terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Gira a bola #2

São carros atrás de carros. Entopem o estacionamento do precário aeroporto, engolem os passeios e ajeitam-se em qualquer buraco que se vislumbre nos indescritivelmente engarrafados caminhos. Hummers de colocar os Yannick Djalós da estrada no boeiro, bombas que a minha ignorância automobilística não consegue marcar, e peças dignas de figurar dos negócios declarados daquele Godinho que ficou com a cara a descoberto.

Num desfile intenso e diário de bólides, por vias sempre e sempre congestionadas, exibe-se toda a sorte de manobras de transgressão: ai, olha mais um em contramão, ui, que aquele passou o vermelho, xiii, quase que se espetaram.

Pára e arranca, pára, pára e não avança, as viagens arrastam a paciência e esgotam conversas pelas crateras de asfalto e terra batida. Ouve-se uma rádio, muda-se para outra, e da janela avistam-se colecções de venda ambulante, onde aos habituais CD’s e jornais se juntam fatos Armani, máquinas de barbear e aquelas feiuras de calçar afamadas pelo nome de crocs.

Na paisagem do caos da cidade, a construção de empreendimentos de luxo destoa da profusão de edifícios com marcas de guerra, enquanto os táxis da praça, unicamente de nove lugares, ensardinham mais e mais passageiros, aparentemente desligados das mais elementares preocupações de segurança.

Também observo crianças. Sujas, descalças, esfarrapadas, invariavelmente à caça de uns kwanzas de negócio. Poucas são as que se perfilam num caminho de escola e muitas acompanham a batalha diária das mães, guerreiras armadas de alguidares, carregados de frutas e legumes. Pergunto-me pelos maridos e pelos pais e estaciono num destino que dispensa respostas.

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