quarta-feira, 4 de março de 2009

Da cidade à serra - Parte II




Já que à dúzia sai mais barato, seguem as 12 passadas que marcaram o ritmo de dois dias pela neve.

On the road
À sorte de quarto por quarto, divididas por um par de quatro rodas, seguimos as centenas de quilómetros que distanciam Lisboa da Covilhã. Nos porta-bagagens, denunciando o termómetro de um destino há muito programado, mantas e agasalhos estrangulavam o espaço com sacos cama, colchões e mantimentos, bem reveladores da economia das nossas idas e vindas. Já noite cerrada, circulavam pelos assentos histórias de uma inconsciência de Carnaval, enquanto um lapso de abastecimento ameaçava apear as nossas expectativas de chegada.

Bôite rima com noite?
Quebrada a dormência dos dias úteis, avistámos o parque de campismo do nosso aconchego, mas não sem antes nos deixarmos enganar pelas curvas ou contagiar pelo cenário de terror adensado pelo caminho. À chegada, pouco depois das 2 da manhã, a pergunta da praxe - «A esta hora onde é que podemos beber um copo?» - encontra uma indicação no mínimo prometedora: «Bôite companhia». Ficou para a próxima.

8 para 4
60 euros por noite e nem mais um cêntimo. Mesmo sabendo que íamos oito para um bungalow de quatro - devidamente apetrechado com os nossos colchões, mantas e sacos cama - o pessoal lá do camping não entendeu por bem inflacionar a factura. Afinal, que culpa tínhamos nós de não haver outro bungalow disponível? Feitas as contas, o alojamento de fim-de-semana gastou 15 euros de cada bolso.

À descoberta
Vestígios de um branco nevado pelo caminho. Paragem para uma sessão fotográfica nas proximidades de um lago. Graças pelos raios de sol que nos aqueceram a travessia. Na subida para a Torre, capital das tropelias na Serra da Estrela, os olhares contemplativos cruzavam-se com os pulsares de ansiedade pelas maratonas de paródia que espreitavam lá do alto. De tão puro, comentava-se que o ar nos sustinha a respiração.

Chamem a polícia
Uau! Vale mesmo a pena suspirar, porque nunca uma rotunda esteve tão bem sinalizada. Têm a certeza que são da GNR? É que nem precisavam de nos mandar parar. Qualquer gaja que levasse o radar de boa masculinidade ligado estava obrigada a travar a marcha. Agora imagine-se 8 gajas! E como os carros ficaram a uns 15 minutos de subida andante para a Torre, nem foi preciso inventar um pretexto para o regresso à rotunda. Ai, o morenaço! Demasiado irresistível para deixar escapar a oportunidade criada por uma ‘inocente’ interpelação do menos morenaço: «Quando estivermos em perigo enviamo-vos um SOS», acautelava eu, abrindo caminho, dois passos adiante, a um pedido de socorro devidamente sonorizado pela Paulinha.

Snowfashion
Avistei o palco e pensei: vamos ver uns modelitos jeitosos para a neve. Pus-me então a imaginar um e outro vestidinho fashion, embora consciente de que nem a mais estilosa das colecções me conseguiria fidelizar à neve. E porque a visita não era de modas, depressa avancei para íngremes deslizamentos, interrompidos por uma pausa para chocolate quente. Nisto, avistei de novo o palco e arrepiei-me toda! Eu, que até sou acusada de ter o meu termóstato sempre acima do ambiente, não consegui que o raio do desfile me aquecesse os sentidos. Corpos despidos definitivamente não combinam com 2 graus de gelo.

Quem caiu mais?
Eu caí, tu caíste, ela caiu, nós caímos…Em dois dias de esquis e escorregadelas, não houve quem não tivesse conjugado o verbo da queda. De tal forma que a doncella Carina decretou logo um período de balda ao ginásio.

Gente daquela terra
Esquecemo-nos do sal! Demos pela falta acabadinhas de chegar do supermercado, mas estava fora de questão fazer marcha-atrás. Lembramo-nos então do armário de bens essenciais, desordeiramente comercializado pelo cafezinho lá do sítio. Pensávamos nós que o papel central do sal na cozinha constituía garantia de venda. Mas não! Lulas enlatadas sim. Podíamos comprar. Agora sal? Nem vê-lo… Não fosse a generosa oferta de uma nativa, e nem o melhor tempero da chef safaria o nosso jantar.

Bancada de pedra
A boa nova chegou-nos logo pela manhã: «Podemos ver o jogo aqui mesmo no Parque». Perfeito! Depois de uma tarde de exploração serrana, desbravar a noite covilhanense em busca de uma cómoda Sport TV tinha tudo para assumir os contornos dramáticos do cansaço. Mas, como ficámos pelo camping, em vez de uma tragédia acabámos por viver uma comédia à antiga. Durou apenas os primeiros 45 minutos de clássico, mas valeu bem mais do que o paupérrimo futebol jogado nas quatro linhas. Afinal, não é todos os dias que se assiste à bola na companhia de um megafone humano. Ele era o árbitro que nada assinalava a favor da sua malta do WC da 2.ª circular; ele era um aniversariante de 86 anos rotulado de ‘Ó da Pide’; ele era a mulher destratada porque ousou pedir-lhe um minuto de silêncio; ele era tudo e todos na mira do seu estado de nervos. Qual cromo da bola resgatado do passado das bancadas de pedra, foi o Sr. Fernando quem proporcionou o melhor espectáculo da noite de sábado.

Ataque de fome
Deu-nos para rir. A mim, à Pipa, à Paulinha e à Vera. Enquanto o estômago desesperava por mais uma das sempre reconfortantes refeições da Doncella chef (abençoada Borja), um ataque de riso compulsivo sacudia vários corpos. Numa avalancha de piadas, provocações, e tiroteios fictícios recuperados da infância, aparvalhámos tanto, mas tanto, que não faltou sequer o típico lacrimejar de escárnio.

Quantos são?
30. Perceberam bem. São TRINTA! Este é o ano em que a galera de 79 (eu incluída) despede-se dos ‘intes’ para se estrear nos ‘intas’. No domingo, a vez foi da Cátia e o momento exigiu um bolo-surpresa. Muitos anos de vida!

Aparições
Primeiro, logo no Parque, chegou o André Silva. Afixado num cartaz altamente pimba, ostentava uma sugestiva apresentação: ‘o rapaz do espeta o pau’. Parei para rir enquanto imaginei o pau que o rapaz teria para espetar. Depois, já no topo da Serra, reconheço num tipo cheio de pinta os bons ares de um dos manos Guedes. O problema é que na minha geografia financeira, o tipo nunca poderia ser um dos gémos fashion da Tuga. «Pois, pois! Eles são mais estâncias de esqui além-fronteiras», pensava eu. Puro engano! E não é que o Ricardo Guedes seria um dos manequins responsáveis pelos meus calafrios? E como não poderia haver duas sem três, a terceira grande aparição do fim-de-semana rendeu uma queda aparatosa da Doncella esquiadora. Mas tudo por uma boa causa: «Vi o homem da minha vida», apregoava a Sónia já no regresso, ainda mal refeita das emoções.

2 comentários:

  1. Para o ano haverá concerteza mais histórias para contar sobre a neve :) Verinh@

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  2. Só para o ano mesmo! Baiana que é baiana vive de Sol ;-)

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