mais alguns.

O cubico (vá, toca a interiorizar o vocabulário palanca), também oferece a particularidade de ter uma casa de banho que, de quando em vez, se abre, à passagem do segurança – contratado especialmente para guardar os moradores (eu incluída) dos dois apartamentos da empresa no building. Felizmente, foi a lavar as mãos que dei conta de que o dito usa a zona da lavandaria (para onde dá a janela da minha ‘casinha’) como seu quartel-general. A partir daí passei a barrar o acesso às minhas intimidades com o tapume que esteja mais a jeito, seja uma toalha ou um lençol.

XXXXXXXXX

Comecei a bulir logo no segundo dia (queriam dar-me folga, mas não senti necessidade); já escrevi umas tretas (que espero saiam em português que não me envergonhe, porque não tenho forma de ver os textos em página e acompanhar os cortes); rio-me diariamente com as peripécias made in África ( hoje a empregada cá do jornal deitou o meu almoço para o lixo porque pensou que estava esquecido no frigorífico, imaginem a minha cara de tacho a imaginar o que teria acontecido ao pitéu) e não deixo de me arrepiar com algumas cenas (ainda há pouco passou por mim um ratinho todo abusado, que, já me inteirei, faz parte de uma ‘família’ aqui do sítio).

XXXXXXXXX

Já fui a alguns restaurantes (tudo cá é um absurdo de caro) e ontem estive na Ilha de Luanda (acesso por carro, ao contrário do Mussulo que implica travessia de barco), onde está um dos circuitos mais concorridos da noite. E por falar em night, nem me atrevo a sair sem escolta masculina porque, pelo pouco que se vê nas ruas (pouco porque aqui raramente se anda a pé), o assédio nesta pátria é muito duro.

No sábado fui a um dos spots mais in para danças (Chill Out) e adorei a parada. Espaço catita, música boa, calor, gingado…. Enfim, não me faltou nada. Fui com o meu amigo tuga que está a bulir a 60 km de Luanda e que vai ser o meu grande companheiro de batida por cá.

Mas como não há party que não dê em aventuras, este fim-de-semana manchei completamente a minha reputação: o meu segurança de prédio ficou a olhar para mim com ‘aqueles olhos’, provavelmente por ser ‘perdida’ a ponto de desfilar com um camone e, depravação das depravações, por deixa-lo dormir lá em casa. Uma escandaleira pegada!

Outro pormenor nada interessante cá do sítio: os copinhos de leite como vocês são presa fácil para os polícias. São recorrentes os casos de infracções inexistentes, inventadas à medida dos bolsos dos senhores da farda (ninguém quer arriscar um problema com as autoridades). Como o meu amigo tem a cor do crime, saí de casa prevenida com o número de um colega que, garantem-me, safa tudo e todos à distância de um telefonema.

XXXXXXXXX

Mais choque, menos choque, tenho resistido leve e solta, sorriso no rosto, havaiana no pé e sempre com o pensamento no retorno de tudo isto. Entre outros mimos, dizem-me que em Fevereiro teremos uma formação em Finanças na Católica cá da banda.


Gira a bola #2

São carros atrás de carros. Entopem o estacionamento do precário aeroporto, engolem os passeios e ajeitam-se em qualquer buraco que se vislumbre nos indescritivelmente engarrafados caminhos. Hummers de colocar os Yannick Djalós da estrada no boeiro, bombas que a minha ignorância automobilística não consegue marcar, e peças dignas de figurar dos negócios declarados daquele Godinho que ficou com a cara a descoberto.

Num desfile intenso e diário de bólides, por vias sempre e sempre congestionadas, exibe-se toda a sorte de manobras de transgressão: ai, olha mais um em contramão, ui, que aquele passou o vermelho, xiii, quase que se espetaram.

Pára e arranca, pára, pára e não avança, as viagens arrastam a paciência e esgotam conversas pelas crateras de asfalto e terra batida. Ouve-se uma rádio, muda-se para outra, e da janela avistam-se colecções de venda ambulante, onde aos habituais CD’s e jornais se juntam fatos Armani, máquinas de barbear e aquelas feiuras de calçar afamadas pelo nome de crocs.

Na paisagem do caos da cidade, a construção de empreendimentos de luxo destoa da profusão de edifícios com marcas de guerra, enquanto os táxis da praça, unicamente de nove lugares, ensardinham mais e mais passageiros, aparentemente desligados das mais elementares preocupações de segurança.

Também observo crianças. Sujas, descalças, esfarrapadas, invariavelmente à caça de uns kwanzas de negócio. Poucas são as que se perfilam num caminho de escola e muitas acompanham a batalha diária das mães, guerreiras armadas de alguidares, carregados de frutas e legumes. Pergunto-me pelos maridos e pelos pais e estaciono num destino que dispensa respostas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Acerto de contas


Assim que me passaram o computador para as mãos, convenientemente aldrabado na sua configuração (a avaliar pela porrada de actualizações constantes e janelas de conteúdo suspeito), tratei de confirmar o acerto dos ponteiros. De hora marcada pelo ritmo de Angola, os meus dias seguiram pontualmente cronometrados, até que, sem aviso prévio, o relógio achou por bem se (des)regular segundo a hora portuguesa. E esta, hein?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Caso clínico

E quando eu penso que já comemorei de todas as formas, defeitos e feitios, eis que descubro num candeeiro de pé o calor de uns braços abertos. À falta da minha boa gente, pelo menos tem estatura humana.

Efeitos colaterais

Os postes de iluminação atravessam os dias sempre ligados. O micro-ondas continua a girar até que alguém se lembre de reagir ao apito final. No café, em vez de um, servem-se dois pacotes de açúcar. À imagem do ego nacional, sucedem-se os exemplos de megalomania, que agora vejo transplantados para o meu subconsciente ser.

Como se não bastasse sonhar com um Presidente Nobelizado, capaz de se expressar num português perfeito, tornei-me tão tu-cá-tu-lá com ele que, depois de lhe sacar uma entrevista exclusiva, passei a frequentar o círculo de intimidade da Casa Branca. Está visto que basta uma gaja deixar-se dormir para acabar contagiada com a tão angolana mania das grandezas.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Special one


Já agora, aproveito a ligação ao canal família para postar a última big happy new. Veio comigo de Lisboa, tem origem em Marselha, mas, à cautela da concepção só agora me consinto partilhá-la: um, dois, três, vou ser titi outra vez.

Vitória, vitória



Pedi um sinalzinho, recebi um sinalzão. Por isso, neste fim-de-semana comemoro o tão ansiado facto de estar ligada a partir de casa. Abençoada sejas internet, que já me colocaste frente-a-frente com o papá e a mamã, as duas manas, as duas sobrinhas e os dois cunhados. O coração agradece!

