sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Casa de amigo, minha casa é



Se estas palavras tocassem, reproduziriam ininterruptamente o som daquela célebre marcha: Cidade maravilhosa/ Cheia de encantos mil/ Cidade maravilhosa/Coração do meu Brasil.

Só de pensar na festeira casinha que me vai acolher no Rio de Janeiro, disparo o modo trio eléctrico e começo a desfilar. E mesmo sem a menor esperança contabilística de levantar voo em breve, não consigo descer das nuvens.

Conta a minha irmã Marlene que a Verena e o Magnus, sábio casal amigo, enriqueceu o seu património com um spot habitacional no Rio. Garante a mana que agora é só acertar datas com os felizes proprietários e cair no samba.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Efeito feriado


Será que a semana aceita devoluções? Estou disposta a devolver o meu feriado em troca do reembolso de uma quarta-feira sem defeito. É que nisto de recuperar as horas de trabalho subtraídas pelo Entrudo, há meio dia que estou embrulhada em contactos, papelada e teclado. E só de pensar nas resmas de informação que ainda tenho de digerir, quase me dá a volta ao estômago. Quase, porque não tenho nada cá dentro para andar à roda. Apenas sinto os ruídos de uma fome que já jantava.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Já agora...


...aviso que nem vale a pena tentarem subornar-me. A nossa relação chegou mesmo ao fim.

Bug do milénio



Está oficializado: a madrugada de Carnaval trouxe-me o litígio definitivo com a vodka. Talvez esteja a ser injusta com a dita russa - afinal desde o final da tarde que andava avariada do estômago. Acontece que apagar-me assim daquela forma súbita merece no mínimo separação. Mas como não sou pessoa para mínimos, já avancei com o divórcio. Um tchim-tchim à minha definição e infinitos tchim-tchim às melhores enfermeiras dos meus plantões.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Clássica 'clubite'



Podem passar a época sem saber quem nos guarda as redes. Não revelam o menor dos interesses em conhecer quem nos assiste o ataque, e menos ainda em perceber quem nos compromete a defesa. Competição atrás de competição, cultivam uma cultura de indiferença perceptível no desconhecimento dos nossos reforços, das nossas dispensas ou dos nossos empréstimos. Castigos? Lesões? Desaguisados de balneário? Acompanhamento zero.

Por tudo isso e tanto mais, irrita-me o acometimento súbito de que supostamente padecem a cada clássico. De repente, como quem até parece saber a quantas jornadas andamos, vêm-me uns quantos pseudo-adeptos ‘lembrar’ que a noite é de derby. Enlouquecidos pela ocasião, chegam mesmo a desafiar-me para uma torcida de grupo!

Palavra que não entendo! Por mais épocas que acompanhe, continuo sem perceber o fenómeno do adepto instantâneo. Talvez seja facciosismo meu, mas comigo não há cá meio adepto ou adepto ocasional. Ou se é ou não se é. E quem só o é em dias de clássico, está muito longe de realmente o ser. Na melhor das hipóteses, apenas vai estando. O problema é que apesar de apenas estar - quanto a isso nada a opor - o pseudo-adepto fica com a insuportável mania que é. E desata a mandar mensagens, e desata a alardear vitória antes do jogo. Depois, basta a coisa correr mal (maldito sábado), para vê-lo a desertar. Até ao próximo clássico.

Portugal dos pequeninos II




Lisboa está na moda. Mais do que ouvir dizer, leio-o. Mas sempre naquele signo clássico da imprensa escrita que é o do carneiro. Meaning? Basta a primeira publicação de referência lembrar-se de acrescentar à capital da tuga um ‘must go’ para nascer um rebanho empenhado em esgotar o filão do imperdível.

Acho que sim. Continuem a dizer e a escrever que Lisbon deserves a visit. Afinal, it’s a bargain! Uma verdadeira pechincha para as carteiras decentemente remuneradas. Venham de lá os turistas, então. Convém é que tragam a lição bem estudada, porque isto das modas tem tanto de soberbo como de soberba. Venham de lá, mas venham preparados para o soberbo legado de uma história há muito arquivada, sem se deixarem inebriar pelos assombros do passado. É a prudência mínima de quem ao virar da noite arrisca-se a ver a soberba cair-lhe em cima.

