quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A minha ditadura é melhor do que a tua

Isto está bonito, está. Firme da vida, volto pela segunda manhã consecutiva à agência da Conde Barão. Encaminham-me para o segundo funcionário da zona além balcão que, minutos depois, se apresenta como o sub-gerente da chafarica. «Bom dia, venho apresentar uma reclamação». Cumprimentos despachados, cortesia qb do dito responsável e automaticamente avançamos para a tradição de todos os livros amarelos. «Mas quer mesmo reclamar?». A pergunta insinua-se a cada contra-argumento ao meu argumento até que, de novo, se dá o impasse. «Já lhe expliquei de todas as formas possíveis, mas pelos vistos não me consigo fazer entender. Se quer reclamar, reclame. Vou buscar o livro». Finalmente, aleluia, viva! Ao fim de uns bons 15 minutos de mais um diálogo inacreditável, consegui exercer o meu direito de cliente e protestei.

Protestei hoje por causa de ontem e amanhã continuarei a protestar por causa de hoje, dia de ficar estupefacta com os ódios que por aí se alimentam por puro ressaibo. Ora então, não é que depois de tentar perceber em que medida um carimbo num extracto bancário se tornou uma questão tão sensível - como se dele dependesse a honra de um Estado - sou novamente massacrada com a história das normas internas? «Não entendo. Que normas são essas que vos obrigam mas deixam de fora a agência da Praça do Comércio?».

Blá-blá-blá para cá, blá-blá-blá para lá e, entre outras lições, o homem explica-me que a agência fica na Rua Comércio e que ao contrário do que eu afirmo não é a sede do banco, essa fica na Avenida da Liberdade. Oops! Quanta ignorância a minha. Pior do que isso só mesmo quando lhe mostro as cópias da papelada carimbada e rubricada pela outra agência: o homem diz-me que aquilo não é um extracto. Ai, não? «Sabe o que um extracto?». Huummmm. «Pelos vistos não sei, mas explique-me porque gosto de aprender». Vamos lá: «O extracto é o documento que o banco envia todos os meses ao cliente, isto que tem aqui é uma consulta de movimentos». AAAAAAAHHHHHHHH! «Mas tem o saldo, não é? Foi apenas isso que pedi e até especifiquei que bastava ter os 10 últimos movimentos». Resumidamente, assim numa versão que até o senhor super intransigente consegue atingir, não é o nome do documento que está em causa, é a recusa da agência em entregar-mo carimbado.

Não, espera! O homem finalmente percebe que não me consegue convencer da lógica do raio da decisão e deixa vir ao de cima complexos evidentes de ex-colonizador que não consegue lidar com a ascensão da velha colónia. «Há clientes que levam a mesma declaração que lhe passámos e não têm problemas. Isso significa que é admissível». Olha, olha, querem ver este? «Não coloco isso em causa. Também sou cliente e não me aceitaram a declaração. Aliás, já tentei apresentar um extracto - ou consulta de movimentos, chame-lhe o que quiser - sem carimbo e foi-me devolvido».

Já com o azedume a espumar-lhe da boca, o tipo confirma o que até aí apenas ia dando a entender. «Isso só prova que ELES não têm regras: para uns pedem umas coisas, para outros outras. Acha que isso faz sentido? Um extracto bancário, seja de que instituição for, tem a sua origem mais do que identificada e por isso deve ser considerado um documento válido». Upa, upa, que agora o caso muda de figura! «Para mim não faz sentido mas não fui eu que criei a regra por isso não tenho de responder por ela». Sendo assim, devolve-me ele: «Então por que não protesta como está a fazer aqui?». Eh, lecas! «Primeiro, quem é que lhe disse que não protestei? Acontece que se trata de uma norma estabelecida por um Estado independente e soberano para o qual eu quero viajar. Se para isso tenho de reunir uns quantos documentos, por mais estranhos que sejam, é exactamente isso que farei. Sujeito-me».

Está mais do que visto que o tipo quer saber por que não me sujeito também à política do não-carimbo. Simples: porque prejudica-me e porque não sou obrigada a fazê-lo. Porque até ver não há nenhuma lei que diga que não tenho o direito de obter do ‘meu’ banco um comprovativo de rendimentos devidamente carimbando e rubricado. Mais do que isso: se a oferta de serviços do ‘meu’ banco não vai ao encontro da minha satisfação assumam isso com todas as letras e adeus até nunca mais. Por isso mesmo, porque no que respeita a bancos tenho a opção de escolher - não tenho de sujeitar-me a restrições que me penalizam -, liguei para a sede (e desta vez acertei) numa de projectar a minha sorte.

«Digam logo de uma vez: pode uma agência recusar-se a passar uma declaração a um cliente só porque não concorda com a mesma?». Depois de uns 10 minutos de espera telefónica, ficaram de me ligar com mais informações. A ver vamos.

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