A mensagem

Conheci-o ainda nas minhas curtas férias de Verão (tão curtas que o soleil ainda me deve três semanitas na boa vai ela). Recém-chegada dos excessos excessivos de Ibiza (jamais trocarei um approach de sedução por manobras explícitas de engate), retomo a tradição das ladies nights, ainda que em companhia inesperada.

Amiga Paulinha de férias, euzinha de volta ao circuito lisboeta, novidades de parte a parte na troca das nossas bagagens, aquela caipirinha de arranque no Bairro dos nossos bons costumes, et voilà. W para começar, Plateau para continuar e, algures na noite, um José para me tentar. Sem disposição para coboiadas, mas sempre animada para uns passos de dança e de conversa, lembro-me de não ter registado quase nada da conversa. Mais do mesmo, mais do mesmo, muito diferente daquele tal que me fez elevar a fasquia e disparar o coração.

Já de saída, nada faço para me desviar de um selinho de momento, mas recuso digitar o meu número no telemóvel dele. Pouco depois via-me a promover os instantes que me deveriam ter distanciado em definitivo dele, mas que acabaram por me fazer guardar o meu cruzamento com ele. O José não desarmou quando o desafiei a decorar o meu 96. Pelo contrário, olhou fundo nos meus olhos e um ou dois dias depois enviava-me a mensagem daquela desconcertante memorização. Respondi sem hesitar e sem esconder o meu espanto, mas como nunca obtive retorno convenci-me de que havia ali mais qualquer coisa. Uma namorada recuperada, uma não-namorada desencantada, um distúrbio comportamental, alguma coisa havia de ser.

Passaram-se os meses, aqui há tempos tropecei no número dele e decidi mandar-lhe uma sms, livre de segundas ou terceiras intenções. Mas, de novo, vi os meus impulsos de comunicação serem travados por um estranho silêncio, ontem por fim quebrado. Através de uma mensagem de um número entretanto extraviado, ele pede desculpas pelo desaparecimento, justifica-se com uma mudança para França, e comunica-me a vontade de estar comigo no regresso a Lisboa. E eu mais e mais convencida de que o José nasceu mesmo para me surpreender.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Direitinho para o Livro Amarelo

Reclamação acumulada nos últimos dias: pedem-me notícias, mando notícias, querem mais pormenores, não enjeito uma prosa. Bem sei que a escrita é uma extensão do meu ser e do meu estar, mas estarei a pedir muito ao desejar uns regalos de novidades em troca? Fofocas, aventuras, futilidades, nadas e afins…é assim tão difícil captar que todos os pretextos são válidos para me entupirem o correio electrónico? Eu, expatriada, reclamo a reparação desta injustiça que tem sido escrever, descrever e discorrer e, ainda assim, permanecer sem respostas decentes aos meus esforços de nada perder.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Gira a bola #1



Informação de última hora: todas as semanas, no dia em que calhar, postarei as minhas aventuras e desventuras de expatriada. A partir de já, e com reflexos retroactivos.


O peso das primeiras impressões sobrecarrega-me desde Lisboa. Tinha três reservas em meu nome, repetiam-me que de Luanda ninguém se lembrara de regularizar a situação, e, sem mais opções, vi-me obrigada a pagar uma tal de taxa de penalização. África, pensei!

Muitas voltas e um dia depois, com as bagagens para trás e para a frente, voo ao encontro do meu destino, quando, logo no avião, bato de frente com o jeito mwangolé de ser. Além do puto que não se calava por nada, insistindo numa cantoria esganiçada de não sei o quê, sob o descaso completo da mãezinha do ano, deparo-me com as interrogações típicas de um enigma.

Bola lida, Visão no saco, alternada por uma revista cor-de-rosa (que ainda nem folheei) e…cadê o Público? Inspecciono à toa tudo quanto é buraco à minha volta e , meio ensonada, estaciono as vistas sobre o passageiro da esquerda. Observo-o em cada gesto de leitura, ouço o sotaque denunciar-lhe a origem angolana e imagino uma idade compatível com a cabeça grisalha. Naaaa! Volto a inspeccionar tudo quanto é buraco à minha volta e, já resignada, direcciono a dúvida. «Por acaso apanhou o jornal no chão?».

Naaaa! Com a maior das descontracções, o senhor explicou-me que sacou o jornal da arrumação de costas do meu banco. De queixo caído, boca aberta e um sem número de sinais de estupefacção, ainda não sei como consegui articular as ideias: «É que o jornal é meu e ainda não o li». Safa de um linchamento que senti iminente na troca de olhares , lá recuperei o jornal e tratei logo de averbar o retrato da situação ao meu álbum de angolanices. Eta, povão abusado!

Durmo mais um pouco, por mais um pouco questiono a minha resistência às personalidades de nacionalidade angolana e, entre sonhos, o tempo de aterrar apanha-me já descansada. Pé em terra firme, passagem obrigatória pelo controlo fronteiriço e, de repente, ultrapassa-me um novo sinal de inquietação: qual beneficiário único de uma via verde improvisada, um grupo de 10 ‘importantes’ segue livre o caminho de desrespeitar a espera dos outros.

P*** que pariu as vipalhadas, grito em silêncio para o meu interior, ainda impregnado de decoros europeus. Encaixado o devido ajuste, avanço em força com o pensamento centrado nas plastificadas bagagens, e, quase uma hora depois – sofrida entre a agonia de perder três meses de vestes e a desconfiança, semeada por um angolano, de que as bagagens estavam a ser devidamente arrombadas – recupero o conforto na leitura de um cartão com o meu nome. Luanda recebia-me no masculino.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Flash-back

Passam-se os dias, consomem-se os meses e, num mastigar demasiado lento do tempo, obrigo-me a digeri-lo. Já (eno)imunizada contra acessos indigestos, esbaldo-me seguindo leve e solta até que uma imagem televisiva me impõe uma paragem abrupta de digestão. É então que me perco em saudades, é então que reincido na vontade de o ver mais uma vez.

Permuta



Troco metade dos mais de 100 canais que tanto me acompanham por um sinal. Pode vir fraquinho, mas o importante é que venha e que, apesar de todas as suas limitações, consiga resgatar as minhas ligações domésticas à rede global. Por um sinalzinho de internet que seja, juro que até sou capaz de renunciar a um trono com vista Fox.

