domingo, 23 de junho de 2013

O questionário

Foi bom? Óptimo. Foi mau? Acontece. Não foi? Nem sempre tem de ser. Mesmo que o assunto seja a fonte de todos os vossos problemas, vão por mim: continuo a não querer saber muito mais do que isso. Podem falar-me do drama, entenda-se, mas não se empolguem com a infinitude da sua extensão. Dispenso saber e, aparentemente, isso faz de mim a negação das despedidas de solteiras.

No ano passado, às páginas tantas, saiu-me: “Eh, pá, isso é tão intrusivo”. Claro que num estalar de dedos fiquei com a cabeça a prémio. “Estás a ser conservadora, temos de ter a mente mais aberta” e o diabo a quatro...a oito, a doze.

Não me lixem. Uma coisa é ser liberal e ter a mente aberta com a minha vida e de mais ninguém. Outra bem diferente é andar por aí a expor intimidades vividas no plural. Não num plural abstracto, como acharia aceitável, mas num plural muito concreto de duas pessoas que não quero imaginar a fazer isto, aquilo e aqueloutro.

“Qual é o problema?”, perguntam-me, “somos todas adultas”, insistem. E, como se estivéssemos a discutir uma vulgar classificação de um qualquer filme em vias de exibição, este ano, tal como no ano passado, a obsessão em conhecer em detalhe a vida dos noivos converte-se no grande sucesso de bilheteiras. Menos para mim, claro, a estranha pessoa que não precisa dos filmes porno dos outros para se entreter. Chegam-me os meus.

Por isso por muito que evoquem a sagrada e longa tradição de sexualização de questionários nas despedidas de solteira, continuo sem ver interesse algum na coisa. Ainda percebo a curiosidade de se saber quando foi a primeira vez – no primeiro encontro, depois de um mês? –, também consigo entender as perguntas do sítio mais romântico e tal, mas enough is enough.

Não quero saber o que as minhas amigas fazem imediatamente depois do acto com o tal, não estou interessada em conhecer a situação mais hard core que viveram antes do até que a morte nos separe, estou-me nas tintas para as fantasias sexuais mais bizarras que encenaram a caminho do altar, e não preciso de ser apresentada aos múltiplos cenários de actividade. Porque somos adultas sim, somos amigas, claro, mas para mim a sexualidade vive-se na intimidade e é aí que se deve conservar. A dois ou a mais do que dois não me importa. Tratem é de gozar o plural na relação.

Porque é disso que se trata, minha gente adulta. Uma relação não é uma exposição. A menos que, a dois ou mais do que dois, queiram converter a intimidade num daqueles shows de vocação voyeurista. Nesse caso, minhas amigas, dou-vos toda a minha força e, já que falamos nisso, toda a permissão para rifarem o meu bilhete.

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