segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Incêndio não circunscrito



Foi a frase da noite: «Vocês vieram incendiar o campo!». No andamento da deixa, as incendiárias arrasaram o shot, inventado a partir de uma dose de rum, estranhamente apimentada por uma porção de limão inesperadamente temperado com açúcar e café. Ninguém diria que, alguns passos atrás, estávamos nós a maldizer o frio e a tentar corromper o cansaço, como quem antecipa um desfecho antecipado da programação.



O início da noite justificava os maus agoiros: por força da desistência quase completa da equipa da casa, vimo-nos na contingência de adiar o ansiado frente-a-frente Mouras vs Tripeiras. Dizem as mais sábias línguas que o mote da mão direita (o mentor já teve aqui a sua apresentação) amedrontou de tal forma as anfitriãs, que acharam melhor ‘tirar o time de campo’. Excepção feita para a Rita do Norte (cumpre a distinção o fim de evitar confusões com a Rita do Sul), uma mestre de cerimónias à altura da nossa 'giganteza'.



«Belo casting», dizia eu para a Sónia, reconhecendo o acerto de mais um valioso cruzamento relacional. E para que não restassem dúvidas sobre a qualidade da selecção, alguns considerandos adiante, a nossa ‘conquista’ esclarecia: «Não tenho culpa de ser tão simpática». Nisto, vínhamos de uma Boavista que nos serviu um bom jantar. Nisto, íamos seis num carro de cinco, a caminho do centro do Porto.



Quando finalmente estacionámos, demos de caras com um destino que nos deixava a escassas ruas da nossa bem achada Pensão. Fantástica pelo nome - União - fabulosa pelo preço - 16 euros, duas noites - e ‘fantabulástica’ pela localização - entre esquinas com os Clérigos. Ali, no coração do agito, virámos conversas, cruzámos gentes, e, entre caipirinhas de sabores irresistíveis (ai que saudades daquela mistura com maracujá) quase resvalámos para o ‘ponto morto’. Salvou-nos o Plano B, que, bem mais do que a expressão do conceito de alternativa se revelou a expressão do conceito de ressurreição.



Ao som de um «Vocês vieram incendiar o campo!» - entoado pelo barman-autor da frase da noite - despertámos para a viragem da programação. Electro-house de um lado, rock do outro, moches da Rita pelo meio…e o fogo alastrava… Enquanto isso, outro destino se impunha via sms’s, atempadamente retomadas de uma combinação de véspera, inoportunamente interrompida por um telemóvel extraviado.



Ordenou a mensagem que seguíssemos até à Via Rápida, viagem cumprida à boleia de um taxista que trazia o Benfica e Moçambique na história. Um verdadeiro bálsamo depois da anterior experiência, em que quase me engalfinhei com um artista do volante. Daqueles insuportáveis a ponto de barafustarem contra o simples facto de as estradas existirem. Saneada a má impressão dos taxistas portuenses, chegámos à Via Rápida bem dispostas para receber a boa nova: a night era de ladies. Pouco depois juntamo-nos aos gentlemen, a quem fomos conduzidas via mais sms's. De repente, o lance era fazer romance.



Já em Maré Alta, designação do after-hours lá da terra, há quem tenha explorado o corredor dos prazeres, quem tenha pressentido o pior numa longa espera na casa de banho, e quem se tenha redimido - com generosas rodadas de shots - de falhas graves cometidas no Plano B. O tal plano onde um barman alertava para o perigo de incêndio, com a mesma naturalidade com que um tripeiro reflectia comigo sobre o factor Obama. Entretanto passou uma semana, e se por circunscrito entendermos restrito ou limitado, convém deixar bem claro que o incêndio que deflagrou no Porto continua por circunscrever. Em Lisboa ou no Porto, no Porto e em Lisboa. Seja qual for o lugar, a combustão está lançada.


Sem comentários:

Enviar um comentário