Check-in


Houve muito interrogatório, as manobras de extorsão sucederam-se, e só faltaram mesmo as técnicas de tortura ao jeito de Abu Ghraib para a caça à informação ser completa. Mas, ao contrário do que tanto se especulou, o meu voo estava marcado para segunda-feira, 30 de Novembro. Não para terça-feira, dia 1. E, a confirmar o que por lá me constou, o meu voo não descolou na segunda-feira, 30 de Novembro.

Num episódio revelador do que por cá acontece, fui ao aeroporto, dei umas voltas ao balcão da TAAG, desdobrei-me em telefonemas, e, depois de desembolsar 101 euros (ainda não reembolsados), adiei a partida para o dia seguinte. Aterrei em Luanda perto das 19h de terça-feira, 1 de Dezembro mas, com muita neura minha, o que me tem sobrado em inspiração para escrever, falta-me em condições para o fazer.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Olhos em brasa


Por mais turvas que estejam as minhas vistas, enubladas por lágrimas que teimam em escorregar (a este ritmo voarei completamente desidratada), seria impossível não repararem nas ‘chatisses’ que por aí vão. No mínimo chatices a dobrar!

Pedro, o conquistador

Recebi a notícia ontem, que é como quem diz dois dias depois do grande acontecimento, que é como quem diz no domingo da nossa eliminação, que é como quem diz numa jornada de pura desilusão.

Dormi imenso, entupi-me de porcarias de comer, deitei abaixo 1 litro de coca-cola, enervei-me com a bola, mas em nenhum momento senti aqueles feelings novelísticos que prenunciam mudanças marcantes nas vidas de outras tão nossas pessoas. Lembro-me apenas de pensar na minha mais recente grávida, naquele jeito clássico das contagens decrescentes.

«Será que já foi? Será que é hoje?»
Pois bem que correu bem. Diz a minha recém-mamã que «o Pedro Afonso, o catraio mais jeitoso, nasceu dia 22, com 3,470 quilos e 51 cm». Digo eu que o meu primeiro sobrinho é muito bem-vindo, e desejo eu que nunca lhe faltem reinos para conquistar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quem é amiguinha, quem é?

A conversa vinha não sei de onde. Qual salvadora das alminhas perdidas, personagem que baixa em mim nas boas acções de diversão nocturna, fiz questão de orientar o espírito anónimo que por ali deambulava:

Tens a certeza de que queres mesmo ir para o céu?, perguntei-lhe.

Yada, yada, yada, insistia que sim, e eu, sem mais conversas, resolvi apelar:

Mas sabes que o céu está cheio de anjos, não é?

Ele sabia, mas parecia distraído das más implicações. Vai daí a amiguinha lembrou:

Olha que os anjos não têm sexo!

Depois disto dei meia volta e fui pecar mais um pouco pelo meu lugarzinho no inferno.

Palavra-chave


Olhou, fixou. Cercou, ficou. Falou, conversou, dissertou. E eu ali firme na minha armadura. Eis então que com uma palavrinha apenas tudo se desbloqueou: B-E-N-F-I-C-A! Irresistível.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Anatomia do choro


Cena atrás de cena, ainda estou à espera de um episódio não chorado. Mas, invariavelmente, acabo desarmada pelas minhas emoções. Pode ser ao fim de alguns minutos (desconfio que hoje bati um novo recorde), ou mesmo no final da acção do dia. Certo é que a intensidade de Anatomia de Grey molha-me sempre as reacções.

Agora a sério



O derradeiro questionário chegou-me na data prevista. Por e-mail, fiel à tradição dos precedentes contactos, as minhas respostas seguiram rendidas à criatividade dos quizzes, à variedade das aplicações, à programação das festas, mas, acima de tudo, à dinâmica que consegue imprimir às comunicações. Mal sabia eu que enquanto teclava sobre ele vivas de avaliação, o dito servia de plataforma à organização da minha mais recente surpresa de refeição. Agora, sim, estou nisto de facebookar por minha conta e risco.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Resumo afectuoso

Primeiro o convite vitalício dos 30:

SURPRESA!
Com que então pensavam que ia deixar passar os 30 em branco? Tenho a dizer que estavam enganadas. À minha boa maneira, decidi comemorar a data sobre o próprio acontecimento. Não que entenda este dia como um importante marco de passagem - porque não entendo - mas porque não resisto a rebolar sobre os arredondares da idade.

Afinal são 30! 30 anos que não cabem numa qualquer festa e menos ainda num estereotipado jantar. Assim, em vez da praxe das danças ou da tradição do garfo e faca, achei por bem celebrar mais uma viragem etária da única forma que me enche a vida de sentido: com mais vida.
Por isso convido-vos a não faltarem às minhas comemorações, desafiando-vos a marcarem presença na festa dos próximos 30 anos da minha vida. Afectuosamente renováveis.
Obrigada por completarem a minha história.

Agora a reacção às mensagens pela minha partida:

Entre sorrisos e lágrimas, leio-vos em cada letrinha que escreveram. Leio-vos hoje, li-vos ontem e, mais perto ou mais longe, continuarei a ler-vos sempre e a marcar a sorte de vos ter no volume mais importante das minhas colecções de vida. Obrigada por me darem tanto para ler, neste mundo tão cheio de seres em branco.
Adoro-vos.
Beijos torrenciais


Decididamente, 2009 tem sido um ano fértil em declarações de afecto.Por isso,ainda que incompleto da sua metade, o meu coração vai cheio.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Not by the book



Nem vale a pena tentar alcançar o que lhes entope a cabecinha. Mas não consigo evitar o esforço. De cada vez que os meus ouvidos captam a emissão de um piropo not in the book os meus neurónios perdem-se na busca de alguma lógica. Hoje deram-me os parabéns embrulhados num elogio à minha estética de origem. Parabéns?! Ainda se fossem traços cirúrgicos….

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Progressão na carreira

Dali não há ‘pitosguice’ que me comprometa. Vê-se tudo com tamanha nitidez que achei-me algures numa daquelas afamadas transmissões em alta definição, ou HD para os mais amigos. Olhava para a frente e sentia-me capaz de tirar as medidas ao meu arcanjo David. Ai, o quanto eu sou enamorada por aqueles cachos capilares… Olhava para o lado e via o meu querido Presidente ladeado por um dos meus Lobos de eleição. Ai! O quanto eu gosto de remoer escritos de angustiada reflexão.

Virava e revirava a cabeça em busca de outros notáveis, quando inadvertidamente me encontro a lançar a intriga no cérebro da minha abismada chefia (‘como é que conseguiste este lugar?’). Para baralhar ainda mais as hierarquias, meti conversa com gente de Direcção na Saúde, acerquei-me de ministros estrangeiros, troquei impressões de ocasião com empresários ainda sem face oculta, desfilei um pouco da minha vaidade pelo momento, e, revistas as modas, só lamentei o comedimento das reacções.

