sábado, 15 de outubro de 2011

A propósito de indignações

O protesto iniciou-se com um post no Facebook. Where else? A cliente, indignada, protestava contra a inépcia do senhor comerciante/empresário português para o negócio. A descrição encarregava-se do resto: cliente A entra no estabelecimento X quando ainda falta uma hora para as portas fecharem (às 22h) mas depara-se com um cenário de arrumação. Afinal, explica-lhe o dono da casa, todos os dias é a mesma coisa: gente e mais gente interessada em pagar por mais um gelado e se calhar mais um e mais outro...

Afinal, lamenta o dono da casa, é assim desde Fevereiro, por isso convém ir recolhendo mesas e cadeiras antes que a malta resolva abancar e não mais desamparar a loja. Como? Indigna-se a cliente. Tantas empresas a fechar, tantos desempregados em desespero, todos indignados e, no final, vai a ver-se e quem tem a opção de produzir mais prefere produzir menos.

Et voilà! Num ápice, ao jeito de um íman todo-poderoso, o post atrai comentários atrás de comentários, unânimes na condenação da mentalidadezinha do tuga. Fácil, fácil, não é? E a opção de descansar depois de um dia de trabalho no lombo? Ah! Compreendi! Os clientes querem esticar a noite e a conversa com os amigos e famílias custe a quem custar, doa a quem doer. Ah! Compreendi! O senhor comerciante/empresário que nem ouse fazer o mesmo. Que preguiçoso! A burguesia numa de pagar para descontrair e o senhor comerciante/empresário numa de ir repousar.

Mânfio do catano! Ele que se dê ao trabalho de contratar mais pessoal, alargar o horário, multiplicar obrigações, subtrair os próprios direitos. Tudo menos abdicar de uns valentes (quão valentes?) euros todos os dias para ir à vidinha dele. Ou será que, em nome dessa tal de recuperação económica, prosperidade e yada-yada-yada, nos devemos tornar todos robôs ao serviço dos euros? Ah, não! Todos não! Só aqueles que têm como função servir os interesses burgueses daqueles que querem saborear um gelado ao final do dia. Pois-tá-claro.

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