Eu que sendo estrangeira estou longe de ser turista, admito a minha total incapacidade para ‘dançar’ o triste fado desta terra. País desenvolvido? Talvez sim, porque os critérios de desenvolvimento da humanidade tendem a nivelar-se por baixo e nunca por cima. Agora país evoluído? Talvez não. Melhor: nope! Eu que já andei por Madrid, Barcelona, Los Angeles, Berlim, Munique, Londres e Paris, garanto que o burgo de cá está a muitos e muitos países da evolução. E a diferença não se mede apenas pelo estilo e qualidade de vida. A diferença evidencia-se nas atitudes, tão bem caricaturadas por essa night adentro.

Só vivendo! Mesmo quando estou convencida que já vivi de tudo - da bela da festa que se privatiza à chegada de personas à vista desarmadas, à indecente exorbitância que se cobra à vontade do porteiro - lá vem a bela da tuguice para me surpreender.Então não é que o Lux, tantas vezes bem referenciado com uma late night disco, só permite entradas até às 5h30?

Perceberia aí alguma lógica se fosse essa a hora de encerramento. Agora chegar ao espaço às 5h40, ver gente a sair, saber que a coisa lá dentro está aliviada de lotação, ter a certeza de que a noite ainda rende pelo menos duas horas, estar disposta a gastar no mínimo os 12 euros da entrada, encontrar mais pessoal disposto ao mesmo, explicar que tenho gente amiga à minha espera, e receber em troca um autocrático: «São as regras da casa!». Please! Depois venham falar-me de crise.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Enjoo de bengalas


Picuinhas assumida na minha aventura com a escrita, recuso-me a coser as linhas de um texto como quem remenda uma pobre manta de retalhos.

Não. Isso de despachar prosas não é comigo. Pelo contrário, toda eu faço questão de maturar as minhas peças, libertando posteriores leituras de indesejáveis atravancos.

Toda eu faço questão de maturar as minhas prosas, mas reconheço que nem sempre o esforço sai-me bem. Umas vezes por não estar para a escrita virada, outras por o meu encargo não revelar qualquer predisposição para ser escrito.

Assim como assim, impensável reconhecer numas quaisquer bengalas méritos de depuração literária.

Com efeito? Como tal? Pelo que? E isto não é tudo???

Afastem-se, porque vou vomitar sobre a minha assinatura.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Caça aos FDP's


Cuidado! Tenham muito cuidado!


A patrulha mais ansiada de todos os Carnavais avança para as ruas na noite da próxima segunda-feira. Vestidas (ou despidas) a rigor, decretamos desde já, tolerância zero a todos os FDP’s que cruzarem o nosso destino.


Por uma questão de prudência, imposta pela nossa perigosa atracção por esses tais, avisamos também que transportaremos connosco poderosas armas de sedução: algemas, cassetetes, chicotes e, já agora, uma ‘taser’.


Aliás, esqueçamos a ‘taser’. Afinal, quem é que precisa de armas para dar choque, quando se pode munir de uma força natural de energia? Tenho para mim que no final desta importante missão – onde os piores FDP’s serão escoltados até às melhores solitárias do país – ainda receberemos uma condecoração do Cavaco. No mínimo!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

E dura, e dura...



Deixar a labuta por incapacidade de recuperar a concentração. Sorrir incansavelmente a cada passo e perceber estranheza nos olhares cruzados. Percorrer alegremente mais de uma dúzia de estações de metro - bem dispostas entre as linhas verde e amarela -, e fazer um desvio pelo supermercado antes de chegar a casa. Cozinhar com uma satisfação inédita em anos e anos de fogão e continuar assim: positivamente sorridente. Tudo isto graças a 12 minutos e 31 segundos de conversa.

Obrigada Rui!


