quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Tudo Boas Doncellas *



Poderia ser este o título cinematográfico de mais um ano de brilhantes interpretações nos palcos das doncellas. Mas se assim fosse, dificilmente transmitiríamos o alcance das nossas aventuras e desventuras. Por isso, o melhor a fazer é distribuir os créditos de 2008 por nove títulos: um por cada doncella. Bora então reviver as nossas impagáveis comédias (A Fábrica das Loucuras); recuperar alguns dos nossos convulsivos romances (Palpitações); relembrar os terrores de certos suspenses de género (Os suspeitos do Costume); e também recapitular os dramas do nosso amadurecimento (Dias de tempestade).

Baiana
Boa noite e boa sorte
Sem complicações. Chegar, sondar, abreviar o comunicar e… já está. Da boa noite das apresentações passa-se à boa sorte das despedidas. No fruir de cada momento, bebem-se excessos e testa-se o poder de atracções físicas, por vezes armadilhadas com perigosas explosões químicas. No cruzamento de insondáveis sensações, ultrapassam-se mesmo velhos ‘sinais de proibição’, embarcando-se numa inédita desorientação por betos, bebés, gente de cabeça ruça e até um casado de estado. E como a época passada foi de flashes, podemos esperar novas revelações?

Carina
O amor acontece
Algures à deriva de ligações incontáveis deu-se o programado encontro. Não teve o excesso de velocidade típico dos ‘pintas’ da vida, sucessivamente desencantados de uma incerta comunidade virtual. Também não teve os desvios de percurso saracoteados com professores e colegas de ginásio. Nem sequer teve as colisões frontais precipitadas à boleia de moranguitos. Um atrás do outro, por vezes dois e até sete ao mesmo tempo, ninguém sabe precisar quantos acidentes foram. Mas é evidente que o amor aconteceu. Olá Sra. Vidal, adeus Biatx?

Diana
O espírito do amor

Os sentimentos transbordam-lhe por todos os poros. Com uma força e uma intensidade contagiantes, semeiam tempestades afectivas, deixando corações em suspenso. Um coach do lado de cá, outro coach do lado de lá; um performer das contas do lado de lá, um intérprete de emoções do lado de cá. Neste pulsar titubeante de dois para cá, dois para lá, o ‘jogo’ vai decorrendo ao ritmo dos grandes desafios. Sem um vencedor incontestável à vista, com algumas rasteiras do acaso à mistura, e cobranças de penalidades fora do seu tempo. Temos táctica para afinar a pontaria do amor?

Lara
Terminal de aeroporto
Malas aviadas, check-in despachado, chamada para o embarque… coração bem lá no alto. Bate leve, levemente, como quem se acostumou a descobrir em novos fusos horários novas paixões? Ele é o belga que fala o português no sotaque verde-amarelo, ele é o inglês que fala espanhol no sotaque castelhano, ele é uma natural afinidade com ‘sociedades’ de outras nações. Na rota do que parece ser uma edição de autor dos popularizados jogos sem fronteiras, desvio ainda para um achado alemão num jantar lisboeta de nutrição asiática. Onde fica o próximo destino?

Mónica
Branco não sabe meter

Peitaça inchada, coxa grossa, músculos irresistivelmente palpáveis…O negão é que sabe meter o pandeiro no sítio certo, e, com a sua música, deixar a negra ex-biatx bem assanhada. Pode ser o securitas da periferia laboral, pode ser o pé rapado do rendimento social de inserção, ou pode até ser um insuspeito pai de família, empenhado em desarmar a malandragem com um generoso ramo de flores. Se for negão (atenção que ser negro não chega) a negra gosta. Se tiver um nome a sugerir dificuldade (hard quê?) melhor ainda porque a negra é Hardcore…Tão hardcore que já teve negão incapaz de acompanhar a brincadeira. Devemos temer novas baixas performances?

Paulinha
Febre de sábado à noite

Sábado à noite? Não, que este não é o filme do John Travolta. Nesta história a febre não olha a calendários nem respeita horários. Nesta história a febre é permanente, e as altas temperaturas incendeiam até mesmo os dias de trabalho. Basta uma daquelas sms perturbantes, planos palpitantes para jantar, ou visitas desestabilizadoras para um e mais outro cafezinho. E quando se pensa que o estado febril atingiu o seu auge, eis que se diagnosticam novos sintomas. Pode ser um encontro imediato numa casa de banho à disposição, uma União indigna de primos ou o extravio de mais um telemóvel. Ainda há graus de febre para escalar?

Pipa
Duplo impacto

Águas passadas podem não mover moinhos, mas lá que balançam corações… isso balançam. E o que melhor do que o chocolate para compensar o desequilíbrio de batimentos cardíacos? Mesmo com todos os riscos de se guardar um gosto mais amargo do que doce, gosto pior seria o de ver passar predestinados reencontros sem sondar novas oportunidades. Por isso um brinde ao destemor. Outro brinde à ousadia. Mais um à determinação. E tantos outros aos reencontros, que representam sempre pelo menos dois sinais de vida. Haverá duas voltas sem três?

Rita
Agarrem essa loira
O gingado de ancas pegou-lhe a fama de Shakira do Oeste, terra farta em ondas de conturbadas paixões. Mas os proveitos perseguem-lhe muito além do Oeste, engenho de múltiplas aproximações labiais. Beijinho daqui a Norte, beijo dali a Sul, amasso acolá a Este, e a programação das festas vai demarcando sucessivas respirações boca a boca. Tantas que, num mesmo agito, vivido nos recantos da animação figueirense, os vorazes lábios deixaram-se perder por duas bocas, perigosamente entrosadas em delicadas fugas a um flagrante delito. Seguem-se novos duelos à descoberta de um príncipe?

Vera
Uma noite aconteceu
Artifício de Ano Novo ou não, diz quem testemunhou que o arranque pegou fogo. Começou a esquentar num frenético jogo de mãos direitas, conduzido à combustão nas proximidades de uma lareira. Já com as chamas em perfeita incandescência, o fogo continuou a alastrar, propagando-se a uma garagem livre de olhares gulosos. Apesar do inusitado daquela ebulição, sobretudo pela influência de persistentes ventos insulares, o fogo aguentou meses sem circunscrever. Mas acabou extinto com a mesma rapidez que o fez deflagrar, incapaz de resistir aos alertas tempestuosos vindos dos Açores. Com tantos encontrões do destino, será que o arquipélago e o continente seguirão autónomos?

*Texto retirado do argumento estreado no último sábado, cujos créditos já foram atribuídos no post anterior

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