terça-feira, 11 de novembro de 2008

Salto e Cunha



Entrei sobretudo pelo prazer. Despida de pretensões românticas, pós-licenciatura estraçalhadas, segui a minha velha paixão. Alheia às vozes que me tentavam barrar o que dizia o coração, prossegui de peito aberto, sem, contudo, deixar-me cegar por pretensas vocações. Por muito certa que estivesse do muito que havia para dar certo, tinha de me preparar para o que pudesse dar errado.



Imaginava eu, nesse longínquo 2002, que o único dos meus pesadelos seria não encontrar alguém que me reconhecesse valor. Constato eu, neste presente 2008, que igualmente, ou ainda mais aflitivo, é encontrar quem nos atribua valor, sem que daí resulte um real reconhecimento desse valor. Constato eu que, à falta de uma cunha ou de uma ascensão de propriedade horizontal, só mesmo algum mérito para me conservar na corrida deste campeonato, embora nem todo o mérito do mundo me valha o acesso à Liga milionária.


É então que revejo boa parte da classe num recém-divulgado estudo do ISCTE. O trabalho, assinado por José Rebelo, conclui que «a cunha é a forma de acesso mais frequente à profissão de jornalista». Olho para os lados e vejo a tese ultrapassar-me a prática: tantas vezes rodeada de meros ‘encarteirados’, tenho dificuldade em escrutinar-lhes simples competências ou elementares aptidões. Muitos, nem sequer se dão ao trabalho de completar o primeiro dos trabalhos diários, que passa por ver o que se pode ver nos jornais. É então que não me revejo no circuito de uma profissão, a saltos-cunha espezinhada.

2 comentários:

  1. A única coisa que me surge é dizer-te: faz o teu trabalho com honestidade. Daí, mais tarde ou mais cedo, só poderão advir coisas boas. E, reconhecido ou não o teu (grande) mérito, aposto que te sabe muito bem deitar a cabecinha na almofada com a consciência do trabalho feito (isto quando não te andas a bambolear no W, lolol!).
    Have a nice day :)
    Ivana

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  2. Cá entre nós, levaria uma boa vida a bambolear ;-)

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