Não consigo parar de tremer nem consigo desacelerar o meu coração. O Rui Manuel César Costa ligou-me. Gaguejei como nunca para lhe colocar meia dúzia de questões triviais, mas, no final, lá arranjei forma de dizer o que queria: «Rui, sou uma fã incondicional. Peço desculpa por me ter atrapalhado um bocado mas para mim ter conseguido falar já foi uma prova superada. Estou feliz por isso. E tenho a dizer que estive nas bancadas da Luz a assistir ao pior golo da sua vida. Garanto que não houve benfiquista que tivesse saído da Luz com a sensação de empate (1-1). Para nós (que falo em nome da família), ganhámos por 2-0». Sempre com um sorriso iluminado no rosto (que por sinal não se apagará tão cedo), as minhas emocionadas palavras foram recebidas com risos e agradecimentos. Agradecimentos do Rui! RUI, EU É QUE AGRADEÇO! E como a semana é de clássico, antes de desligar tive de me despedir com esta: «Continuação de um bom trabalho. Espero que ganhemos no sábado».

Me liga, vai!


Ando assim desde quinta-feira: desconcertada, ansiosa e sempre agarrada ao Nokia. Desde quinta-feira que não dou um passo sem ele. Desde quinta-feira que não durmo sem o confirmar do meu lado.

Dizer que ando desconcertada e ansiosa é pouco. Devo é estar à beira do precipício da taquicardia. Seja como for, desde quinta-feira que não me sinto em mim. Ando louca porque o Rui Manuel ficou de ligar. O Rui Manuel! A ligar para o meu Nokia!

Só de tentar parar para pensar nisso fico nervosa. Fico nervosa só de pensar na gaguez, ou até mesmo na mudez que me podem tramar. O Rui Manuel! A ligar para o meu Nokia!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Para mal dos meus pecados




Fui contrariada. Mas como já tinha faltado à outra homenagem, achei que seria desejável marcar presença. E foi a pensar na desejável presença, salvaguarda do frágil equilíbrio paternal, que acabei indo. O problema é que fui contrariada. E gente contrariada tende a focar aspectos que despertam ainda mais contrariedades. Logo à entrada, uma ligeira irritação: começou antes da hora?

Não. O ritual principal ainda não tinha começado, mas as preces já se faziam ouvir. Esgueirei-me para tentar perceber que novidade era aquela, enquanto cochichava com a minha gravidíssima linda irmã. E foi entre um e outro sussurro que estive perto de um ataque de riso. Pus-me então a divagar, embora algo incomodada com o desnecessário desrespeito que o meu comportamento trazia àquele culto. Pessoas, conversas, lugares...vi uma avalancha de pensamentos atravessar a minha mente.

Mas nem uma lembrança sobre o motivo daquela homenagem: Agostinho Manuel Cardoso. Sei que foi o pai do meu pai, e, portanto, meu avô, calculo que ainda o tenha conhecido, e reconheço-lhe um importante ramo na minha árvore genealógica. Acontece que, apesar de tudo, não guardo dele uma única memória. Por isso, o que deveria ser uma homenagem, para mim era apenas uma missa.

Com as beatas do costume, cânticos exaltados com letras há muito desajustadas, e um sermão desactualizado dos pecados que correm. Por mais que visse e ouvisse não conseguia ali ver nem ouvir mais fé do que aquela que vejo e ouço quando estou a sós com a minha fé. Por mais que visse e ouvisse não conseguia ali ver nem ouvir mais fé do que aquela que alimento independentemente de igrejas ou religiões. Mas, ironia das ironias, no instante em que tudo acabou a única frase que me veio à cabeça foi um bem católico 'Graças a Deus'.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Mãos acéfalas



No lugar onde comecei, as quatro mãos nunca me criaram confusão. Acredito que assim era porque ao quarteto manual correspondia sempre um par de cérebros. Um verdadeiro luxo para o lugar onde me encontro. No lugar onde me encontro, diria mesmo que essa ideia chega a ser um perfeito desperdício! Duas indústrias transformadoras de massa cinzenta para quatro mãos?! Não admira que, no lugar onde comecei, por muita necessidade de harmonizar estilos que sentisse, nunca precisei de afinar letras.


Cada qual no seu registo, lembro-me de ver os caracteres finais aviados a partir de uma compilação de firmes traços transitórios. Firmes como se exige dos que têm o ónus da informação escrita. Uma informação que requer validação factual, e uma escrita que pede no mínimo correcção ortográfica.


Básico demais para tolerar incumprimentos grosseiros, no género dos que ontem indispuseram a minha tarde laboral. Confesso que já ia meio preparada para o vazio da colega, só que acabei tramada pelo meio que me faltava. Mas quem se lembrou de dizer que duas cabeças pensam melhor do que uma? De certeza que não teve a infelicidade de privar com a cabecinha que me saiu na rifa.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Minha gente iluminada*



Neste dia em que os raios de luz parecem ter renascido dos dias cinza a que o Inverno os tinha relegado, apelo a que unamos danças em nome da sua total recuperação.