Nem ***alhos, nem **da-ses, nem **** que o pariu. E eu ali, socialmente correcta, a reprimir as minhas falas praguejadoras e a semi-invejar a sorte dos que lá em baixo cantavam, insultavam e abusavam de um futebolês acirrado por quase hora e meia de insistências. Completamente ‘implodida’ de nervos, só aos 89 minutos tive a minha grande oportunidade de explodir: GOOOOOOOLLLLOOOOO. Entre abraços e cumprimentos, distribuídos pela família benfiquista no meu perímetro, comemorei a queda da muralha naval e, de um rasgo, invadiu-me a pedante certeza de que alcancei um dos pódios da minha carreira de adepta.

E, para completar ainda mais a minha consagração, desta vez, ao contrário do que aconteceu no caso do envelope, não senti olhares de julgamento moral. Desta vez, sentar-me na tribuna presidencial do meu Glorioso Estádio iluminou de tal forma o meu ser que a experiência já se projectou no meu estado laboral. Parece que agora sou uma trabalhadora de invejado gabarito social.

domingo, 8 de novembro de 2009

Má fama


Dá para os dois lados. Ou ficam com a mania de que são irresistíveis, ou revelam as prudências dos que sabem que são mais apetecíveis. Sinto isto de cada vez que os encontro pelos meios que não lhes são exclusivos. Actores, pseudo-profissionais da bola, músicos, modelos…já me cruzei com tantas e tantas caras de méritos meramente mediáticos, que não lhes consigo reconhecer um carácter especial. Mas sei-os diferentes e confirmo a diferença no enxame de olhares e presenças que os cerca a cada aparição. Por isso comecei por ignorar o toque quando ele passou por mim. Por isso deixei-o olhar-me e comentar-me sem lançar-me às negociações. Por isso demorei uma noite inteira numa corte de danças e de fitares. Por isso travei os meus impulsos quando tudo o que mais queria naquele momento era avançar. E, por mais que tudo, desejei desligar o efeito de uma televisão sobre nós.

Sozinha, mas bem acompanhada

Fui com as expectativas diminuídas pelo antecipar do encerramento, mas, logo à chegada, animaram-se-me as perspectivas. Vi o descampado de carros composto, observei grupos em alinhamento para a entrada e revivi um cheirinho dos meus primeiros tempos naquela plateia. Apesar da chuva de irritação miudinha, dos sérios riscos de palpitares involuntários e das contingências dos planos de trabalho, a noite punha-se deliciosamente perfeita para a festa. E eu ali, sem outras combinações de resposta que não uma companhia de curto prazo. Então insisti nas comunicações.

SMS para lá, nada de confirmações para cá…e, às 2 e picos constatei que todos me falharam até acabar ali sozinha. Rodeada de desconhecidos, à conversa com um e outro candidato a meu não sei o quê, e parada em cruzamentos com mãos cheias de conhecidos, alegrei o mais que pude a minha despedida daquele acontecimento. Vai fazer-me falta a festa, pá!
 

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Festa privada

Sempre privilegiei o emocional ao físico porque sou um ser de espécie sentimental. Do tipo de me agarrar às pessoas de modo irreversível, e também de me afastar de forma irreconciliável. Mas se por um lado não sinto qualquer dificuldade de enlaçar-me a novas amizades, por outro reconheço que nunca consegui ligar-me facilmente às minhas pessoas-metade.

Então carrego, por pequenas eternidades, vazios passionais que vou preenchendo com estímulos ocasionais de prazer. Isto sem que tenha de prescindir da humanização, ainda que superficial dos contactos. E, como nunca senti a ausência física desses contactos, nunca senti a necessidade, e nem sequer a curiosidade, de experimentar uma via artificial. Nunca até hoje, dia em que o trabalho me rendeu a oferta de um pequeno brinquedo vibrante.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Uma semana depois de me libertar do acéfalo estou tão em paz, mas tão, tão em paz, que as nuvens parecem estar ao alcance de um genuíno sorriso.

Afluentes e tais*

O meu coração parou naquela mensagem. Com a caixa de entrada escancarada, enfrento a pergunta da inquietação: «Estás sentada?». Como estava deliciosamente aninhada sobre as minhas cada vez mais esporádicas aventuras literárias, assumi o risco cardíaco de continuar a leitura. Toda eu coração em ponto de manteiga, quase me atropelei com as palavras do meu instantâneo sobressalto: «Uma amiga da N. ‘limpou o teu Rio’!»Incrédula com o conhecimento dela sobre o nome que nunca partilhei dele, gelei até às estopinhas antes de, por fim, conseguir recuperar a lucidez: Rio Ferdinand! Sim. Era do Ferdinand de que se falava.

*conto de uma noite de Verão

domingo, 1 de novembro de 2009

Os laços e os nós

Antes ainda de acabar, já me bastou. O drama, que nem a maior sensibilidade do mundo consegue alcançar sem vivenciar, percorre o ecrã da minha LG sem que eu veja nele o principal dos dramas. Não é o facto de as famílias colapsarem e de haver tantas e tantas crianças institucionalizadas que mais me perturba. Ao olhar para as imagens, senti-me incomodada com a falta de limites, com o ‘vale tudo’ que a pretensa necessidade de informar insiste em propagar.

Como é possível entrevistar-se miúdas de oito, 12, 15 ou 16 anos, explorando-se-lhes os mais enegrecidos traumas? Como é possível confrontá-las com os demónios que desde cedo as acompanham, e que a instituição que as acolhe deveria fazer por exorcizar? Tudo isto sem reservas de identidade, sem aparentes preocupações com a sua ‘especialidade’, tornando-se aflitivo vê-las recalcar, de frente para uma câmara de televisão, angústias de uma infância e de esperanças perdidas. Seja nos olhos ‘descaídos’ de uma, nas lágrimas travadas de outra, ou nos sorrisos constrangidos e descontextualizados dos entristecidos discursos…

Tudo na forma como se formatou a presumida grande reportagem levou-me a rejeitá-la aos primeiros planos e a desejar o indesejável: a intervenção de uma entidade esotérica, também conhecida pelo nome de ERC.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

É penalty

Vai acima, roda ao centro e deita abaixo. À penalty, ordenava eu. Penalty? Expliquei o conceito extra-futebolístico da expressão e, em troca, explicaram-me uma outra derivação do termo.

