sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Limites da loucura

Aquela musiquinha deprimente a servir de fundo, a frieza das paredes hospitalares, o discurso distorcido por interferências que assumo serem da medicação. Tudo ali pesava-me demasiado para acompanhar a ocasião, por isso estava determinada em pressionar o botão e fazer zapping dali para bem longe. Mas deixei-me estar, e, quando dei por mim já andava perdida em reflexões, embalada por aquela musiquinha deprimente, acomodada naquelas paredes hospitalares e especialista na descodificação dos medicamente assistidos discursos. De repente detenho-me num homem. Pessoa com um passado regrado de aparências e um quarto de hospital entupido de lembranças. Como terá ele ido ali parar? O que fez resvalar uma existência de lucidez socialmente comprovada para uma ruptura com a dimensão de um internamento clinicamente forçado?


A inquietação daquela reportagem, gravada nos corredores do Miguel Bombarda, mais conhecido por Júlio de Matos, voltou-me há dias. Agora já não através da distância de um ecrã mas antes pela proximidade da porta de trabalho. Ele que costumava brincar e confraternizar passou a calar e rezingar. Ele que era tão aberto fechou-se. Notámos, comentámos, perguntámos, confrontámos, preocupamo-nos e, umas semanas depois dos primeiros sinais de estranheza ele desaparece dali para bem longe. Como terá ele ido ali parar? O que fez resvalar aquela existência de lucidez socialmente comprovada para uma ruptura com a dimensão de um internamento clinicamente forçado?

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