Aceitam-se contribuições presenciais para uma ou duas rodadas de ladies night mais logo, pela Lisboa do costume.

*apelo já devidamente multiplicado por email

Vamos requebrar



É muito simples: basta renunciar ao conforto do lar por algumas horas, tolerar um e outro desconforto de Inverno, escolher uma pista bem sonorizada e entregar o corpo à acção. Digo e repito que com palavras, por mais certas que sejam, a coisa não vai lá. Já o sabia, mas ainda assim dei-me ao trabalho de escrever ao Sr. Inverno. Ouviu-me? Nada disso! Choveu e ventaneou sobre as minhas palavras.


Por isso digo e repito a quem insiste em não me levar a sério: o segredo destes dias soalheiros (e não solarengos como alguns teimam em escrever) está na dança do sol. Para quem não sabe, a dita dança, que, como o nome indica, tem como missão atrair o sol, só funciona quando executada em grupo e em abundância. Precisamente como aconteceu no último fim-de-semana.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Acertos



As palavras certas nunca são aquelas que quero ouvir. Nem sequer são palavras bonitas, no sentido do que idilicamente se pode associar à 'estética dialogante'. As palavras certas são aquelas que me fazem querer ouvir mais. São palavras que sem voluntarismos me fazem calar. Palavras que, por um instante que seja, me deixam ficar sem palavras. São palavras que me soam raras a ponto de apertarem-me saudades de as ouvir. E que saudades já tinha eu de ouvir as palavras de alguém capaz de me fazer emudecer!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Electricidade





Começaram por dizer que ando a tomar coisas. Coisas que acusam-me de, egoisticamente, não partilhar com as amigas. Depois desataram a dizer que ando assim por causa do choque. Não o choque térmico das manhãs de Inverno, mas um outro que me apanhou desprevenida na época das festas. Passo a contar: em vésperas do último Natal estive a um segundo (na minha atemorizada cronometragem) de morrer electrocutada numa operação de limpeza. Agora até pode soar a um certo exagero, mas juro que naqueles segundos, em que a torradeira me confundiu com a corrente, vi a minha vida cair fulminada.


Lembro-me também de dar um berro e de pensar na inutilidade daquele que receei ser o meu último esforço: não estou a ver a minha desconhecida vizinhança a ouvir no meu aturdido grito um pedido de SOS. Já refeita do choque (ainda não sei como me esqueci de desligar a torradeira da tomada), verifiquei a posse de todas a minhas faculdades vitais e antecipei os potenciais danos que aquela experiência ainda me poderia trazer. Imaginei então uma súbita subtracção de neurónios, fios de cabelo permanentemente espetados e graves distúrbios comportamentais.

Entre um e outro devaneio arrepiante, lá acabei por retomar a lide doméstica, ainda ensombrada pelo terrível destino que felizmente não me estava reservado. Dias mais tarde, só para reforçar as minhas graças à vida, questionei a enfermeira de plantão (estimada Gi) sobre o pior (além do óbvio perecer) que me poderia ter acontecido. Ouvi então um relato de tal forma tenebroso que roguei pela sua interrupção. «Nem quero pensar nos estragos que me vão aqui dentro», reflecti de mim para mim, antes mesmo de terminar a dissertação da Gi.


Minimamente descansada por não ter experimentado nenhum dos sintomas que me deixaram petrificada, desliguei-me daquele episódio e deixei que estreassem novas histórias na minha vida. Andava eu perfeitamente abstraída dessa ocorrência, quando alguém se lembra de dizer-me isto: «Estás mais eléctrica do que o habitual. Já pensaste que pode ser do choque que levaste?». Agora que penso nisso, e tendo em conta que já me pediram instruções para atingir o mesmo choque, começo a ponderar especializar-me em central bioeléctrica. A EDP que se cuide!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mau acordar



Custa-me horrores sair da cama enquanto ouço a chuva cair. Ter de abandonar o edredão para levar um choque térmico, e ainda entorpecida, sondar o dia à procura de inspiração para bem vestir. Custa-me mesmo muito! Mas apesar de todo o custo, orgulho-me de, na maioria dos despertares, jogar a titular na equipa dos que acordam de bem com a vida. Sobretudo em dias como o de hoje, em que me deparo com uma vista panorâmica de festas para o fim-de-semana. Dia de boa disposição, portanto. Portanto acordei saltitante ainda que sem saber a quantas andava – hoje precisei de uns largos segundos (que me pareceram horas) para perceber que a semana de labuta ainda exigia uma jornada.


