terça-feira, 19 de maio de 2009

Ooopsss*!


Meti o pé na poça. Não no sentido figurado dos termos, mas sim na literal descrição dos acontecimentos. Meti mesmo o pé na poça, traída pelo acumular de uma chuva que me armadilhou a saída do carro. Molhada até ao mais imperceptível dos ossos, arrependi-me de ter deixado que o programa das danças me convencesse a deixar os pés respirarem das botas. Furiosa e enojada, limpei-me com umas abençoadas toalhitas perfumadas e convenci-me de que o surreal da noite ficava por ali. Mas não ficou.

Já de regresso das voltas nocturnas – depois de um oportuno digerir da fome no Magestic (ou Majestic?), de um abanar de danças no Art e de um animar de pista no W – procuro as chaves de casa e começo a inquietar-me.

Reviro a mala e nada. Apenas as chaves do correio e da minha porta de entrada. Da chave do prédio nem sombra. Lembrei-me então da correria de mais uma saída e pensei que só poderia ter agarrado o chaveiro errado. Pensei também que, nove meses depois da mudança, já era altura de resumir as minhas chaves a um só chaveiro, da mesma forma que pensei que, perto das quatro da matina de uma quinta-feira, não seria de bom-tom tocar a campainha de qualquer um dos meus desconhecidos vizinhos.

Então parei de pensar e passei à acção. Como a minha janela da sala costuma ficar ligeiramente aberta, bastaria alcançá-la para encontrar o meu final feliz. Acontece que, apesar de morar numa cave, alcançar a janela da minha sala tem muito que se lhe conte: a dita espreita para um pátio fechado, acessível apenas a quem esteja munido de uma chave que escancare o sempre trancafiado portão de passagem.

Sem chave para a porta do prédio, nem chave para o estratégico portão, lá tive de escalar um muro, agarrar-me ao topo do portão e lançar-me por ali abaixo. Tudo isto acompanhada de uma barulhenta banda sonora que me desaconselha qualquer tentativa de incursão pelas ladroagens da vida. Grata por não me ter estatelado no chão, e por não ter levantado uma vizinhança de protesto policial, preparo-me para o obstáculo seguinte: impulsionar a perna à altura da janela e deslizar o meu corpo por aquela míngua de espaço.

Já com os pés no sofá que, mesmo sendo de madeira estava a jeito para amortecer o potencial de uma má queda, ouço um barulho que poderia ter evitado toda aquela encenação. Com uma precisão desconcertante, no exacto momento em que pisei o chão da minha sala, vejo o trio acertado de chaves cair do bolso do casaco para os meus pés. Alerta imediato: estou a ficar senil! Sim, porque um qualquer excesso de álcool nunca me deixaria fazer metade daquilo que fiz. Já a demência…

*escrita em dia referente à última noite de quarta-feira

1 comentário:

  1. Bem, que grande aventura! Tadinha, deves ter ficado mesmo frustrada!!
    Ainda bem que não estatelaste!! Há que ver o lado positivo da coisa... ui ui.... :)
    Ivana

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