quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Modernices #2



Primeiro foi o vestido da miúda. Uma criança nuns inocentes seis, talvez sete anos. Voltei a olhar para a imagem na expectativa de sentir a indignação que me estava a ser transmitida e nada. Continuei a ver apenas uma criança nuns inocentes seis, talvez sete anos. Mas e as pernas a descoberto? Assim, mal cruzadas, a revelarem uma nesga de cuequinha? E eu que só conseguia ver uma criança nuns inocentes seis, talvez sete anos. Nada de tarados pedófilos à espreita no meu horizonte. Mas, ok, concordei. Há gente capaz de fantasiar perversões perante uns inocentes seis, talvez sete anos. Mas isso deixa de fazer da imagem uma foto de família? Os tarados pedófilos deixarão de ver na criança uma presa se ela aparecer de pernas bem cruzadas? Ou será que os pedófilos só cobiçam crianças com nesgas de cuequinhas à mostra?

Agora é a campanha animada do Facebook. Comecei apenas por achar tudo uma grande parvoíce, mas, depois, ao percorrer as imagens de mudança dos perfis à minha volta, senti-me inundada por uma onda tão boa que também quis navegar um pouco mais pela minhas desenhadas memórias. Mesmo sem saber como tudo começou. Mesmo sem que pareça haver nisto uma qualquer nobreza de causa. A mim basta-me a onda cool e quem não a sente que não a apanhe, da mesma forma que nunca me deixei arrastar pelas ondas sexistas que ligavam cores à lingerie, locais da casa ao pouso das malas, e valores de multas a experiências sexuais.

É uma opção. Adere e rejeita quem quer. Mas associar isto a uma campanha ao serviço de taras pedófilas? Sob a argumentação de que os putos desatam a aceitar convites de amizade enviados por gente de feições animadas? E eu, aqui, tão orgulhosa da minha turma que continuo incapaz de carregar de negro um movimento tão colorido. Será ‘loirice’ minha, ou a preocupação não deveria estar na hipótese de os putos aceitarem convites de gente estranha? Manipular a imagem que serve de apresentação a um perfil é tão fácil, mas tão, tão, fácil que não vejo o interesse de embonecar tudo e todos. Até porque, digo eu, desta forma torna-se um bocado mais complicado para os predadores seleccionarem as suas presas. Mas isto sou eu, na inocência dos meus 31 anos.

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