Satisfeita da minha vida pré-fim-de-semana e já depois de cumprido o primeiro xixi do dia, deparo-me com isto: secura. Nem uma gota de água. Nada. Torneiras sequíssimas, tal como as tinha deixado algumas horas atrás, antes de ir deitar-me no cansaço da madrugada. Daí para a dúvida da manhã nem foi preciso um passo: «Será que me esqueci de pagar a água?» Numa caçada desesperada pelas últimas facturas, suspiro de alívio ao ver os papéis eliminarem a minha inquietação (desnecessária se já tivesse aderido ao débito directo), mas fico ainda mais intrigada com a situação.


Cinco horas sem água? Então penso que àquela hora (antes das 9 horas) ninguém me vai atender, mas sou surpreendida logo ao segundo número discado: «Rebentou uma conduta nessa zona e não conseguimos prever quando é que a situação estará normalizada». Ainda incrédula, embora já a atirar para o reivindicativo, ouço a funcionária pedir-me paciência. «Pois, que remédio», deixo escapar o resmungo, maldizendo o facto de a paciência não constituir sinónimo de higiene. Agarro-me então à garrafa de água de 33 cl que religiosamente tenho à cabeceira, e aproveito o que sobrou dos goles ensonados para escovar os dentes e borrifar a cara.


Sem tirar o pijama, estrategicamente coberto por umas calças de ganga e um casaco, saio para o supermercado com a missão de encher um balde de banho. Cinco litros de água depois – conseguidos a um preço (0,60€) que me despertou para os roubos de que tenho sido vítima por esse mundo de cafés afora – completo o meu arcaico plano de limpeza: fervo cerca de 1,5l de água, acrescento-lhe a olho a quantidade que me parece indicada para sentir uma temperatura aceitável, e delicio-me com o meu prémio. Poucas vezes um banho tão curto me soube tão bem.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Tudo Boas Doncellas *



Poderia ser este o título cinematográfico de mais um ano de brilhantes interpretações nos palcos das doncellas. Mas se assim fosse, dificilmente transmitiríamos o alcance das nossas aventuras e desventuras. Por isso, o melhor a fazer é distribuir os créditos de 2008 por nove títulos: um por cada doncella. Bora então reviver as nossas impagáveis comédias (A Fábrica das Loucuras); recuperar alguns dos nossos convulsivos romances (Palpitações); relembrar os terrores de certos suspenses de género (Os suspeitos do Costume); e também recapitular os dramas do nosso amadurecimento (Dias de tempestade).

Baiana
Boa noite e boa sorte
Sem complicações. Chegar, sondar, abreviar o comunicar e… já está. Da boa noite das apresentações passa-se à boa sorte das despedidas. No fruir de cada momento, bebem-se excessos e testa-se o poder de atracções físicas, por vezes armadilhadas com perigosas explosões químicas. No cruzamento de insondáveis sensações, ultrapassam-se mesmo velhos ‘sinais de proibição’, embarcando-se numa inédita desorientação por betos, bebés, gente de cabeça ruça e até um casado de estado. E como a época passada foi de flashes, podemos esperar novas revelações?

Carina
O amor acontece
Algures à deriva de ligações incontáveis deu-se o programado encontro. Não teve o excesso de velocidade típico dos ‘pintas’ da vida, sucessivamente desencantados de uma incerta comunidade virtual. Também não teve os desvios de percurso saracoteados com professores e colegas de ginásio. Nem sequer teve as colisões frontais precipitadas à boleia de moranguitos. Um atrás do outro, por vezes dois e até sete ao mesmo tempo, ninguém sabe precisar quantos acidentes foram. Mas é evidente que o amor aconteceu. Olá Sra. Vidal, adeus Biatx?