No fim-de-semana madrileno que passou, descobri que entre nuestros hermanos existe um penalty associado a um toque de barriga: assinala-se quando o casamento é marcado por uma grávida no altar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O meu par



Começámos pelas linhas. 12? Já em esforço, fiquei-me pela segunda.

Partimos para o relevo. Onde? Arrisquei nos sombreados, à laia de uma desconcertante hesitação.

Passámos também pelos círculos. Números? Qualquer coisa servia-me, desde que se confirmasse o recheio.

No final, comprovei na apreciação uma velha consciência adquirida nas bancadas do terceiro anel da Catedral.

Abreviando: eu, pitosga, pitosga, tenho vivido num mundo cercado por tantas FNI’s* à distância que preciso mesmo de um par de óculos para me focar.
 
*Figuras Não Identificadas

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sobe, sobe, avião sobe


A licença patronal está oficialmente autorizada e o visto formalmente pedido. Incluem-me na lista de passageiros de aterragem prioritária e sugerem que me vá preparando para voar. Mais dia, menos dia, Novembro espreita-me de cima.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eta, coração burro!


À primeira vista nada. À primeira conversa já qualquer coisa. Agora um convite para jantar, enlaçado com muito mais do que palavras de ocasião. E eu, burra de coração, incapaz de aceitar. Incapaz de arriscar uma nova sorte por não querer tripudiar sobre a sua má sorte de ter despertado para mim.

Foi assim que aconteceu

De repente senti-te num aprisionar de olhares. Ouvi a música silenciar-se nas ondas de um maximizado volume e segui a elevação do teu sorriso. Tu puxaste-me para o nosso primeiro encontro e o tempo congelou-se naquele instante.

Segredei-te necessidades enquanto me cercavas os movimentos e, entre falas ao ouvido, despedi-me com um ‘volto já’ antes de retomar o percurso que me distanciava do teu caminho. Pouco depois regressei e depressa estranhei experimentar aquela instantânea proximidade.

Como não estavas à minha espera onde te encontrei, procurei-te por uns curtos porém largos minutos e, num qualquer instante, lembro-me de ter sofrido a tua ausência. Mas acabei por ignorar os sinais de alerta cardíaco, e logo recuperei a animação do meu espaço de danças.

Confesso que parecia fácil demais apagar-te da minha existência quando tudo se complicou. Foi aí que reapareceste do nada e num nada ‘aconteceste’. Sem os gingados que me aceleram o descontrolo, nem os ‘pecados’ que me desaceleram os entendimentos, desarmaste-me com um tal de je ne sais quoi que me deixaste hipnotizada.

Quis não resistir mais e entregar-me logo ali, mas comecei por recusar quando me pediste um beijo. Convencia-me eu de que apenas queria desfrutar da tua interessante companhia! Como não acreditaste, insistindo, acabei por ceder ao teu toque até me perder numa teia de intensas cumplicidades.

Gravei a música do nosso primeiro beijo, tentei seguir em frente sem olhar para trás, mas vi o destino juntar-nos outras e mais vezes. Apresentaste-me amigos, cheguei a conhecer-te um primo, convidaste-me para um círculo de intimidade e, numa boa ocasião, declamámos juntos o Pessoa da minha literária adoração.

Foste quase perfeito até te revelares demasiado imperfeito, e quase me fizeste completa antes de me deixares dolorosamente incompleta.
 

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Obrigadinha, Pedro!

Nunca estivemos tanto tempo separados, porque estamos destinados a vibrar juntos. Primeiro na idade da pedra, agora na era do estofado de plástico, percorremos tantos e tantos desafios, estivemos em tantas e tantas provas, que não sei como vou sobreviver longe dele. Seis meses? Pelo menos seis meses? Depois, para baralhar ainda mais o meu naipe de emoções, recebo conteúdos destes, de inspiração tão, mas tão lacrimejante, que fico ainda mais convencida de que não conseguirei resistir a essa prolongada abstinência. O que vai ser de mim sem o meu Glorioso Estádio?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A minha ignorância é melhor do que a tua

No outro dia partilharam comigo dois dos nomes ‘especiais’ que uns e outros funcionários da Câmara de Lisboa, portugueses instruídos (no sentido puramente académico do termo, leia-se), usam para se referirem ao reeleito presidente António Costa. O primeiro – chamuça – inspira-se num salgado bem popular na tradição goesa que lhe fundou as origens – enquanto o outro – bolacha torrada – assenta numa dupla atacante: bolacha dirige-se à sua arredondada figura, torrada destaca-lhe o tom não-branco de pele. Entretanto, leio no pasquim mais pasquim da praça que também o fadista João Braga revela um peculiar ‘apreço’ pelas raízes do autarca da capital.

Racismo? Trocadilhos de fraco gosto?

Assim de repente, respondo que ambos, e, assim de repente, lembro-me de tantos e tantos outros ‘mimos’ do género que só me dá vontade de rir quando assisto às reacções do dia. Então vem-me à memória o rescaldo de uma cena de violência que encontrei numa saída recente pelo Bairro Alto: um miúdo com o sangue a escorrer pela cara, polícias no encalço da ocorrência e um grupo de meia dúzia de amigos zelosos.
«Já houve merda», comentávamos no nosso afro-trio, segundos antes de ouvirmos alguém gritar assim o relato do mau acontecimento: «São estes pretos que só vêm para aqui fazer merda». Atenção, pára tudo! Não são as pessoas que fazem merda, são os pretos!

Exemplos como estes sobram-me das experiências destes meus 27 anos de Portugal e 30 de vida. Aliás, já aqui postei uma situação dessas. É por isso com resignada naturalidade que visito os espaços de discussão online sempre que o tema em debate ameaça beliscar ‘honras e sensibilidades nacionais’.

Hoje, dia em que o direito à indignação decidiu possuir os internautas deste Portugal tolerante com a sua ignorância mas implacável com a ignorância alheia, as minhas viagens levaram-me à caixa de comentários do youtube e de alguns sites de informação. Deixo-me aí estar o tempo de umas opiniões e não consigo ficar indiferente ao chorrilho de barbaridades que orgulhosamente se publicam: «preta de pele virada», «vaca como todas as outras que andam por cá», «brazuca de merda» e tantos outros impropérios que, em poucos escritos, o portuguesinho consegue superar a estupidez dos ditos no vídeo.

