sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mau acordar



Custa-me horrores sair da cama enquanto ouço a chuva cair. Ter de abandonar o edredão para levar um choque térmico, e ainda entorpecida, sondar o dia à procura de inspiração para bem vestir. Custa-me mesmo muito! Mas apesar de todo o custo, orgulho-me de, na maioria dos despertares, jogar a titular na equipa dos que acordam de bem com a vida. Sobretudo em dias como o de hoje, em que me deparo com uma vista panorâmica de festas para o fim-de-semana. Dia de boa disposição, portanto. Portanto acordei saltitante ainda que sem saber a quantas andava – hoje precisei de uns largos segundos (que me pareceram horas) para perceber que a semana de labuta ainda exigia uma jornada.


Satisfeita da minha vida pré-fim-de-semana e já depois de cumprido o primeiro xixi do dia, deparo-me com isto: secura. Nem uma gota de água. Nada. Torneiras sequíssimas, tal como as tinha deixado algumas horas atrás, antes de ir deitar-me no cansaço da madrugada. Daí para a dúvida da manhã nem foi preciso um passo: «Será que me esqueci de pagar a água?» Numa caçada desesperada pelas últimas facturas, suspiro de alívio ao ver os papéis eliminarem a minha inquietação (desnecessária se já tivesse aderido ao débito directo), mas fico ainda mais intrigada com a situação.


Cinco horas sem água? Então penso que àquela hora (antes das 9 horas) ninguém me vai atender, mas sou surpreendida logo ao segundo número discado: «Rebentou uma conduta nessa zona e não conseguimos prever quando é que a situação estará normalizada». Ainda incrédula, embora já a atirar para o reivindicativo, ouço a funcionária pedir-me paciência. «Pois, que remédio», deixo escapar o resmungo, maldizendo o facto de a paciência não constituir sinónimo de higiene. Agarro-me então à garrafa de água de 33 cl que religiosamente tenho à cabeceira, e aproveito o que sobrou dos goles ensonados para escovar os dentes e borrifar a cara.


Sem tirar o pijama, estrategicamente coberto por umas calças de ganga e um casaco, saio para o supermercado com a missão de encher um balde de banho. Cinco litros de água depois – conseguidos a um preço (0,60€) que me despertou para os roubos de que tenho sido vítima por esse mundo de cafés afora – completo o meu arcaico plano de limpeza: fervo cerca de 1,5l de água, acrescento-lhe a olho a quantidade que me parece indicada para sentir uma temperatura aceitável, e delicio-me com o meu prémio. Poucas vezes um banho tão curto me soube tão bem.

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