Diana
O espírito do amor

Os sentimentos transbordam-lhe por todos os poros. Com uma força e uma intensidade contagiantes, semeiam tempestades afectivas, deixando corações em suspenso. Um coach do lado de cá, outro coach do lado de lá; um performer das contas do lado de lá, um intérprete de emoções do lado de cá. Neste pulsar titubeante de dois para cá, dois para lá, o ‘jogo’ vai decorrendo ao ritmo dos grandes desafios. Sem um vencedor incontestável à vista, com algumas rasteiras do acaso à mistura, e cobranças de penalidades fora do seu tempo. Temos táctica para afinar a pontaria do amor?

Lara
Terminal de aeroporto
Malas aviadas, check-in despachado, chamada para o embarque… coração bem lá no alto. Bate leve, levemente, como quem se acostumou a descobrir em novos fusos horários novas paixões? Ele é o belga que fala o português no sotaque verde-amarelo, ele é o inglês que fala espanhol no sotaque castelhano, ele é uma natural afinidade com ‘sociedades’ de outras nações. Na rota do que parece ser uma edição de autor dos popularizados jogos sem fronteiras, desvio ainda para um achado alemão num jantar lisboeta de nutrição asiática. Onde fica o próximo destino?

Mónica
Branco não sabe meter

Peitaça inchada, coxa grossa, músculos irresistivelmente palpáveis…O negão é que sabe meter o pandeiro no sítio certo, e, com a sua música, deixar a negra ex-biatx bem assanhada. Pode ser o securitas da periferia laboral, pode ser o pé rapado do rendimento social de inserção, ou pode até ser um insuspeito pai de família, empenhado em desarmar a malandragem com um generoso ramo de flores. Se for negão (atenção que ser negro não chega) a negra gosta. Se tiver um nome a sugerir dificuldade (hard quê?) melhor ainda porque a negra é Hardcore…Tão hardcore que já teve negão incapaz de acompanhar a brincadeira. Devemos temer novas baixas performances?

Paulinha
Febre de sábado à noite

Sábado à noite? Não, que este não é o filme do John Travolta. Nesta história a febre não olha a calendários nem respeita horários. Nesta história a febre é permanente, e as altas temperaturas incendeiam até mesmo os dias de trabalho. Basta uma daquelas sms perturbantes, planos palpitantes para jantar, ou visitas desestabilizadoras para um e mais outro cafezinho. E quando se pensa que o estado febril atingiu o seu auge, eis que se diagnosticam novos sintomas. Pode ser um encontro imediato numa casa de banho à disposição, uma União indigna de primos ou o extravio de mais um telemóvel. Ainda há graus de febre para escalar?

Pipa
Duplo impacto

Águas passadas podem não mover moinhos, mas lá que balançam corações… isso balançam. E o que melhor do que o chocolate para compensar o desequilíbrio de batimentos cardíacos? Mesmo com todos os riscos de se guardar um gosto mais amargo do que doce, gosto pior seria o de ver passar predestinados reencontros sem sondar novas oportunidades. Por isso um brinde ao destemor. Outro brinde à ousadia. Mais um à determinação. E tantos outros aos reencontros, que representam sempre pelo menos dois sinais de vida. Haverá duas voltas sem três?

Rita
Agarrem essa loira
O gingado de ancas pegou-lhe a fama de Shakira do Oeste, terra farta em ondas de conturbadas paixões. Mas os proveitos perseguem-lhe muito além do Oeste, engenho de múltiplas aproximações labiais. Beijinho daqui a Norte, beijo dali a Sul, amasso acolá a Este, e a programação das festas vai demarcando sucessivas respirações boca a boca. Tantas que, num mesmo agito, vivido nos recantos da animação figueirense, os vorazes lábios deixaram-se perder por duas bocas, perigosamente entrosadas em delicadas fugas a um flagrante delito. Seguem-se novos duelos à descoberta de um príncipe?

