sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Gente sem perspectiva




A meio do jantar de terça-feira só me conseguia lembrar de uma das cenas de stand up do Jerry. Recordo-me de o ver (e de o ouvir) questionar o interesse de amizades brotadas em idade adulta. Sempre naquele registo que, reposição após reposição me mantém agarrada à série, o Jerry argumentava que, a partir de certa fase, o melhor a fazer é deixar o ciclo fechar.




Na base da alegação à Seinfeld estava um dispensável trabalho de construção, que automaticamente adaptei à minha leitura das obras da vida. Depois de anos a investir nas estruturas que amparam a nossa existência, através de ‘concursos’ ainda mais embrulhados que os públicos – quanto mais não seja pela assumida incoerência dos critérios de selecção – vale a pena lançar novas empreitadas?



Sem qualquer encolhimento de alma, a meio do jantar de terça-feira só me conseguia lembrar das distâncias planetárias que me afastavam da maioria dos outros lugares da mesa. Bem de propósito, vejo um desabafo espontâneo ser aniquilado por este comentário: «A bolsa agora está uma maravilha». Pausa para digestão.



«A bolsa?», interrogo eu, que, segundos antes, maldizia o inflacionamento – 19 euros – de uma refeição fugazmente saboreada a tapas. «Sim! A bolsa. Ainda hoje comprei umas acções da Sonae». Pausa para indigestão. Encaixo a falta de perspectiva da capitalizada colega e não contenho o remate: «Claro! A bolsa! Depois desta conta é o que mais me afecta». Dito isto, no final do jantar de terça-feira só me conseguia lembrar de manter a accionista a léguas do meu tão bem frequentado ciclo.

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