Com argumentações destas até consigo imaginar os pressupostos que inspiraram a verborreia tacanha da Maitê. Afinal, quantas e quantas vezes tive de ouvir a história dos pretos que, em África, vivem todos em árvores e comem com as mãos, ou do preto e da preta que até são bonitos e inteligentes, como se a beleza e a inteligência fossem exclusivos da ‘raça superior’. E o que dizer então da minha fluência no português, apesar da minha evidente ‘africanidade’? Também nunca me esquecerei de uma definição que, ainda na primária, encontrei num dicionário da Porto Editora. Dizia mais ou menos isto: catinga = mau cheiro proveniente da pele dos negros. Significaria isto que o mau cheiro emanado das peles brancas não é catinga? Ou que as peles brancas são naturalmente bem cheirosas? Incorporassem em muitos uma câmara oculta e não haveria espaço para Maitês de indignação.

Por favor! Olhem para os vossos telhados! Quantos dos que agora vêm posar de ofendidinhos têm legitimidade para falar? Sentem-se humilhados? Ridicularizados? Atacados? Traídos por uma actriz que tanto acarinharam e que até fizeram questão de homenagear nos espectáculos que a dita apresentou cá na «terrinha»? Acham, de facto, que a quantidade de baboseiras gravadas por Maitê Proença merece tamanhos achaques? Ou terão visto neste episódio a oportunidade de aliviar tensões carregadas de verde e amarelo?

Tudo bem que não sou portuguesa, tudo bem que amo o Brasil, mas, pátrias à parte, a única coisa que consegui ver depois de assistir às tão comentadas imagens foi uma idiotice pespegada. Vi uma tipa o tempo todo em tom de deboche e com um ar de transe, ouvi um discurso arrastado e imprecisões grosseiras sobre a História de Portugal, deparei-me com uma caricatura de hábitos que também eu associo ao tuga, e, encontrei tantos, mas tantos excessos e absurdos que pensei: o português que se sinta melindrado com isto precisa mesmo de ‘se achar mais’.

Estou apaixonada!


Dava por mim a ler uns versos com o mesmo interesse de quem lê as cláusulas de um massificado contrato da EDP. Achava eu, naqueles tempos, que só havia poesia se houvesse rima. E como o som metrificado acabava por me enjoar - acredito que por muitas vezes me soar demasiado ensaiado -, cedo fidelizei-me à prosa, meu eterno género de eleição. Estranho, por isso, a novidade de ver-me, há já algum tempo, completamente rendida à melodia de uma estrofe. Não sei se é do passar dos anos, se do maturar das emoções, se de ambos, o que sei é que nunca como hoje estive tão perdidamente apaixonada pelas angústias escritas de Fernando Pessoa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Testamento de Paz

Li e reli aquela convocatória para uma participação democrática: «Alguém explica?». Abstive-me o tempo de um e outro comentário de mais fácil pronúncia, mas acabei por exercer a minha liberdade de expressão, confirmando, num ápice, fundadas suspeitas: aquele apelo tinha tanto de democrático quanto a Coreia do Norte, o Zimbabué ou a Venezuela. Ainda assim, não poderia deixá-lo obstruir a minha veia dissidente. Vai daí manifestei-me, vai daí comprovei uma das minhas leituras dos dias: o fácil acesso à informação desvirtuou as exigências do conhecimento.

Hoje, ao contrário do que acontecia nos tempos pré-google, todos se acham uns especialistas em tudo. Ouvem umas coisas aqui, lêem outras coisas ali, e, à distância de um clique convencem-se de que dominam o domínio das certezas. Eu, mísera mortal que teima em ver na profusão de informação o reconhecimento da necessidade de um permanente e acrescido investimento cognitivo, nada tenho contra a confiança que os titulares do conhecimento automático insistem em exibir. O que me faz espécie é a arrogância que teimam em produzir, a pretexto de uma tal de soberana convicção e reflexão.

Com que então Obama nada fez para ganhar o Nobel da Paz? Percebo que para a maioria ainda não tenha feito o suficiente, mas confesso não entender puto dos argumentos que me têm sido arremessados à passagem de uma já longa parada de contestação. Para começar, o princípio de tudo: Paz. Definam-me Paz, se faz favor. Mas, já agora, tentem fazê-lo sem a inspiração da Caneças. Meaning: poupem-me a definições de construção antónima, porque o conceito de Paz está longe de se esgotar na sua relação directa com a guerra, simplesmente porque há muito que a guerra deixou de se vergar à fórmula minimalista da presença ou ausência de armas, do envio ou retirada de tropas. Se assim não fosse, dificilmente haveria um Al Gore na célebre lista norueguesa, mesmo que em co-estrelato com um Painel da ONU.

Também não percebo o apregoar de injustiças históricas, hasteado em memória de Ghandi e de outros honrados combatentes da Paz mundial. Mas esta não é uma injustiça anterior, mas mesmo muito anterior à votação em Obama? Quantos e quantos eleitos estiveram a eras de contribuir tanto para a história da Paz quanto Ghandi? Serve a interrogação apenas para sublinhar que não ser a melhor escolha, é muito diferente de não ser uma boa escolha. E, já que de escolhas se fala, que tal apontarem-me os vossos favoritos? Huuuum… haaaam… pois! Obama não serve, mas servirá com certeza qualquer um dos mais de 170 nomeados à vitória, cujo currículo a maioria dos mortais desconhece, mas aceita subscrever automaticamente em nome do culto do reconhecimento instantâneo de um currículo mediaticamente divulgado.

Insisto em repetir: não ser a melhor escolha é muito diferente de não ser uma boa escolha. E aqui voltamos ao grande ponto da desordem: insiste-se que em nove meses de Casa Branca o Presidente dos EUA teve tempo para promover o cão d’ água português e pouco mais, mas exige-se que, nesses mesmos nove meses de Casa Branca, o Presidente dos EUA tenha tido tempo para retirar milhares de soldados que permanecem no Iraque e no Afeganistão.

O que dirão então, quando perceberem que, para ser anunciado vencedor, Obama teve de ser escolhido no início de Fevereiro, menos de um mês depois de tomar posse? Será que vão reclamar mais razão, ou tentarão saber mais sobre «o absurdo», «o escândalo», e «o ultraje» desta indicação? Continuarão a dizer que o prémio abre um precedente – o da sobreposição das intenções sobre as acções –, ou dar-se-ão ao trabalho de conhecer a argumentação de quem atribuiu a distinção? Admito até que possam discordar das razões apresentadas pelo pessoal do Comité de Oslo, mas seria útil à defesa da causa que ergueram demonstrar que conhecem mais do que o genérico da génese.

Chamem-me ingénua, parva, ‘obamamaníaca’ e o que mais quiserem. Mas não fui eu quem se lembrou de ir buscar o vencedor de 1990 como termo de comparação. Foram as próprias gentes da votação que se apressaram a esclarecer que, tal como fizeram em relação à Perestroika de Gorbachev, quiseram reforçar/impulsionar o poder negocial do homem mais poderoso do mundo, líder da nação da guerra e da Paz, pivô de uma série de compromissos de pacificação.

