quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Votos de silêncio


Por vezes apetece explodir e libertar as frases que sufocam. Mas quanto mais experimento as preferências humanas, menos acredito em explosões de pacificação. Por isso, quando por vezes me apetece explodir e libertar as frases que sufocam, prefiro conter-me asfixiada. Por isso, quando por vezes me apetece partilhar verdades que sinto, prefiro censurá-las a revelá-las. Tudo porque a maioria dos mortais que conheço privilegia um consentimento falso a uma discussão verdadeira. Tudo porque mesmo entre amigos comprovadamente amigos a verdade de uma opinião chega demasiadas vezes como um ataque da oposição.

Por isso, apesar de acreditar, com a devida sensibilidade para as sensibilidades, que as opiniões dos amigos comprovadamente amigos nunca deveriam gerar afastamentos, a realidade é que os receios dos distanciamentos falam muitas vezes mais alto e calam a frontalidade. Porque no fundo, no fundo, quando não logo à superfície, sabemos que quando as pessoas não querem ver aquilo que está escandalosamente à vista também não querem ouvir.

Porque no fundo, no fundo, quando não logo à superfície, sabemos que ninguém lida pacificamente com a má crítica, o julgamento e a reprovação. Por isso, quando por vezes não deveria ser condescendente com um amigo comprovadamente amigo acabo por sê-lo e, em vez de o contrariar, muitas vezes opto pelo silêncio. Não como quem consente num erro, mas como alguém que cala porque pressente na frontalidade a chegada da hostilidade. Por isso repito: nem aos amigos comprovadamente amigos (a seu tempo postarei sobre o meu entendimento disto) é-nos permitido dizer tudo.

5 comentários:

  1. Ser, até é, mas depois, como em tudo, tem que se estar preparado para as consequências. A minha atitude nestes casos tem sido a seguinte (ou pelo menos tento que seja): emitir a opinião apenas se requerida ou caso a situação seja demasiado séria para ficar calada. Como em tudo, importa mais a maneira como se diz do que aquilo que é dito. Podemos amenizar o que é dito pela maneira como colocamos a coisa, sem deixar de dizer aquilo que é realmente importante. Contudo, at the end of the day, o que realmente importa é o que a própria pessoa sente e pensa em relação a tal questão. E nada do que fizermos vai alterar isso, nem tem de alterar. Nós, os amigos, com a MELHOR INTENÇÃO DO MUNDO, julgamos saber o que é melhor para o outro, mas nem sempre o sabemos. E, por vezes, o mais difícil é perceber que o amigo não tem de agir conforme a nossa bitola, por mais correcta e equilibrada que ela nos pareça. God works in misterious ways. Às vezes aquilo que nos parece tão óbvio, não é, nem de perto, nem de longe, aquilo que "deve" ser. E a vida continua...
    Beijos!
    Iva

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  2. Idem, idem aspas, aspas. O meu 'não ser permitido' é precisamente por antecipar más consequências. Tenho muitos mixed feelings em relação a isto, embora prefira claramente uma guerra com perspectivas de desanuviamento a uma paz podre :)
    bjs

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  3. Infelizmente não tenho boas experiências de quando resolvo dizer, o que devo dizer, ao amigo comprovadamente amigo... e isso, entristece-me. No meu entendimento, não dizer torna a amizade cínica e falsa, e disso eu não sou capaz. É verdade que já consigo ser cínica, no trabalho, e por necessidade, mas recuso-me a sê-lo deliberadamente com quem gosto e na minha vida pessoal. Creio que esta minha forma de agir tem os dias contados... Já fui mal interpretada... e já me disseram mesmo para controlar o que penso e as minhas emoções. Resumindo: 'torna-te cínica Rita, gosto mais de ti assim'
    beijos no coração, a ti, que sei, posso dizer o que penso

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  4. Minha Catita do coração :) és uma amiga comprovadamente amiga, e esta minha certeza é à prova de quaisquer mal-entendidos. Palavra de P.C. :)

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