domingo, 1 de novembro de 2009

Os laços e os nós

Antes ainda de acabar, já me bastou. O drama, que nem a maior sensibilidade do mundo consegue alcançar sem vivenciar, percorre o ecrã da minha LG sem que eu veja nele o principal dos dramas. Não é o facto de as famílias colapsarem e de haver tantas e tantas crianças institucionalizadas que mais me perturba. Ao olhar para as imagens, senti-me incomodada com a falta de limites, com o ‘vale tudo’ que a pretensa necessidade de informar insiste em propagar.

Como é possível entrevistar-se miúdas de oito, 12, 15 ou 16 anos, explorando-se-lhes os mais enegrecidos traumas? Como é possível confrontá-las com os demónios que desde cedo as acompanham, e que a instituição que as acolhe deveria fazer por exorcizar? Tudo isto sem reservas de identidade, sem aparentes preocupações com a sua ‘especialidade’, tornando-se aflitivo vê-las recalcar, de frente para uma câmara de televisão, angústias de uma infância e de esperanças perdidas. Seja nos olhos ‘descaídos’ de uma, nas lágrimas travadas de outra, ou nos sorrisos constrangidos e descontextualizados dos entristecidos discursos…

Tudo na forma como se formatou a presumida grande reportagem levou-me a rejeitá-la aos primeiros planos e a desejar o indesejável: a intervenção de uma entidade esotérica, também conhecida pelo nome de ERC.

2 comentários:

  1. Se bem percebi, a reportagem de que falas é sobre as crianças orfãs da Sida... Percebo o que queres dizer. Infelizmente, quando as coisas acontecem longe de nós, a preocupação com a privacidade é nula, principalmente se estamos a falar de pessoas que nunca intentariam qualquer acção em tribunal para fazer valer os seus direitos...
    Esperemos ao menos que a reportagem tenha chegado aos corações daqueles que possam fazer a diferença...
    Beijos*
    Iva

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  2. A reportagem passou ontem e era sobre crianças retiradas das famílias por abusos, maus-tratos, negligência etc...impressionou-me o à-vontade com que se permitiu que as crianças dessem 'a cara a tapa'. Perguntas do tipo: como é que era em casa, ou sentes-te diferente dos teus colegas? Respostas do género: 'o meu padrasto batia-me quase todos os dias com aqueles cintos que deixam marcas', ou, 'queria ser normal e ter uma família como outra pessoa qualquer', angustiaram-me não tanto pelo que se disse, mas pelo ar entertainment da coisa...

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