quarta-feira, 18 de junho de 2008

Elas não sabem o que querem!


Ignorei a chegada do email. Trazia «monólogo de uma mulher moderna» no assunto, e exibia a classificação «fantástico». Apesar de ser uma mulher moderna e de gostar de coisas fantásticas (que as há, há), reconheci no email um dos pecados capitais dos forwards e recusei penitenciar-me num scroll-down. Só mudei de ideias algumas horas mais tarde, já em casa, quando a classificação fantástico apareceu reforçada com o comentário: «É a mais pura das verdades».
Se era verdade - por muito que a verdade muitas vezes se resuma a um mero confronto de perspectivas -, eu tinha de conhecê-la. Pior para mim: acabei preocupada com as 'verdades' de duas amigas.


«Quero ficar em casa, a cozinhar, a ouvir música, a cantar, etc???»


«Gostava de saber quem foi a bruxa imbecil, a matriz das feministas que teve a desgraçada da ideia de reivindicar os direitos da mulher, e por que o fez connosco que nascemos depois dela???»


«Estava tudo tão bem no tempo das nossas avós???»


AAARRRGGHHH! Quanto mais lia, menos percebia a cabeça por trás do monólogo, menos entendia as cabeças por trás da divulgação do monólogo.

«Tínhamos o domínio completo dos nossos homens, eles dependiam de nós para comer, para se vestirem e para parecerem bem à frente dos amigos. E agora? Onde é que eles estão???»

Tanto pergunta a monologante, que só mesmo a monologante para responder: os homens «fogem de nós (mulheres modernas) como o diabo da cruz (...), lançando-nos no calabouço da solteirice crónica aguda!!!!» Isto quando «antigamente os casamentos eram para sempre». E como uma desgraça nunca vem só: «a maior prova da superioridade feminina era o facto de os homens esfalfarem-se a trabalhar para sustentar a nossa vida boa!»

Sei que é frase feita, desfeita e refeita, mas depois de ler tanta frustração junta, só me ocorre escrever que algumas mulheres não sabem mesmo o que querem. E como diria o grande Jean-Paul Sartre: «Liberdade não é fazer o que se quer, mas querer o que se faz».

2 comentários:

  1. Eu cá que também sou contra os forwards e os monólogos... confesso: a desgraçada que decidiu queimar soutiens devia ficar presa num colchete até ao fim da vida... já me estava a ver a gastar o dinheirinho que o meu marido ganhava e a enchê-lo de beijos e jantares romãnticos todos os dias... desculpa lá, mas eu habituava-me

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  2. Era bom era! Mas a desgraçada que decidiu queimar os soutiens é também a responsável, em parte, pelos desejos de se trabalhar menos e aproveitar mais os mimos do lar. Da mesma forma que as mulheres evoluíram para modernas, os gajos também deixaram de ser homens das cavernas. Daqueles que se achavam donos das respectivas esposas e que se achavam detentores de todos os direitos universais e particulares. Mil vezes trabalhar (ai, que à segunda-feira custa tanto), do que voltar à era da submissão...

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