Prematuro? Talvez. O tiro pode sair pela culatra? Pode. Mas, para mim que segui a corrida para Washington desde o primeiro minuto; para mim que vi o ainda candidato presidencial derrubar históricos muros de intolerância racial (ai, que temos um negro na corrida) e religiosa (ai, que este Hussein sugere raízes muçulmanas); para mim que vi Obama restaurar os princípios do diálogo em toda e qualquer relação externa – tanto do propalado eixo do mal como do esotérico eixo do bem – ; para mim que vi um recém-empossado Presidente assinar o fim de Guantánamo – just for the record há mais dois sírios em Portugal –; para mim que o vejo respeitar (em vez de desprezar) os esforços globais no combate às alterações climáticas; para mim que testemunho o regresso da diplomacia aos EUA (olha, olha, houve um statement no Cairo); para mim que, graças a Obama, vi o mundo percorrido por uma onda sem paralelo de esperança e de crença na renovação política (chegaram a chamá-lo Presidente do mundo); para mim, que vejo morrer o legado bushiano, tudo isso já é muito. Mais ainda porque a ‘minha’ Paz se constrói pelo diálogo, pela esperança e pela tolerância – valores que a meu ver Obama já ajudou a restaurar. Por tudo isso e um tanto mais, não consigo ver o Prémio Nobel como mais um engodo panfletário nem como mais uma intrincada promessa.

Diz que é uma espécie de timidez


Aproxima-se meio confiante, meio desconfiado. Um copo numa mão para ele, mais um na outra para mim, o sorriso aberto em jeito de sedução e, entre danças, uma conversa desfiada.

«Sou o quê?», por um instante duvido da depuração dos meus ouvidos. «Tímida», repete-me num sotaque português que me deixa maravilhada. «Ai sou? Então porquê?»

Estava-se mesmo a ver! «Passei a noite toda atrás de você, a rondar, e você nada». Ok, carioca! Obrigadão por cê me deixar consultar seu dicionário. Hoje aprendi que tímida é aquela que não responde/corresponde às suas investidas. Lêgauuuuu!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ai, a minha visão!


É mais forte do que eu. Assim que os meus olhos descansam sobre um texto, por mais minúsculo e insignificante que seja, disparam-me no cérebro uns sensores. Então, volta não volta, ouço um tinoni-tinoni e não consigo deixar de me inquietar com tantos maus-tratos à língua portuguesa. Pergunto-me por isso onde é que isto vai parar, enquanto arregalo o espanto para a publicação de um «desenrascanso», escancarado numa rubrica que pretende expor, entre outros 'nacionalismos', os atropelamentos ortográficos.

Agora em mantra

Dia após dia, semana atrás de semana, repetem-se e sucedem-se as observações, agora embrulhadas neste género massacrante de mantra: «Estás magra, magra, magra. Engorda, engorda, engorda». Com tanta pressão sobre as minhas medidas, depois não se admirem que continue avariada dos apetites.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Já agora...

... que reflicto nisso, vejo claramente que o meu eu no masculino seria ele, ou alguém muito próximo do que é ele.

Coração ao alto




Um amor maior do que o nosso tempo, uma e outra paixão sem especial importância e cada vez mais cruzamentos de ocasião. Olho para trás e reencontro no meu caminho de acelerados batimentos cardíacos ilusões destroçadas por desilusões, desenganos transformados em mágoas, mas, também perdas convertidas em ganhos. Fui feliz por muitos e bons momentos, infeliz por outros tantos e dolorosos instantes, mas 18 anos depois do meu primeiro e, até ver, maior encantamento, nunca estive tão consciente das minhas fragilidades e potencialidades.

Ponho-me então a desejar não ser tão juíza nas primeiras apreciações, nem tão advogada perante o amanhecer das primeiras interrogações. Ponho-me sobretudo a desejar abrir-me mais às relações, por maiores que possam vir a ser as suas ralações. Mas eu que nunca fui fácil de paixões e menos ainda profusa de amores, esbarro sempre os meus desejos na mesma indefinição: vale a pena procurar mais quando no coração nos invade uma certeza de que ali não há nada mais? Ou há momentos em que devemos silenciar o coração para depois o conseguirmos ouvir bater mais alto? 

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Agita Brasil




Já que a República e a chuva conspiram pela minha reclusão doméstica, aproveito para pôr a escrita em dia (ai, tanto que tem ficado por contar), festejando palavras pela vitória da cidade maravilhosa. Depois da Copa do Mundo em 2014, venha o show das Olimpíadas de 2016.

Viver a vida

Sem qualquer relação com a nova obra do meu adorado Maneco (é hoje que volto a ficar agarrada a um ciclo Global), perguntam-me o que quero fazer da vida. Respondo que muito. Para começar quero aproveitar cada momento como se fosse o último.

Ah, e tal, acham por bem recordar-me que a vida não acaba amanhã. A sério que não? Mas quem é capaz de me garantir isso? Como a minha única certeza está no agora, faço por desembrulhar o meu presente pelo melhor e pelo pior que sinto. Porque o amanhã, ao contrário do que titula aquele charme de agente, pode bem morrer. E hoje eu ‘só’ quero viver.

Pecado original

Reconheço que a ideia é boa. Um promocional elogio à originalidade dos sete milhões de 96 e 92 que andam por aí a comunicar. Mas como não conheço uma boa ideia que tenha resistido a uma má execução, dou por mim a praguejar contra o raio do anúncio.

Percebo perfeitamente que se tenham lembrado de mixar os gato RAP e ZDQ, mas ousarem fundir o meu maestro ao pugilista da bola, é mais do que demais. Um original de pesadelo com pecado, é o que é.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AH, pirata!

A menina que me atendeu ficou tão intrigada com o relato que foi pedir ajuda. Vai daí brindou-me com um compasso telefónico de espera, até voltar com isto para me oferecer: «Não podemos fazer nada. Nem sequer estamos a ver como é que isso é possível. Será que pode passar por uma loja e mostrar as mensagens?».

Poder até podia, mas teria de dormir mais uma noite sobre o assunto. Vai daí lembrei-me de algo de que era a menina que tinha a obrigação de se lembrar! Qualquer SMS está associada a um centro de mensagens, certo?

Volto então à carga, e, desta vez, calha-me um menino. Debito a extensa numeração que o telemóvel exibe e em segundos obtenho uma exclamação de resposta: «Mas esses serviços online já nem são permitidos!».

