sábado, 16 de janeiro de 2010

Pelos cabelos

Uns 20 quilinhos e que não pese mais a viagem. Seja ela por uma semana de férias ou alguns meses de trabalho, obriga-nos sempre a esmifrar o espaço entre trapos de vestir, básicos de calçar e utilidades de cosmética e higiene. Uns 20 escanzelados quilinhos, porém ironicamente capazes de derrubar a mais aturada fórmula de arrumação, vergada a subtracções atrás de subtracções.

Nessa incontornável desconstrução milimétrica, primeiro disse adeus a todos os pares de calças (sim, reconheço que de vez em quando dão jeito), depois anulei o meu arco-íris de havaianas (restringido a três solitárias cores), e, finalmente, erro dos erros, assumi que seria mais complicado orientar o elixir bucal, o gel de banho e a minha mão-cheia de cremes do que uns bons nutrientes capilares.

Acreditava eu, na ingenuidade da minha europeizada lógica, que uma temporada em Angola favoreceria mais encontros com carapinhas da pior espécie, e, portanto, uma ampla oferta de cabeleireiros e lojas com os produtos mais indicados para neutralizar rebeliões de cabelos.

Erro dos erros, sublinho ao escrever. Qual titanic das teorias, a minha lógica depressa naufragou, arruinada na primeira ida a um cabeleireiro e nas fracassadas buscas de vendas ao género Martim Moniz.

Como castigo, agora tenho de sobreviver sem os meus franceses de pentear, sofrendo no couro cabeludo o desacerto de uma lógica despenteada por uma profusão de perucas, extensões e demais artifícios capilares. Sem os meus franceses de pentear, com uma água completamente diferente, um sol estorricador e um mar naturalmente aniquilador, a minha cabeleira converteu-se numa passarela de desfiles inéditos de flocos de neve. Tão emproados que também se exibem nos ombros! Raios de caspa!

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