terça-feira, 14 de abril de 2009

O caso do envelope




Nada de enganos. Por muito que o título sugira ramificações às histórias mal contadas do mafioso do Norte, aqui não há espaço para os Augustos Duartes da vida. É certo que o meu envelope também mistura futebol a insinuações suspeitas, mas as semelhanças com o processo salgadamente condimentado acabam aí. Vejamos como...

Tinha 21 anos e estava com um amigo à espera de um colega que se tentava despachar de um turno laboral inoportuno. Tudo na paz, não fosse o amigo estar com uma namorada da pior das espécies de ‘mete nojo’. Já a desesperar pela chegada do tal colega - ao mesmo tempo que rezava para que a chuva não engrossasse -, de repente vi-me com um envelope nas mãos. Cacete! De tão distraída que estava com as movimentações pré-derby, acabei por nem sequer olhar para o mensageiro.

Apesar de intrigada, lá abri o sobrescrito e rapidamente convenci-me de que um amigo do meu futebolisticamente relacionado pai me tinha reconhecido. Era a minha única explicação para o inesperado daquele convite, que me desvirginava as portas da tribuna VIP. Ainda assim, esgrimi e dirimi teorias com o meu amigo, enquanto a namorada dele continuava a meter nojo e o meu colega teimava em não chegar.

«Por que raio entregam apenas um convite se vêem que estou acompanhada?» /«Vim convosco, agora não vos vou deixar assim…» Na partilha dos meus constrangimentos, o meu amigo questiona-me: «O que tens a perder? Vais para um sítio público, por isso se houver problema grita». Decidi-me pela experiência VIP e logo ao cruzar a zona da estátua senti a diferença. Entre olhares e assobios, vi a passagem para o outro lado transformar-me numa qualquer celebridade instantânea.

E quem diz instantânea diz efémera: à entrada na zona VIP, fui abordada pelo misterioso mensageiro, enquanto os pseudo-importantes me lançavam uns incertos olhares. Fixei-me no homem do envelope. Quarentão e charmoso, falava-me num mau inglês, depressa substituído por um perceptível francês, apesar de marcado por um estranho sotaque.

Seguimos para o camarote, onde as inscrições nas costas das nossas cadeiras denunciaram a origem do estranho sotaque: Inter de Milão. Conversa vai, conversa vem, surge o convite para o hotel, prudentemente alargado aos meus amigos. Sem compromissos, porém emocionalmente comprometida, recusei a oferta e desviei dali a conversa.

Nisto, avança já a segunda parte do jogo, e a giganteza do Benfica precipita a despedida do italiano. Diz que queria observar o Delfim mas não conseguiu por causa do nada a que ficou reduzida a equipa lagarta do dito: 3-0 exultava eu, nos tempos de um Mourinho ainda debutante.

Telefone anotado, promessas de uma master recepção à altura de uma eventual visita a Milão, e acabo por ver os últimos minutos de jogo sozinha num camarote permanentemente assediado por olhares de imediata descodificação.

Acompanhante! Era isso que sentia cochicharem os olhares, respaldados pelo meu porte de um casaco de pele até aos pés. Acompanhante! Também só pode ter sido esse o rótulo que fez recuar o Abel Xavier.

Pois é! O cabeça de gema de ovo brochou assim: estava eu já dentro do elevador, prontinha a descer da tribuna VIP, quando vejo a entrada da cabeleira amarela ser apressadamente ultrapassada pela respectiva saída.

Não sei se por receio de um ataque aqui da predadora sexual (TENHAM MEDO, TENHAM MUITO MEDO), certo é que assim que me pôs a vista em cima o Abel desatou a fugir. Imagino o que ele terá imaginado quando percebeu que havia homem capaz de assumir o risco de partilhar viagem com os meus impulsos carnais…Quem? Fica o refrão: sou soooou sou soooou Benfiiiiiiiiiiiiiiiiica,sou soooou sou soooou Benfiiiiiiiiiiiiiiica

4 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido essa história! Demais! ;)
    Já sabes, diz-me com quem andas...
    Acompanhante, a minha amiga!! Quem diria??!! Lol! Há com cada uma... Ao menos estiveste na tribuna vip, nada mau como experiência, não?
    Beijos!!

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  2. Miga, cuidado com o alzheimer. Contei-te esta história nos nossos tempos de ISCSP :)Quanto à experiência VIP topa-me a ingenuidade: não sabia que os comes e bebes eram de borla LOL
    E como não queria chular o gringo nem avancei para os petiscos...

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  3. Lololol! :)
    Já tinhas contado sim senhora, só agora fez o click... Ai esta cabecita, tenho de voltar a fazer uns sudokus!
    Baci!

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  4. Pois para mim é novidade!!! Grande história!!!

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