Como tenho diante dos meus olhos a prova de que nem só de permissões se vive, o menino lá se resigna: «Não vai conseguir nada com isso porque nem a polícia consegue».

Concluo, portanto, que tenho um pirata no meu raio de acção. Penso mesmo, para bem da 'dignidade' do meu argumento, que talvez seja um génio da informática…quiçá alguém tão, mas tão genial que conseguiu rastrear esta minha morada e ler a minha, por ora, eficaz mensagem. Ou terá ele percebido, finalmente, que não era eu a sua destinatária? Assim, como assim, quer-me parecer, pelo silêncio que impera desde ontem, que deste Jorge já me safei. Ufa!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Querido desconhecido que respondes pela assinatura de Jorge Prata,

Dei por ti a entrar na minha caixa móvel de mensagens como quem promete marcar a diferença. Sem número de telemóvel associado, num registo ortograficamente promissor, com palavras de galanteio QB, e toques de escrita reveladores de algum conhecimento do meu ‘estilo de jogo’.

Sim, Jorge. Devo reconhecer que causaste boa impressão à minha leitura. Sim, Jorge. Admito que espicaçar a minha curiosidade é meio caminho andado para despertar o meu interesse. Mas não, Jorge. Não estou a perceber onde é que tu queres chegar. Por acaso já percebeste que não tenho forma de responder às tuas mensagens?

Pois não, Jorge. Ao enviares sms’s de um qualquer site – daqueles que pensava enterrados nos primórdios das minhas comunicações móveis e cibernáuticas – barras-me uma eventual possibilidade de resposta. Por isso não adianta observares que estou «muito calada», nem vale a pena questionares por que razão não digo nada, nem por que raio não faço barulho. O que pensar então de algumas das tuas tiradas? «Depois não digas que não te ligam…eu bem tento??»

Ó querido Jorge, tu só podes estar enganado no 96! Será que ainda não interiorizaste isso? Também já me passeou pela cabeça a ideia de estares tão baralhado dos nervos, que me confundiste com uma qualquer ‘delfim’ da tua vida: pediste-me para ser a melhor da minha turma, feito que «não deve ser difícil?».

Ok! «Não é nada comigo», sossego-me por instantes, para logo de seguida ver-te, de novo, a plantar a confusão em mim. Ligas-me duas vezes de um número confidencial – consta que apenas para ouvir a minha voz –, e, mais uma vez, me pões a reflectir sobre uma das tuas mensagens. Poderás tu saber que decidi partir desta à procura de melhor?

Ou não passam as tuas palavras de uma inquietante coincidência? É que nesta fase das minhas determinações, pedires-me para pensar enquanto é tempo e aconselhares-me a repensar a minha vida, tem muito que me perturbe. Quem raio és tu que ficas transtornado de cada vez que pensas a sério nisto? Nisto o quê? Na minha recente decisão de vida? Por que dizes que para ti é só vantagens, mas para mim não é bem assim?

Dizes que sei que me adoras, despedes-te com um beijão, mas deixas-me pr’aqui completamente perdida num infinito de dúvidas razoáveis. Sim, Jorge, eu sei que é escusado escrever-te porque não tens esta morada, da mesma forma que sei que é escusado escreveres-me sem deixares a tua morada. Mas ele há coisas que não têm explicação e parecem existir apenas para não fazer qualquer sentido.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Snif, snif

Elevaram-me quatro Verões de saídas de apetrecho pedonal, acompanhando-me em tantas e tantas danças que me custa vê-las partir. Estou de luto pelo rebentar das minhas Gisele Bündchen cor de ébano.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Rendida às evidências

Excluindo algumas noites de uns Agostos densamente povoados de camones, isto está sempre bom. Por isso, por mais voltas que dê nas minhas voltas, acabo quase sempre por aqui entrar.

Sem fronteiras

A Alice na Zambujeira. A Diana em Londres. A Lara em Birmingham. A Rita no encalço de novas oportunidades ao encontro da mana. E eu a caminho de Luanda. Com cinco fora e outras tantas por cá, Lisboa perdeu a maioria absoluta na eleição dos nossos geográficos destinos, mas acabou ganhando o palco dos nossos cada vez mais agendados encontros. O último, vivido entre as ruelas do Bairro e da Bica e os recantos do Lux, testemunhou o selar de uma nova coligação de esforços, fundamental para uma boa governação dos nossos melhores afectos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Novos voos


Está decidido. Vou o mais depressa possível, que é como quem diz logo que a licença sem vencimento esteja despachada e o visto autorizado, tenho a perspectiva de em meia dúzia de meses assumir funções de maior responsabilidade, vou integrar um projecto com futuro multimédia, terei casa, carro (pois, e a carta?) e ajudas de custo para o farnel. Vou ganhar um pouco mais do dobro do que ganho aqui e estrear-me nas lides do poder político e económico. Mas, claro, não seria eu se não deixasse algumas questões penduradas: esqueci-me de acertar o seguro de saúde (sábio chefe Mário que já me alertou para isso) e não garanti que o dinheiro me vai parar à continha BES. O que vale é que isso é um nada comparado com o tudo que farei por conquistar em Luanda.

Inocente até colisão em contrário

Realizo uma noite sem contracenar com personagens do género oposto mas, saída após saída, tenho-me perdido num argumento que se repete há coisa de um ano. Eles avançam, por vezes travo-lhes a confiança, noutras embalo-lhes a marcha, mas volta não volta tenho sido uma perfeita incapaz de controlar os excessos de velocidade das infracções do corpo.
Ainda assim, declaro-me inocente contra todas as colisões que me têm curvado as danças! Afinal, que culpa tenho eu se eles vêm contra mim sem me darem hipóteses de desviar?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

E o meu prémio vai para...

  • Uma rodada de shots doncellas na próxima sexta-feira
  • Uns regalitos para a minha sobrinha-bebé
  • Uma churrascada em family no domingão de legislativas
  • Uma rodada de sangria no próximo jantar de marca iscspiana


    E ainda…

Para o meu há muito ansiado regresso ao shop-shop. Passe a futilidade da confissão, estou desejosa de, ao fim de não sei quantos meses (ai Ibiza, que me desgraçaste, ai saídas e mais saídas….), voltarei a entrar nesses grandes estabelecimentos que me animam as modas. Zara, Bershka, Mango, Stradivarius, Pull &Bear, Blanco, Primark, H&M etc e tal.
Afinal, para que servem os euros? Prazer com eles!

P.S.: Andarei por todas essas belas lojas, mas, por contenção orçamental não sairei ensacada de todas elas…