Vera
Uma noite aconteceu
Artifício de Ano Novo ou não, diz quem testemunhou que o arranque pegou fogo. Começou a esquentar num frenético jogo de mãos direitas, conduzido à combustão nas proximidades de uma lareira. Já com as chamas em perfeita incandescência, o fogo continuou a alastrar, propagando-se a uma garagem livre de olhares gulosos. Apesar do inusitado daquela ebulição, sobretudo pela influência de persistentes ventos insulares, o fogo aguentou meses sem circunscrever. Mas acabou extinto com a mesma rapidez que o fez deflagrar, incapaz de resistir aos alertas tempestuosos vindos dos Açores. Com tantos encontrões do destino, será que o arquipélago e o continente seguirão autónomos?

*Texto retirado do argumento estreado no último sábado, cujos créditos já foram atribuídos no post anterior

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Prémios Doncellas 2008



Encontrámo-lo nas férias e acabámos conquistadas logo ao primeiro olhar. Doncellas, dizia ele. Doncellas?, questionávamos nós. Sim! Doncellas soava deliciosamente irónico. Um ou dois euros depois, lá estava ele prontíssimo para seguir viagem connosco.


Ele é um diário invulgar, nós somos um já aqui apresentado ‘livro’ de amizades cruzadas. Ele marcou as mancadas verbais de mais um dos nossos concorridos verões, e nós apimentámos o significado da palavra Doncellas à medida dos nossos amores e desamores.


E foi à medida desses amores e desamores que nasceram os Prémios Doncellas. A edição de estreia - apresentada pela dupla maravilha Gi e Sóninha - viveu-se no último fim-de-semana, e coroou-se com a atribuição de cinco troféus disputados por nove Doncellas - Baiana, Carina, Diana (presente via web), Lara, Mónica, Paulinha, Pipa, Rita e Vera.


Votos contados e filme do ano visionado (argumento by Baiana, produção by Paulinha, bastidores by Carina e realização by Vera), aplaudimos, reforçadas pela Sónita, a eleição de uma mão cheia de Doncellas:


Carina, na categoria Apanha-me se puderes
Rita, na categoria Lábios de íman
Baiana, na categoria Ovo Kinder
Paulinha, na categoria Operação Non Stop
Vera
, na categoria A verdade da mentira


Nota: Por questões de confidencialidade, a categorias foram devidamente codificadas

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

100 anos, no mínimo




Conhecia o pormenor dos joelhos mas desconhecia a data. Agora já sei que ele pediu-lhe em casamento num Dia dos Namorados, comemorado com quase duas semanas de atraso. Minha reacção imediata: «28 de Fevereiro? Esse é o dia de aniversário do Benfica!». Invejando a feliz coincidência - melhor só mesmo casar a 28 de Fevereiro no próprio Estádio da Luz -, chego a uma ainda mais feliz conclusão: temos casamento para durar, no mínimo, o tempo de uma Gloriosa História. Mais coisa, menos coisa, 100 anos estão garantidos!


P.S.: Já aqui tinha chamado a atenção para a importância da data histórica (vide 12 passos a caminho do melhor 2009 de sempre), mas nunca é demais relembrar: comemorai o 28 de Fevereiro de 1904.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sabe sempre a pouco

A ocasião traz o jantar. Num reencontro muito ansiado, em data electronicamente conciliada, o prato principal serve-se dos ingredientes das nossas vidas. Um casamento de dar vontade de casar (ai, que orgulho); um e outro entendimento de dar muito que falar (haja línguas por descobrir); um relacionamento de dar vontade de abençoar (já comia bolo outra vez); e um e outro entretenimento de dar muito o que pensar (ena, que isto tem sido um rodízio).


Genuinamente bem temperadas, as especialidades das nossas vidas misturam-se ao gosto das experiências que vamos partilhando, conservando sempre o mais especial dos sabores: aquele que só se prova com o coração. Sem prazo nem espaço de validade - porque pouco importa o tempo e a geografia das físicas distâncias - a nossa receita aprimora-se para gáudio das nossas delícias.


Mas desta, como da última vez, faltou um insubstituível acompanhamento da nossa ementa, apenas compensado pelo doce sabor de boas lembranças. Desta, como da última vez, faltou tempo para mastigar todas as últimas refeições, e diagnosticar sem engasgar algumas presumidas indigestões. Desta, como da última vez, o tempo de um bom jantar - que se alongou num cear - não me conseguiu matar a já larga fome de confraternizar. Desta, como da última vez, o tempo de um delicioso jantar abriu-me ainda mais o apetite para novos manjares. Todos de bom e relacional proveito.