sábado, 23 de janeiro de 2010

Gira a bola #4

Carta aberta a quem a ler

Já a meio da primeira parte do desafio Luanda-Expansão, é com orgulho de campeã que escrevo. Ontem, aos 22 dias de Janeiro de 2010, cumpri, no limite do esforço, mais uma jogada de registo nesta terra de Deus Zedu. Tão suada que não via a hora de regressar ao meu pouso e agredir o ambiente com uma hora de excessos de chuveiro.

A ocasião não era para menos: as torneiras da minha casa secaram na passada quinta-feira, para desespero das minhas mais básicas rotinas de higiene. Nem sequer foi a primeira vez em que aconteceu, porque já tinha ficado sem água em duas situações, mas esta experiência foi, sem dúvida a mais marcante. Quanto mais não seja pela preparação física que tem exigido de mim, a mais fiel adepta do desporto do ócio. Como não tenho uma única prova da tragicomédia que tenho vivido – dada minha inépcia natural para equilibrar o transporte de água com poses fotográficas – apelo à vossa imaginação.

Vamos lá, então, todos juntos, acompanhar as minhas mais recentes manobras de diversão sofridas ao virar de uma sexta-feira inteirinha (já há uma semana, destaco ao escrever) a ouvir isto: «Não se preocupe Dona P., vamos resolver a situação». Como a Dona P. preocupou-se, não houve solução para ninguém durante o tempo de um interminável fim-de-semana.

Então foi ver-me a multiplicar viagens ao supermercado (manda a minha relativa normalidade que só tenha dois braços e que eles tenham limitações de esforço); percorrer uns 15 infindáveis minutos debaixo de 30 graus de raios de sol; subir e descer quatro andares de extenuantes escadas e, depois de tudo isto, não poder sequer desfrutar da água para um banho digno desse nome.

Estão a imaginar? Euzinha, com a minha compleição física a acartar garrafões, garrafas e toda a sorte de recipientes capazes de operar um milagre de H2O. O mais ridículo é que poderia ter a ajuda do segurança, não fosse ele um inútil que só sabe dormir e um perfeito incapaz no desafio de perceber o meu dialecto de musicalidade lusíada. Restou-me ver a minha resistência afundar-se, caminhada após caminhada, e a minha carteira esvaziar-se litros atrás de litros. Maravilha!

Cumprida a missão de sobreviver ao fim-de-semana, que incluiu um chá diplomático em minha casa (don´t ask), acordei para a segunda-feira com a missão de não desperdiçar água Caramulo em banhos, lavagens de dentes e descargas de autoclismo. Missão cumprida, nova odisseia encontrada: os técnicos identificaram uma avaria grave na moto-bomba, sistema indispensável por estas bandas porque permite contornar (através de um depósito que funciona ligado a um gerador) as constantes quebras no fornecimento de água. Três dias! Teria de aguentar pelo menos mais três dias sem água.

À falta de melhor, ‘exigi’ que a empresa colocasse bidões de água ao dispor do meu domicílio, exactamente como manda a decoração de qualquer casa angolana que se preze. Cruzei todos os meus dedinhos para terminar a minha segunda-feira com um bom banho e, quando já delirava com uma circulação de água ligeiramente mais abundante do que o borrifar que me tramou a sorte do fim-de-semana, deparei-me com outra tradição cá da banda. Afinal, os belos dos bidões que me esperavam à porta de casa eram ex-garrafões de óleo alimentar, entretanto convertidos em garrafões de água.

Resultado: em vez de líquido incolor, tinha litros e litros de uma solução gordurosa de impacto duvidoso sobre a minha epiderme. Como no frigorífico tinha pouco mais de 1,5 l de Caramulo, já estava em ponto de banheira e podre de cansada (após quatro textos de escrita, dois oferecidos aos estagiários e dois com o reconhecimento da minha assinatura), entreguei-me à exploração das propriedades de uma água com potencial hidratante. Isto para o corpinho, porque os dentes e o cartão de visita facial exigem de Caramulo para cima.

Seguiu-se uma manhã de reivindicações e mais quatro dias de baldes e copos escassos, mas já sem gordura. Percebem agora o orgasmo de banho que tive hoje quando cheguei a casa, não? De tão eufórica que estava, até ofereci uma sessão de cabeleireiro ao meu couro cabeludo, que, coitado, já anda a sofrer que baste com a ausência dos seus franceses de pentear.

2 comentários:

  1. Xiiii! Que cena! Ora aí está uma coisa que me poderia pôr doida!! Bem, que seria de Angola sem essas aventuras todas? :) Onde é que tu estás exactamente? A minnha irmã vai para aí no dia 28 :) Acho q é mesmo para Luanda.
    Besos, guapa! :)
    Iva

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